[sc:review nota=3]

Um episódio cheio de dados desencontrados e informações pela metade que nem com o que já foi exibido até agora é suficiente para fazer qualquer juízo. Dá para ter certeza que a Nona está planejando algo que o Oculus não pode saber e que tem pouco tempo para concluir seu plano, mas tudo isso já era sabido de antes, de uma forma ou de outra. A informação nova e importante é que humanos em julgamento e juízes são fisicamente iguais: ambos são bonecos. Claro que eu posso ter entendido errado essa parte, mas vou fazer essa aposta. No meio disso tudo, a Mulher de Cabelo Preto se lembrou que um dia foi viva. A história dela não é a história desse purgatório onde as almas são julgadas, mas esse pequeno acontecimento para a Mulher de Cabelo Preto, desconectado de todo o resto do episódio, está ali para dizer que ela é a pessoa mais importante do anime e que provavelmente tudo irá acontecer no final em função dela, tenha sido esse o plano da Nona ou não.

Juízes nunca experimentaram a morte, são bonecos e portanto sem emoções, e jamais podem parar de julgar pois essa é a razão de sua existência. Eles nunca terem morrido é quase uma obviedade, e dizer que juízes existem para julgar é quase um pleonasmo. E o juíz protagonista, Decim, de fato parece não possuir emoções boa parte do tempo. Não obstante, essas afirmações têm, pela boca de Oculus, o peso de regras. Não é assim porque é óbvio que é assim, é assim porque foi feito para ser assim. A essa altura do anime acho que isso serve mais para lembrar o espectador que os julgamentos são daquela forma mas poderiam muito bem ser de qualquer outra forma (ou seja, são totalmente arbitrários). Conforme a história avançar certamente isso terá implicações mais diretas no enredo.

Pensar mais profundamente em cada regra faz mais coisas saltarem aos olhos (e mais dúvidas surgirem na mente). Se os juízes nunca morreram, significa que foram criados, afastando qualquer hipótese de que sejam seres humanos mortos em quaisquer circunstâncias. Não que eu acreditassem que pudessem ser humanos, mas vi algumas teorias assim por aí. Não nasceram e não morreram, mas isso não significa que sejam imortais – e acho essa constatação muito importante. O que eles são é explicado noutra regra: bonecos. Como todos os juízes, aparentemente, podem criar bonecos e dar vida a eles, resta a dúvida sobre quem criou o primeiro boneco, o boneco original, o Adão dos bonecos. É tentador acreditar que seja o Oculus, mas será que foi ele mesmo? Ele certamente parece diferente dos demais. Tem flores na cabeça e é idoso (todo mundo ali, juíz ou responsável por qualquer outra função, é adulto). E claro, até que se prove o contrário é o líder do lugar e também o “mais próximo de deus”, segundo suas próprias palavras. Então talvez ele não seja um boneco. Ser ou não ser um boneco, contudo, não basta para que ele seja o criador original. O próprio fato dele se considerar próximo a deus, mas não o próprio deus, praticamente sela a questão do criador original contra a hipótese Oculus. O que ainda não descarta que ele tenha criado direta ou indiretamente todo mundo que está ali agora. Basta que todos os que eventualmente já existissem quando ele chegou tenham ido embora de uma forma ou de outra.

E juízes não têm emoções? Por favor. O único que a maior parte do tempo parece não ter emoções é o Decim, mas mesmo ele já demonstrou sentimentos bastante humanos mais de uma vez. Ele parece apenas ser o tipo introspectivo. Os demais personagens que tiveram tempo suficiente de tela provaram sem necessidade de nenhum esforço argumentativo que possuem emoções. Nona, Ginti, e até Clavis e Queen, todos eles vivem demonstrando emoções ou pelo menos já fizeram isso de forma indiscutível em algum momento. Não fossem emoções, por sinal, não faria sentido que Nona tivesse motivos para planejar algo aparentemente proibido por ali. Você vê, Decim e Ginti (nunca fica claro, mas aposto que são os dois e não só o Decim) foram criados com emoções humanas. Suponho, pela Nona. Mas se outros, como a própria Nona, teoricamente criados para não ter emoções ainda assim as possuem, o que quer dizer que Decim e Ginti tenham sido criados desde o começo para terem emoções, e emoções humanas ainda por cima? Vou falar sobre outro assunto antes de responder essa pergunta.

Os juízes são bonecos. E os humanos ali sendo julgados também, ou pelo menos os seus corpos. Essa é a implicação das palavras e do hobby do Decim. E faz sentido. Apenas as almas humanas devem chegar no pós-vida, onde elas ganham um corpo idêntico ao que possuíam em vida (os juízes são exímios bonequeiros, afinal) e têm suas memórias adulteradas. Seus corpos são falsos e suas memórias fragmentadas na forma de cristais e falsificadas. Exceto por uma alma, não há diferênça sensível entre humanos e juízes. Respondendo a pergunta do parágrafo anterior: acredito que almas ou fragmentos de almas ou memórias tenham sido usados na confecção de Decim e Ginti. Por quê? Sei lá. Pode ser qualquer coisa. Talvez a Nona seja apenas doida de linguiça. Claro que não acredito nisso.

Voltando um pouco mais, os juízes não são imortais. São bonecos. Assim como os corpos humanos são descartados após o julgamento, os corpos dos juízes devem ser descartáveis também. Mas para juízes isso é muito pior do que para humanos, afinal para humanos o corpo é apenas uma casca para a alma, enquanto para um boneco o corpo é tudo o que ele é. Será que os juízes morrem? Como são bonecos, eles certamente não envelhecem. No episódio 5 a Nona disse, enquanto conversava com Oculus, que em determinada situação ela poderia ser demitida. Se ela é uma boneca cujo único propósito é julgar, o que acontece se ela for demitida? Então eles não envelhecem mas podem ser demitidos, e vou aqui apostar que ser demitido implica ser descartado. Nona disse que seria demitida se relaxasse. Isso não quer dizer muita coisa. Bom, eles parecem ter um problema crônico de excesso de almas, imagino que se a Nona relaxar os julgamentos devam piorar ou as almas possam se acumular em algum lugar aguardando o julgamento, rendendo a ela uma demissão “por justa causa”.

Ainda que não esteja “relaxando” (bom, na verdade o Oculus pegou a Nona dormindo depois de beber com a Queen e não pareceu feliz, creio que isso possa ser enquadrado em “relaxar”, mas situações assim devem ser incomuns), para Nona o tempo está acabando. Que tempo? Tempo para quê? Para concluir seu plano, certamente. Aquele que envolve juízes com algo de humano neles. Qualquer coisa que eu disser além disso é pura especulação (e mesmo até aqui eu cheguei preenchendo alguns vazios com especulações). Vou especular então. Não necessariamente eu acredito no que eu próprio irei escrever daqui por diante, são apenas hipóteses:

  • Talvez Ginti e Decim contenham almas humanas inteiras que Nona não tenha julgado (como Decim não julgou a Mulher de Cabelo Preto e como Ginti não julgou Mayu), e instalar tais almas em juízes é apenas uma maneira bastante complexa de julgá-las.
  • Conforme folclore japonês, quando um objeto atinge 100 anos ele adquire vida. Os juízes são bonecos, portanto objetos. Adquirirem vida seria nesse caso equivalente a adquirirem alma, e talvez isso não seja permitido a eles, de forma que sejam descartados e destruídos antes disso. Nona já é gerente há 82 anos. E deve ter sido juíza antes disso por alguns anos também. O tempo dela literalmente estaria acabando.
  • O que Nona pretende, na hipótese do tempo acabando ser o tempo de vida dela (independente da teoria dos 100 anos)? Talvez apenas provar um ponto ao Oculus, com juízes com algo de humano, para evitar o seu próprio fim.
  • Ou talvez o que ela pretenda seja criar um juíz capaz de julgar os juízes. Algo parecido com Psycho-Pass 2, mas melhor executado.

Qualquer que seja o caso, é o desenvolvimento da Mulher de Cabelo Preto que ditará o resultado final. Em algum momento as mudanças na própria Mulher de Cabelo preto irão causar ou catalisar mudanças primeiro no Decim, depois em todo o resto desse purgatório, quer tenha sido esse o plano da Nona ou não. E pode ou não colaborar para o final que ela deseja. Isso pode soar apenas hipótese também, e é, mas nessa aqui eu acredito e boto fé.

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