Gundam: Iron-blooded Orphans – ep 3 – O Bem e o Mal
[sc:review nota=5]
A história está longe de decolar ainda, e mesmo se e quando o fizer, não acredito que vá ser algo revolucionário, inovador, incrível. Mas é sólida. Uma boa roteirista trabalhando em uma franquia com um cânone bem estabelecido podem conseguir transformar histórias simples em grandes épicos. Some isso à arte espetacular e cheia de significados que Gundam: Orphans exibiu até agora, especialmente nesse terceiro episódio, e o resultado final é excelente. Com todas as suas limitações (além do roteiro simples, a animação em si é bem menos do que ótima e o character design certamente não agrada qualquer um) tenho certeza que o anime não conseguirá manter esse nível por muito tempo, mas até agora tem valido cada minuto que gastei assistindo.
Vamos fazer um bolão de quem vai morrer? Com a Mari Okada nos roteiros é um dado da realidade que teremos mortes. O único anime dela que assisti e no qual ninguém morreu foi Koufuku Graffiti, mas o que diabos foi Koufuku Graffiti? Pois é. E lógico, nesse episódio morreu um general dos vilões, mas não é disso que falo. Alguém do núcleo dos mocinhos vai morrer. Não pode ser nem o Mikazuki porque é protagonista, e além de muito improvável, não tenho conhecimento para falar disso mas acredito que em Gundam as princesas não morram, então a Kudelia está à salvo (além do que, tudo até agora aconteceu em tentativa de matá-la e protegê-la, seria meio frustrante se ela acabasse morrendo em seguida). O Orga não pode ser porque no momento não há ninguém capaz de ocupar o posto de liderança que ele tem. O Mikazuki é passivo (mais sobre isso adiante) e a Kudelia ainda não está pronta para a tarefa. O Biscuit é alívio cômico, acho que está seguro, além do quê aparentemente ele não é piloto, então as chances dele morrer em combate são menores. Os outros garotos não são importantes o suficiente. Até o momento ninguém tem uma death flag na cabeça, mas qual é, isso é Mari Okada, em animes da Mari Okada por padrão todo mundo começa com uma death flag. Sem sinais mais óbvios, contudo, só resta especular e calcular probabilidades. Mas depois desse parágrafo inteiro sobrou alguém?
Oh, puxa. Coitada da namoradinha do Mikazuki. Achei bonito ele ter aparecido nesse episódio com a pulseira que ela fez para ele. E um pouco erótico também, na medida do possível para Gundam, acredito. Ele não apenas estava com a pulseira, ele não apenas olhou para ela com olhos carinhosos. Ele cheirou a pulseira. Ele estava sem camisa e cheirou a pulseira, e a encostou em seu peito nu. A Atra já havia dito, no primeiro episódio, que aquela pulseira poderia pegar cheiro, e nesse terceiro episódio lá estava o Mikazuki cheirando a pulseira. Como eu não acredito que ele seja narcisista a ponto de querer sentir o cheiro do próprio suor, faça aí as contas de quem era o cheiro que ele fazia questão de sentir. A Atra, da posição dela, foi um dos personagens que mais apareceu nesses primeiros episódios. E nesse terceiro episódio dissiparam-se todas as dúvidas: a Atra e a Kudelia são sim adversárias na concorrência pelo coração do Mikazuki. A vantagem nesse momento é toda da Atra, mas até ela já sabe que agora a princesa está em uma posição privilegiada. Uma morte no meio de um triângulo amoroso seria a cara da Mari Okada. É quase uma marca registrada dela. Eu posso ter escrito dois parágrafos de groselha, mas ainda aconselho a não se apegar a garotinha mansa que traz comida para os garotos que perderam a infância.
Mudando de assunto para analisar os personagens. Oh, bem, não todos, só dois me interessam agora: Mizakuki e Kudelia. O Mikazuki é totalmente passivo em relação ao Orga, e na verdade é tão passivo que parece um traço de personalidade dele, eu acharia muito estranho se ele revelasse habilidades de liderança e pró-atividade em algum momento futuro da história. Acho sim que ele é passivo demais e pode melhorar isso, mas não consigo imaginar ele como um líder. Outro traço distinto dele é seu sangue-frio, praticamente desprezo pela vida humana. O Orga poderia pedir que qualquer um executasse os assassinatos, mas ele pede para o Mikazuki. Ele sabe que o Mikazuki não vai vacilar – pelo contrário, se ficar nervoso ele vai atirar primeiro, pensar depois. A luta dele contra o Crank mostrou isso muito bem. Em dado momento ele considerou a hipótese de não matar o inimigo, mas ficou irritado em seguida e mudou de ideia. E no final, com o Crank já derrotado e sangrando até a morte, o Mikazuki ainda parou para pensar se realmente tirava o adversário de sua miséria com um tiro para matá-lo logo de uma vez por todas. E só conseguiu decidir pelo sim após encarar a pulseira de Atra – a garota talvez seja mais que um pequeno afeto juvenil, é possível que seja ela quem mantém sua humanidade.
A Kudelia evoluiu muito pouco, mas nesses três episódios foi o personagem que mais evoluiu. No começo era uma militonta egoísta, que mais parecia que queria aliviar o peso em seu próprio peito do que realmente aliviar a dor alheia. Isso infelizmente é muito comum no mundo real também, e embora dificilmente tão trágico quanto, ainda assim pessoas desse tipo costumam provocar pequenas tragédias com seu “excesso de bondade”. O choque de realidade inicial, tanto por testemunhar a batalha em si quanto pelas reações ásperas do Mikazuki, a fez reavaliar sua posição para algo mais apropriadamente altruísta – embora ela ainda esteja lutando também pela própria sobrevivência, tendo deduzido corretamente que não está mais segura nem mesmo em seu próprio lar. De todo modo, uma evolução. Mas ela ainda não sabe bem o que fazer, como reagir, e nesse sentido continua tão idealista quanto começou. Ela quer fazer algo, mas não tem ideia do que ela pode fazer, do que eles precisam que ela faça. Por enquanto, vai começar com dinheiro. Já é alguma coisa. Mas o que essas mais de mil palavras até aqui têm a ver com o título que dei para o artigo? Bom, há relação indireta, mas eu me referia mesmo à direção de arte. Olhe essas cenas:
Nas duas, de um lado alguém defende “o mal” (entregar a Kudelia) e do outro alguém defende “o bem”. E isso não é bobeira e de forma alguma é acidental. Como já disse no parágrafo introdutório, a arte de Gundam: Orphans vem sendo incrível. Me faltam palavras (e conhecimento técnico-artístico, hehe) para descrever esse anime em maior profundidade, então encerro o artigo com mais um quadro impressionante do Gundam. Queria falar sobre o nome que o Orga escolheu para a empresa, mas o artigo já ficou longo demais, como a empresa vai continuar por mais tempo e vai manter esse nome deixo para outra ocasião. Até o próximo episódio!