[sc:review nota=2]

O episódio inteiro construiu cuidadosamente a tensão. Talvez nem todo mundo tenha percebido, mas eu percebi, e quem acompanha meus artigos sobre Charlotte e me leva à sério também percebeu: esse episódio era a hora da virada. Esse era o episódio que a irmãzinha do Yuu ia deixar de ser apenas a pirralha super alegre irritante que adora molho de pizza para ser parte do enredo central do anime. As pistas, na verdade, vinham desde o episódio anterior, então mesmo antes do primeiro minuto de Charlotte eu já estava tenso. E como esse episódio continuou exatamente de onde o anterior parou, e no mesmo tom, eu não consegui me acalmar por um instante sequer. O resultado foi chocante, e não digo isso de uma forma positiva.

Antes de escrever esse artigo eu por acaso li um mangá do Inio Asano. Não vou dizer qual porque não importa, acho que para o propósito de eu mencioná-lo aqui qualquer um serviria. Há meses eu não lia mangá nenhum. Mesmo assim, juro que foi pura coincidência. Trombei com uma imagem desse mangá e simplesmente tive que lê-lo. E sabe, há algo em comum entre histórias do Inio Asano e esse episódio: o pessimismo. Os dois não têm nada a ver, na verdade, é apenas o pessimismo enquanto conceito abstrato, e da forma mais abstrata que você puder imaginar. Inio Asano fala sobre a vida com pessimismo. Suas histórias são pessimistas (não li todas, mas todas que eu li são). A tensão desse episódio e a necessidade de uma virada na história me deixaram pessimista o episódio inteiro – algo ruim iria acontecer, felicidade não seria o bastante para o até então episódico e relativamente otimista Charlotte. Tem a história do irmão da Tomori, eu sei, mas aquilo é passado, é o que constrói o personagem dela, não é de verdade algo presente, uma ameaça ou desespero que afetem o dia a dia dos personagens de forma visível. No que importa, descobrir, desmascarar e forçar a ficarem quietos os mutantes, Charlotte vinha sendo bastante feliz. Por isso, só a infelicidade servia para esse episódio.

A infelicidade e o pessimismo aproximaram a experiência desse episódio a uma história de Inio Asano. Mas Inio Asano conta histórias comuns sobre gente comum, que fracassam em se conectar em suas limitações humanas, que percebem tudo tarde demais, que são vítimas constantes das circunstâncias que as cercam. Felicidades efêmeras e tristeza desesperadora decoram o caminho angustiante de suas histórias. Você sabe que algo ruim vai acontecer, você enxerga isso a quilômetros de distância. Nesse episódio de Charlotte, eu tive sucesso em ver a desgraça se aproximando. Mas o que foi que aconteceu, no fim das contas?

Novos personagens foram apresentados, aumentando a incerteza sobre o que iria acontecer, mas era tudo despiste: foi mesmo a Ayumi quem desenvolveu um novo poder, e como eu previ, um poder terrivelmente poderoso, e acho que citei isso entre as possibilidades, se não citei apenas acredite em mim quando eu digo que eu pensei, um poder perigoso demais para sua própria usuária – Ayumi. A irmãzinha que, exceto por pesadelos premonitórios, não tinha a menor ideia de que estava a ponto de despertar um poder. Talvez seu irmão devesse ter jogado aberto com ela desde o começo? Dito algo como “Ayumi, pode ser difícil pra você entender, mas eu tenho um poder; na verdade, estamos em uma escola cheia de mutantes, tipo X-Men, e uma coisa que sabemos é que isso é potencialmente genético; também sabemos que há alguém com poder nesse prédio e que com certeza é alguém que faltou à aula, e não existem muitos nessa circunstância, então a chance de que seja você é alta; por fim, não sabemos qual é o poder, mas seu nome é sinistro; por tudo isso estou preocupado e você deveria tomar o máximo de cuidado possível”. Talvez ela não tivesse fugido de casa naquele dia ouvindo isso, quem sabe? Mas não era isso que o anime queria.

A intenção desde o começo era chocar. Por isso apresentaram um trio de ginasiais que provavelmente nunca mais irão aparecer na história. Eles não são importantes. Entre eles, um moleque que é jovem mas já é um perfeito idiota, e uma garota que é uma psicopata. Ei, é difícil encontrar grupos de crianças assim, não é? Que coincidência maravilhosa que a Ayumi pôde encontrá-los, porque isso preparou as condições perfeitas para o desastre que viria no final do episódio. Veja, em Inio Asano isso é método, é uma filosofia, uma visão de mundo. Em Charlotte, episódio 6, foi uma ferramenta de roteiro. Foi pelo valor de choque. Tanto que a cena final pós-créditos é completamente críptica sobre o desfecho dos irmãos. O Yuu não pode ter morrido, mas será que se feriu? Será que aquele no final era o Yuu? Quanto tempo será que se passou entre o desastre e aquela cena? Como chovia, não foi logo em seguida. Como o sangue era fresco, não foi muito depois. Será que aquela cena aconteceu de verdade? Quero dizer, no final do episódio apareceu mais um novo personagem, uma garota, que correu desesperada até a escola, e pelo que ela falou, tentando (e falhando) evitar o colapso: ela ou alguém com ela sem dúvida é capaz de prever o futuro. Será que, então, o que aparece no pós-crédito não é uma visão de futuro daquela cena, que não necessariamente se concretizou? Será que a Ayumi morreu? Será que não morreu? Nem tenho vontade de especular sobre isso agora. Não gosto de pornografia de lágrimas, não gosto de histórias que manipulam o leitor/espectador a se sentirem tristes em situações absurdas e inesperadas apenas pelo valor de choque. Eu não tinha vontade de assistir mais nada depois que terminei de ver esse episódio. Engoli esse amargo na garganta e fui assistir outras coisas, porque eu tenho muito o que assistir. Há meses eu não lia mangá nenhum (desde o ano passado, provavelmente já era quase um ano). Fico feliz que, por puro acaso do destino, eu tenha lido Inio Asano antes de escrever esse artigo.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Torço para que ela não tenha morrido também! De qualquer jeito, acho difícil darem uma boa continuação à série, irmãzinha morta ou não. Que não vire um melodrama!

  1. Penso eu [na verdade, não estou pensando, estou torcendo loucamente] que isso seja algo parecido a 11Eyes. Em 11 Eyes o personagem principal era capaz de prever o futuro com o olho amarelo dele e no fim do anime, ele previu o final, mortes e tudo mais e se não me engano, conseguiu evitar. Algo parecido também naquele filme ”O Vidente” com Nicolas Cage. Mas também essa trajetória totalmente oposta a qual Charlotte seguia [eu mesmo, até o quinto episódio, pensava que este era o anime mais leve que estava vendo, já que entre os títulos na qual acompanho, está Ranpo Kitan e Kangoku Gakuen], se eles firmarem algo, projetarem algo que seja bom, poderá até ser legal, em minha opinião, claro. Cara, mas vou confessar que passei quase todo o ep 7 cryiando.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Pode. Ela também pode estar viva e foi capturada pelos cientistas, que logicamente acobertaram a coisa toda. Mas me parece que qualquer versão da história onde ela tenha sobrevivido, a essa altura, seria forçada. É uma pena, eu gosto da Ayumi.

  2. Eu realmente ainda estou intrigada com esse ep, especialmente pelo final, pelo que percebi, ayumi não voltará (pq sempre usam esse método?! –‘). Mas o que queria saber era quem era a pessoa naquela cena de sangue ( acho que talvez fosse aquele cara encharcado), mas pq ele estaria lá? Além disso, as vezes penso que tomori esconde algo, senão, por qual motivo queriam bater nela? Também disseram que ela era muito calculista.. Mas acho que ela só não expressa tudo que sente. Sei lá, talvez essas questões sejam deixadas em aberto, então vou parar por aqui mesmo kk.

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