Segundo artigo da minha série de primeiras impressões. No anterior tratei de Gangsta, Game of Laplace e Okusama ga Seito Kaichou!, dê uma lida nele se ainda não o tiver lido.

Não deu para ter uma ideia bem formada sobre do que se tratarão, afinal de contas, Gate e Classroom Crisis. Symphogear GX por outro lado, inclusive e principalmente por ser uma nova temporada de uma franquia já estabelecida, é bem menos misterioso. Gate é sem dúvida um anime militar e tenta ter uma dose de humor, embora não tenha funcionado muito bem nesse primeiro episódio. Classroom Crisis não consigo dizer o que ele seria “sem dúvida”. O primeiro episódio tem uma dose razoável de ação, mas muito me faz crer que esse não será o tom da série, o que me deixa com a dúvida de qual será, então, esse tom. Symphoger GX é só questão de descobrir o vilão e suas motivações, o que já começou a ser feito nesse próprio episódio (a menos que haja um vilão por trás do vilão, o que não é impossível). Mas bom, chega de generalizações. Leia a seguir minhas opiniões sobre cada uma dessas estreias:

Gate, episódio 1 – Glorificação militar?

A abertura do anime (com uma cena de um soldado salvando o povo da terra que estão invadindo, entre outras) deixa a impressão que esse anime é uma homenagem às Forças de Auto-Defesa do Japão (o “exército” japonês). O desenvolvimento do episódio é um pouco menos claro quanto a isso, mas no geral também passa essa impressão. O protagonista pode ser um otaku assumido e um egoísta que tudo o que faz é pensando primeiro em si, segundo em si e terceiro em si, talvez nas outras pessoas, mas ele foi a pessoa que, sozinho, avaliou corretamente a gravidade da situação durante a invasão das criaturas fantásticas à Tóquio (enquanto outras pessoas no mesmo lugar que ele sequer perceberam que algo estava acontecendo) e graças a isso pôde salvar um grande número de pessoas. O objetivo dele era bem mais mesquinho: só queria que o incidente acabasse logo para que um evento de doujinshis que ele estava indo não fosse cancelado. Depois de uma grande negociação política no Japão se chegou a uma decisão praticamente unânime: invadir o mundo além do portal de onde veio o exército fantástico. A Constituição japonesa pós-segunda guerra não permite que o país use seu poder bélico para ataque, apenas para defesa, não sei se permitiria atacar uma nação estrangeira que houvesse atacado o Japão antes (assim sendo uma espécie de “defesa preemptiva”), mas isso não importa porque não foi essa a lógica usada: resolveram anexar as terras além-portal como parte do Japão. E se são parte do Japão, lógico que as Forças de Auto-Defesa podem atuar, certo? Eu acredito que essa tese é ainda pior que a da defesa preemptiva e remete ao passado imperialista, quando nações anexavam novas terras por elas “descobertas”. O fato de ter havido a troca de primeiro-ministro entre a decisão e o efetivo envio das tropas indica que essa foi uma decisão com apoio de ampla porção do espectro político, o que, se não for uma crítica ao próprio sistema político (e até agora não foi), apenas corrobora a hipótese imperialista. O apoio americano é a cereja no bolo.

Eu não estou aqui dizendo que o Japão não tenha o direito de se defender de eventuais ataques. Acho indiscutível que tenha sim esse direito. Estou é apontando o que considero controvérsias no discurso adotado pelo anime tendo a defesa da nação como justificativa. Por outro lado, achei divertido de assistir. Quero dizer, considerações políticas e éticas à parte, eu particularmente sou atraído pela estética militar. E pela fantástica também, então estou ganhando dos dois lados aqui, hehe. Mas sobre o que exatamente será a série ainda não sei dizer. Não acredito que será uma história sobre movimentos militares e batalhas entre um exército contemporâneo e um exército fantástico. Acho que isso existirá sim, mas como apoio, plano de fundo. Parece que quem conhece o original está dizendo por aí que isso é um harém, e se for, dependendo como for, pouca coisa poderia me decepcionar mais. Será que do outro lado tem garotas com orelhinhas de gato? Com certeza tem!

Classroom Crisis, episódio 1 – Clone da Rei salva o dia (ou não)

Um figurão sequestrado por um grupo de trabalhadores em greve de uma mina em um asteróide que está para ser fechada, e que por acaso é o novo aluno transferido para a turma A-TEC, uma espécie de turma de curso técnico de nível médio capaz de construir naves espaciais super velozes. Há um clima tenso no alto escalão porque, enquanto o valor cobrado de resgato não é alto (eles não sabem que sequestrarem alguém tão importante) o prazo é ridículo, impossível de cumprir. Isso é um absurdo por si só, não faz sentido eles cobrarem um prazo que obviamente não pode ser cumprido. Seria como se alguém exigisse que em meia-hora um determinado objeto fosse movido do Rio de Janeiro para São Paulo. Não importa o quanto você seja uma pessoa comum, pouco informada, você sabe que isso é impossível e não vai exigir isso a menos que não tenha qualquer intenção que sua exigência seja mesmo cumprida. Infelizmente, os sequestradores pareciam querer que o dinheiro fosse enviado sim, então no quesito lógica Classroom Crisis começou mal.

Naturalmente, diante da inação dos grandões, a própria classe decidiu resolver isso sozinha, usando sua novíssima e ainda não testada nave espacial. O professor estava literalmente tremendo das pernas então Iris, a clone da Rei que mencionei no subtítulo, fez o que um clone da Rei faria e foi sozinha sem avisar ninguém. Ela teve sucesso, como não poderia deixar de ser, porém a nave foi completamente destruída. O garoto sequestrado, contudo, já havia conseguido resolver sozinho o problema de seu sequestro – sem gastar a fábula que a nave destruída representou. Uma apresentação adequada, ainda que tudo tenha sido um pouco conveniente demais, para um novo aluno que na verdade é um diretor da companhia que é dona da escola e que foi enviado para a turma com a missão específica de reestruturá-la para que deixe de ser um poço sem fundo de recursos.

Foi um episódio divertido de assistir, e se queriam, e eu sei que queriam, que eu odiasse o aluno novo, conseguiram com louvor. Mas me pergunto qual será a história a partir de agora: um dia a dia da turma tentando fazer suas coisas de jovens inventores malucos enquanto o aluno-diretor fica de olho em tudo criticando e vetando o gasto de um clipe de papel que seja? Isso não parece muito divertido. E pense bem o resultado óbvio: no final ele acabaria convencido pelo poder do amor e da amizade que a A-TEC deve continuar torrando bilhões. Parece incrivelmente chato. Mas não dá para saber ainda o que vai ser ao certo, então espero que não seja isso.

Symphogear GX, episódio 1 – Dane-se o Himalaia

A cena inicial do episódio é muito divertida e remete a uma época diferente da relação do Homem com a natureza, quando essa era considerada apenas um obstáculo. Veja, para salvar dois homens vivos e uma mulher morta as garotas vestindo symphogears destruíram florestas e mudaram a geografia de uma área imensa. Tudo isso em tom épico. Eu ainda acho que era mais jogo elas entrarem na nave e tirarem as pessoas de lá (e o caixão) e deixarem todo o resto se estatelar no chão. Pelo menos teria sido um acidente. Em área não povoada, porque sim, essa preocupação continua sendo atual. Mas não estou criticando, só dizendo que é incomum pensar dessa forma nos dias de hoje. No anime a execução ficou muito boa.

Depois da temporada anterior Maria e suas duas companheiras mais novas perderam seus symphogears, e Maria em particular está sendo escoltada e forçada e trabalhar como idol, suponho que apenas para que possam manter ela sob estrita vigilância. Enquanto suas irmãs mais novas estão bem e livres acho que ela não se importa tanto assim. Mas um novo vilão surge atacando Maria em Londres e … fazendo uma confusão que ainda não entendi o motivo no porto de Yokohama. A nova vilã já se revelou para a Hibiki e parece ser a filha de um alquimista queimado durante a idade média na Europa ou algo assim. Bom, a história em Symphogear nunca importa, a diversão toda são seus combates bem coreografados e suas armaduras criativas, tudo ativado pela música que as garotas cantam enquanto lutam.

  1. Te garanto uma coisa, humor é uma das coisas que chamam menos a atenção em GATE e pode ter certeza que se ele seguir como está seguindo no mangá (o que acho FUCKINGJESUSCRISTING difícil), ele vai ser polêmico a um nível ao qual HOTD foi… E não sei se o governo Japonês tá de boas (tudo bem que é um história que incentiva o orgulho nacional, mas vamos ver como que vai rolar…)

  2. <<>>

    Para ficar mais claro, a teoria correta se explica no mangá, pois a o que o Japão faz é uma medida de defesa, não contra o Império Unido (nome das forças fantásticas que invadiram Akihabara), mas contra os Estados Unidos, China e Rússia que cresceram o olho quanto a uma “nova terra” (que não precisa ser um gênio em política para entender “nova terra” = “novos recursos”). Cada país tem sua motivação para querer uma parte do que tem além do portal e isso já foi discutido em outros fóruns sobre o mangá… MAAAAAAAAAAAAAAAAAAS isso tudo depende de uma simples coisa, algo que passa quase despercebido na maioria dos casos: Que o anime SIGA COM FIDELIDADE O MANGÁ :v

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      A motivação eu certamente posso entender, o que estou apontando de forma crítica é a justificativa dada e o que o tema em si representa para o Japão do mundo real, não o Japão fictício da obra.

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