[sc:review nota=5]

Fui atacado por spoilers antes de assistir esse episódio, então não sei se reagi a ele exatamente da mesma forma que alguém que tenha assistido normalmente, sem spoiler. Mas bom, por mais que eu deteste spoilers, devo admitir que os quais fui sujeitado antes desse episódio eram, para alguém atento, previsíveis. A maioria das pessoas não é atenta o bastante para isso, anime é só um entretenimento como outros tantos afinal, e entretenimento é só mais uma coisa no dia entre tantas outras no dia de alguém. Assim, embora eu não ache o spoiler em questão admissível e continue condenando spoilers em geral, reconheço que eu, como alguém que, mesmo que seja por hobby, tenha tomado para si a responsabilidade de semanalmente acompanhar Kiseijuu com mais atenção que uma pessoa normal justamente para poder produzir conteúdo relevante a respeito, acabei fracassando e por isso peço desculpas a você e a todos os meus leitores. Felizmente, como também me disseram, embora chocante o tal spoiler era apenas um detalhe no episódio.

Gotou massacra todos no edifício exceto o Uragami. Deixou o presunçoso líder do desastre por último, mas nem ele escapou. Como único sobrevivente entre os ghouls, Gotou parece ter chegado à conclusão que o propósito da vida dele é matar. Não muito diferente do assassino que matou o detetive que o acompanhava e parece ter conseguido escapar também. Parasita e humano que vivem para matar. A reviravolta nessa parte do episódio foi o Hirokawa ser um humano. O prefeito aliou-se a parasitas perfeitamente ciente do que eles eram e sua intenção era mesmo que eles matassem seres humanos. Eu poderia falar muito sobre ele, mas ele é bem simples, na verdade: um ecologista fanático que acha que qualquer forma de proteger a natureza passa primeiro por reduzir drasticamente a população humana. Ele defende que o ser humano apenas ocupe seu local na natureza ao invés de querer governá-la, mesmo quando faz isso sob o pretexto de protegê-la. Não é diferente do que pensam algumas pessoas hoje, de verdade.

Durante a fuga, Gotou reencontrou e reconheceu Shinichi e decidiu que deveria matá-lo também. Mas como ele já devia estar cansado da luta no edifício e ainda haviam muitos policiais do lado de fora, ele fugiu, mas deixando a certeza de que voltaria para matar o protagonista. Shinichi fica com medo como há muito tempo não ficava (talvez desde antes de Migi aparecer, quando ele ainda sentia esse mesmo tipo de medo visceral de aranhas) e até mesmo Migi fica com medo, a seu modo. Quando Migi adormece Shinichi torna-se paranóico por não ter mais como saber quando Gotou estiver próximo. Ele está tão assustado que ao encontrar Murano ele a abraça sem nem pensar e a aperta com tanta força que a machuca. Ela percebe que ele está diferente, e ao longo do episódio parece achá-lo mais humano, talvez humano como ele era antes de Migi surgir, quando ele ainda sentia medo de aranhas.

Mas o que é ser humano? Shinichi sempre traçou uma distinção entre humanos e animais, insetos ou monstros (como os parasitas). E ela residia no fato de seres humanos serem capazes de emoções complexas. Murano reconhece Shinichi como humano de volta quando ele está sentindo medo. É bem verdade que ele há muito tempo não sentia medo assim, mas é esse medo humano? Todo animal com um sistema nervoso um pouco mais desenvolvido é capaz de entrar em pânico ou sentir algo semelhante a medo quando sente sua vida ameaçada, e é o caso de Shinichi. Então, agora que Shinichi está se comportando de forma mais primitiva, mais animal, é que ele voltou a ser humano? É uma conclusão complicada porque então implicaria que Shinichi havia mesmo deixado de ser humano, mas ele discutia com Migi esse tempo todo exatamente porque ele se considerava humano, e Migi, um inseto, um monstro sem emoções. Mas aos olhos de Murano, era ele quem parecia não ter emoções! Como assistimos o anime do ponto de vista do Shinichi, mesmo sabendo que ele está sim diferente inclusive em nível emocional, sabemos que ele não está sem emoções e é bobagem o que a Murano diz, chega a ser irritante em várias ocasiões. O problema é ficar o tempo todo tentando classificar o que é homem e o que é animal externamente mas baseado em algo subjetivo e íntimo como sentimentos e emoções. Por tudo o que importa para Kiseijuu, homens são animais, nada mais e nada menos.

Mais tarde Shinichi reconhece isso ele próprio, quando convidado por Murano os dois acabam fazendo sexo. Ele sentiu, ele percebeu o quanto suas emoções eram primitivas, instintivas, e entendeu que ele não era diferente de um animal. Também quando sente medo ele não está sendo diferente de um animal, ou para o que importa, de um parasita: ele só quer viver. Com a mente clara o bastante para perceber isso Shinichi se assume animal e decide que irá viver, que irá lutar para viver, custe o que custar. Isso encerra minha análise do episódio e aqui começo a especular sobre o sexo entre Shinichi e Murano.

A decisão de Murano de convidar Shinichi para sua casa foi, tudo indica, por impulso. Os dois eram virgens e não tinham plano nenhum para deixarem de ser. A Murano vive oprimida pela sociedade machista japonesa, de forma que duvido muito, muito mesmo, que ela tivesse um preservativo ou tenha casualmente comprado um com Shinichi no caminho para sua casa. Shinichi, por sua vez, era um banana e só deixou de sê-lo quando passou a ter preocupações demais na vida para se preocupar em comprar preservativos para a inesperada situação que lhe ocorreu nesse episódio. Para mim, eles transaram sem camisinha. E aí vale perguntar: terá Murano engravidado? Quero dizer, mesmo no período mais fértil de uma mulher, a chance de engravidar é pequena (se me lembro do que já li a respeito, menos de 20%), mas existe. Isso é relevante? É sim! No começo da série havia muita especulação sobre de onde viriam os parasitas e como eles poderiam se reproduzir, principalmente vindo da então professora Ryoko Tamiya (mais tarde, Tamura). A própria faz um experimento no qual engravida de outro parasita. Eles não fizeram nada que um humano não faria e seu filho resultou, como não poderia deixar de ser, humano.

Mas agora é diferente, Migi sabe muito mais do que Tamura sabia quando ainda era Tamiya. E mais do que isso: ele está assustado, como Shinichi. Os dois podem muito bem estar caminhando para sua inevitável morte. E justo agora que não há mais muita diferença entre Shinichi e Migi. Ou talvez justamente porque agora não há mais muita diferença entre Shinichi e Migi. Shinichi aceitou seu lado animal, o que implica que ele também aceitou plenamente Migi. Como eu sempre disse, essa era uma história de crescimento pessoal do Shinichi e ela só chegaria ao fim quando ele entendesse e aceitasse Migi. Só que a proximidade da morte e o sexo com Murano podem levar Migi a agir para se preservar e para preservar Shinichi. Como? Tamura está morta, mas através de seu bebê ainda vive. Esse é o sentido natural da vida. Tamura entendeu isso no final, e Migi pode já ter entendido isso também. E a vantagem de Migi começa aqui: como ele sabe mais do que Tamura sabia quando engravidou, ele provavelmente deve ser capaz de, caso queira, embutir seu próprio código genético em um hipotético embrião gerado no ventre de Murano. Mais ainda: como eu disse, a chance de engravidar não é grande mesmo quando está em seu pico, mas Migi pode dar ordens para pedaços de si antes de se separar deles, e pode muito bem ter enviado uma célula, ou grupo de células, com a missão de garantir a fecundação e garantir que seu próprio DNA também se transfira para o embrião. Com isso, Shinichi e Migi cumpririam seu objetivo de vida e poderiam morrer, desde que garantam que o próprio Gotou morrerá também.

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