Começo de temporada, animes novos, e o que eu estou achando deles? Nesse primeiro artigo de primeiras impressões da temporada de Outobro/2015 conto o que achei de três animes, um que eu tinha muita expectativa e outros dois que eu tinha de pouca a nenhuma expectativa. Você já assistiu algum desses? O que achou? É muito diferente do que eu achei? Ainda vai assistir ou está pensando se assiste ou não? Leia o que eu tenho a dizer e veja se isso te ajuda a decidir!

Young Black Jack, episódio 1 – Procurando polêmica

Black Jack é um dos mangás mais famosos do Osamu Tezuka, o mais importante autor de mangá japonês. Young Black Jack é um mangá recente (acredito que ainda esteja em andamento) de Yoshiaki Tabata, um autor que se fez a pergunta e tenta respondê-la: Como terá sido a juventude de Kuroo Hazama (o nome verdadeiro de Black Jack), antes dele se tornar o famoso cirurgião da obra do mestre que o precedeu?

É um drama médico, mas não espero e não espere que seja nada parecido com os dramas médicos que estamos acostumados a ver em séries americanas. Por causa da época e do estilo não consigo imaginar o Tezuka escrevendo algo assim. Se o Black Jack adulto for como o jovem foi nesse episódio, ele é um cirurgião que coloca em primeiro lugar seu trabalho de salvar vidas, mesmo que acabe pisoteando alguns tabus ou atropelando dilemas morais no processo. Na verdade, espero que esses próprios dilemas conduzam suas ações na medida em que colocam uma imensa carga psicológica sobre ele. Agora, o episódio inaugural.

O caso é bem simples: uma criança foi atropelada por um trem e teve um braço e uma perna arrancados, está em estado crítico e seus pais querem a reimplantação mas o médico responsável propõe apenas amputação. O cenário de fundo são as rebeliões estudantis de 1968 no Japão (que entraram para a história como parte da série de protestos mundiais ocorridos naquele ano; é um tema interessante, pesquise depois), que se fazem sentir no anime na forma de estudantes internos em greve no hospital universitário onde Hazama estuda. Isso coloca uma pressão maior sobre a equipe profissional do hospital, que vê-se subitamente com muito mais trabalho para fazer. Hazama não poderia se importar menos com esses protestos (se entendi, ele sequer era interno ainda, mas tanto faz). Esse contexto, como eu sei que você já adivinhou, jogou a complicada operação do garotinho no colo do protagonista.

Mas ele tem um preço: 5 milhões de ienes. Conforme o valor que ele combinou pelo aluguel da sala de cirurgia de um conhecido entendo que o custo da operação em si não passasse de 500 mil (deveria ser bem abaixo disso na verdade, já que supostamente esse dinheiro permitiria ao médico pagar parte de suas dívidas), então realmente não entendi porque ele cobrou tanto. Talvez Hazama tenha uma ambição muito grande e precise do dinheiro (e nesse caso suponho que tal ambição seja benevolente, apesar dos meios utilizados para atingi-la), ou talvez tenha sido só um elemento do roteiro para poder dar o fecho dramático do episódio no final. O segundo caso seria pior, mas qualquer que seja a verdade, isso ficou estranho e adicionou dúvidas sobre a moral já estabelecida como duvidosa do protagonista. No final, descobrindo que Hazama era apenas um estudante e com seu filho já salvo, o pai pagou apenas 500 mil ienes sob ameaça de denunciá-lo à polícia caso insistisse em cobrar mais. A resposta de Hazama é uma revolta pessoal solitária contra um pai que coloca preço na vida do filho – o que certamente teria funcionado melhor se ele próprio não tivesse colocado um preço antes.

Como essa revolta demonstra, contudo, ainda que moralmente questionável Hazama não é um monstro. Ele executou uma operação complicada durante quatro horas, mas depois estava com o corpo inteiro tremendo tanto que mal conseguia segurar uma caneca. Aquela havia sido sua primeira operação, e ele, com seu corpo retalhado, se enxergava no garoto. O próximo episódio parece que será ainda mais polêmico, de acordo com a prévia. Talvez eu só não tenha achado o episódio tão bom assim por ter discordado do Black Jack. Conhecê-lo melhor conforme passam os episódios deve esclarecer essa dúvida. Foi um bom episódio e estou ansioso pelo próximo.

Heavy Object, episódio 1 – Guerras limpas bem sujas

Por que chamam as guerras de Heavy Object de limpas? A infantaria continua lá, por inútil que declaradamente seja, e eles continuam morrendo. Se a guerra tem evitado zonas habitadas é apenas por conveniência do roteiro, pois não é como se guerras se travassem nesses lugares no mundo real apenas porque os senhores da guerra são malvados.

Enfim, novas tecnologias foram inventadas e permitiram a criação de uma arma perfeita, o Objeto, que é tão criativo quanto o nome sugere. Basicamente é uma bola gigante com algum meio de propulsão cravejada de canhões em forma de pênis. Japão, volte a guerrear com robôs gigantes, por favor. De todo modo, por que as novas tecnologias de blindagem, produção de energia e armamento são usadas apenas para fabricar essas bolas entediantes, ao invés de terem se alastrado por todos os produtos militares? Até mesmo a roupa de um piloto de Objetos avançou tecnologicamente, podendo controlar sua temperatura corporal dentre outras coisas que certamente serão citadas ao longo dos episódios, mas os demais soldados continuam usando fardamento militar do século 20.

Bom, a história é sobre um mecânico de objetos, uma pilota e um terceiro soldado que serve de alívio cômico. O Objeto que ela pilota é tecnologicamente defasado e faz cabrum no final do episódio quando atacado por outro Objeto com pernas de aranha muito mais avançado. E ah, adoram repetir em Heavy Object como 50 metros é grande coisa. É nada. O bombardeiro supersônico B2 tem 52 metros de envergadura, grandes tanques de guerra e lançadores de mísseis passam dos 10 metros (o que é menor que 50, claro, mas não tão menor assim para 50 ser considerado grande coisa), e nem vou falar dos tamanhos que grandes embarcações de guerra podem atingir.

Lance N’ Masques, episódio 1 – Prefiro Cavaleiros do Zodíaco

O protagonista faz parte da, como a sinopse diz, última Ordem de Cavalaria do mundo. Ok, eu já disse no guia que isso é mentira, mas no mundo de ficção o autor faz o que quer, né. Inclusive dar o estúpido nome Cavaleiros do Mundo para essa última ordem. Youtaro é o protagonista em questão e sua arma é uma lança que só poderia ter saído da mente de um japonês mesmo. Tenho certeza que em algum momento ela irá se dobrar, desdobrar, e virar um robô gigante. Isso pelo menos seria divertido.

Na falta de diversão, prossigo com Lance N’ Masques. Youtaro sofre de Síndrome do Cavaleiro Branco, que é o nome que ele mesmo dá para sua compulsão em dar em cima de todas as garotas que salva de forma extremamente brega. Supostamente ele foi ensinado a ser assim desde jovem (e bom, ele ainda é bastante jovem), o que mostra que o autor disso confunde Ordens de Cavalaria com Romance de Cavalaria. As primeiras existiram e existem, e são ordens militares. Há regras com relação a honra e dever, mas duvido que qualquer uma tenha ou tenha tido alguma regra forçando seus membros a molestar mulheres. O comportamento do Youtaro deriva da leitura que se faz do amor romântico expresso em alguns romances de cavalaria, ao mesmo tempo em que se parece mais com Don Juan do que com Lancelote, Carlos Magno ou Rolando. Oh, pensando bem, Don Juan na Távola Redonda seria bastante divertido, não seria? Animaria as coisas. O triângulo Arthur, Guinevere e Lancelote não é quente o suficiente. Don Juan neles!

E a princesa desse Don Juan cavaleiro é uma menininha de seis anos. Ou pelo menos ela foi a única que deu bola pra ele, embora, provavelmente, isso tenha muito a ver com o fato dela ser obrigada a viver sozinha em uma mansão enorme onde nem mesmo as empregadas ficam em tempo integral. Ele bem que tentou dar em cima de uma garota provavelmente da mesma idade que ele, mas mais crescida, mais sabida, ela identificou a coisa pelo que ela é e mesmo que ele tivesse acabado de salvá-la de uns valentões pervertidos que aparecem em todos os animes não titubeou em chamá-lo de tarado e ir embora.

Por algum motivo Youtaro estava fugindo de alguém, provavelmente suas servas, ou servas da ordem, ou sei lá, elas estavam procurando por ele e no final o encontraram. Tem a mais velha e severa, a mais nova e sem noção, e o Pé de Pano. Quero dizer, a Pé de Pano. É um cavalo, ou melhor, uma égua, e não entendi direito ainda se ela se transforma em ser humano, se ela não se transforma mas tem inteligência em nível humano e aquela imagem é uma projeção de sua própria mente, ou se nada disso e a sem noção que a acompanha apenas delira mesmo. Mas ela é igualzinha o Pé de Pano: um cavalo branco malcriado e com cara de bobo. Muito ruim, mas o ponto alto do episódio.

  1. Dos três referidos animes só assisti o segundo e o terceiro, não gostei do Lance N’ Masques, quando o protagonista começou a dar em cima da menininha e apareceu aquela cena dela se apaixonando por ele, não aguentei assistir o resto… (Talvez porque já tinha assistido muitos (nesse mesmo dia) do gênero onde metade das garotas são apaixonadas pelo protagonista é a outra é de tsunderes, (assisti forçadamente, diga-se de passagem… falta variedade na imaginação dos japoneses…), hoje e não tá vá com saco pra esse) talvez amanhã eu assista o episódio de novo.
    Alguém poderia me responder porque ele pulou com a lança daquele tamanho na mão pra salvar a garota se ele nem se quer usou ela? Mesmo correndo o risco de empalar a garotinha é até ele mesmo…
    O Heavy Object achei: “nham” o que já foi muito, mas vou assistir mais uns dois ou três pra ver se é ruim ou não.
    E quanto à Young Black Jack: eu não gosto de dramas…

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      O problema são os clichês. Não o uso deles, mas eles serem desconectados de significado. Não existe uma explicação para os personagens serem assim tão caricatos, eles apenas são. Mesmo Young Black Jack sofre um pouco disso, embora sejam outros clichês e menos comuns. Mas que pena que não gosta de dramas. Ainda assim, se tiver um tempo, recomendo que dê uma chance a Young Black Jack. Outra recomendação minha nesse começo de temporada é Utawarerumono, vou escrever sobre ele ainda mas já assisti e me pareceu promissor.

Comentários