Assassination Classroom – ep 15 – Mais um confronto entre o Professor e o Diretor
[sc:review nota=4]
Me pergunto se no mangá a essa altura os Cinco Grandes já haviam sido apresentados. No anime sem dúvida foi um pouco em cima da hora, mas não chega a incomodar porque eles são apenas um obstáculo, não se espera nenhum desenvolvimento deles e portanto nenhuma surpresa também. Enfim, os Cinco Grandes são os melhores alunos da Turma A – Acelerada e seu líder e também presidente do Conselho Estudandil (lógico) é filho do diretor (lógico também), e agora que se aproximam as provas finais eles irão fazer de tudo para levantar a média da sua própria classe. Do outro lado do ringue (ou da arena de gladiadores, como racionaliza o Nagisa) está a Turma E, a Turma do Fim, e o professor Koro faz uma bela proposta para motivá-los. Há muitas semelhanças de forma entre os dois lados, mas há ainda mais diferenças. No final, qual das duas turmas e filosofias irá emergir vencedora?
Há muita coisa em jogo. O professor Koro prometeu aos seus alunos que para cada maior nota da escola em uma das cinco disciplinas ele irá deixar que lhe acertem um tentáculo (o que já sabemos que o deixa mais lento), e mais um tentáculo para cada maior nota geral (ou só para a maior geral? se a 3-E milagrosamente ocupar os 10 primeiros lugares gerais, serão 10 tentáculos? bom, creio que isso seja detalhe irrelevante para a narrativa). O diretor Asano não parece que irá desleamente prejudicar a 3-E dessa vez, o que é razoável se ela é a turma dos realmente piores de toda a escola, e não só um grupo aleatoriamente selecionado (embora o método dele possa ser aplicado nos dois casos). E também não promete nada para a turma 3-A quando seu filho vem conversar com ele. Ele exige resultados sem prometer nada em troca (e ele exige nada menos que os 50 primeiros lugares gerais, o que deve significar a turma inteira ou algo muito próximo disso). Longe de prometer, seu tom é de ameaça o tempo todo; não chega a fazer nenhuma ameaça em específico, mas a forma como trata seu filho (dizendo que quer torná-lo um escravo corporativo até o fim da vida, por exemplo) pode ser entendida como uma ameaça. Não que Asano Júnior seja muito melhor. Ele também pretende dominar seu pai de alguma forma – e a oportunidade que ele vê é descobrir o segredo da turma 3-E, razão pela qual embarca gostosamente no duelo contra a pior turma da escola. Agora, eu sei que isso pode gerar uma boa semente de conflito futuro, mas não acho que ele irá descobrir o segredo (pelo menos não agora), o que implica que sua turma irá perder para a 3-E. A não ser que o próprio professor Koro de alguma forma consiga anular o contrato de servidão que o Júnior pretende impôr a sua turma caso vença.
De uma forma perversa, a relação entre os Asanos é parecida com a que o professor Koro tem com seus alunos. Em ambos os discípulos buscam superar o mestre, o que é até onde eu entendo um tema cultural muito comum no Japão (e, creio, em outras culturas orientais). O que diferencia uns de outros é a relação entre mestres e discípulos, que é de atrito no caso do diretor e seu filho, e de cooperação no caso da turma 3-E. Isso molda a própria forma de pensar dos discípulos e o resultado é visualmente mostrado no final do episódio, com ambas salas já começando a prova: enquanto os Cinco Grandes estão dispersos, a turma 3-E é retratada como uma frente unida por um objetivo comum. Pela ordem natural das coisas discípulos sempre superarão mestres, nem que seja apenas no tempo cronológico que não falha em levar cada alma, por isso temo que uma relação conflituosa tenda à solução simples de evitar, atrapalhar propositalmente o crescimento dos discípulos. Criar um ambiente de competição insana com penas altas e pouca ou nenhuma recompensa me parece ser exatamente esse caso. O diretor Asano diz fazer isso para melhorar seus alunos, e exibe números que comprovam isso (95% deles seriam alunos de elite quando comparados a outras escolas, e seus alunos têm maior chance de conseguir as melhores vagas ao prosseguir em suas vidas acadêmicas), mas na minha opinião um sistema assim é simplesmente insustentável. Com uma só escola e essa fama que ele construiu me parece óbvio que ano após ano ele vem atraindo os melhores alunos, assim a escola Kunigigaoka tem uma vantagem sobre as demais escolas logo na partida. Se generalizado duvido que esse sistema opressor seja capaz de repetir as mesmas taxas de sucesso. Por investimento demais, me parece que o resultado seria na melhor das hipóteses marginalmente superior. E estaria retroalimentando uma sociedade formada por Asanos Júniores, quem eu acredito não precisar gastar linhas aqui para explicar porque é uma pessoa imoral.
Tudo isso não quer dizer que o professor Koro seja perfeito, bem longe disso. E para deixar claro, o Karma fez o favor de dizer nesse episódio que ao pressionar seus alunos por resultados estava se tornando mais próximo a um professor normal – e com normal ele quer dizer os professores que dão aula segundo os métodos do diretor Asano. É um exagero dele tendo em vista que ninguém está sendo ameaçado, o professor está oferecendo uma bela recompensa para eles caso tenham sucesso, e os métodos de ensino continuam personalizados e humanos de acordo com as necessidades de cada aluno. Mas a mudança de ritmo e a insistência certamente são perceptíveis e causam a pressão que dá a sensação de que o professor Koro está agora mais parecido com um professor normal. Será que depois de um, dois ou vários fracassos qualquer professor não viraria alguém parecido com Asano (ou Takaoka) caso ainda tenha a intenção de obter resultados? A alternativa parece ser desistir de obter qualquer resultado. Será que o professor Koro é alguém que já tem experiência prévia com educação para podermos saber que ele não cedeu e provou a existência de uma terceira via? Ou essa lacuna permanecerá para sempre sem ser preenchida por causa da forma como o cenário de Assassination Classroom foi construído? Ou o autor conseguirá contornar essa limitação de cenário? Porque é fácil dizer que com boa vontade qualquer professor faz qualquer aluno ter sucesso, mas não é realista. Se essa é uma obra sobre educação seria interessante ver o que ela tem a dizer sobre isso.