One Punch Man – ep 5 – Como medir um herói?
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Saitama e Genos se tornaram, oficialmente, heróis. Pena que não saíram do centro de avaliação com uma carteirinha ou insígnia (ou se saíram, não foi mostrado) porque poucas coisas são ícones tão fortes e universalmente reconhecidos de burocracia quanto documentos de identificação, autorização ou habilitação. Mas são também necessários! Talvez não para tudo, mas quem aqui seria louco de dizer que um documento como o RG, por exemplo, é desnecessário? Bom, os britânicos diriam isso. Não há um documento de identificação pessoal no Reino Unido. Nem nos EUA, aliás. A propósito, a maioria dos países do mundo não possuem um documento que sirva exclusivamente para identificação pessoal, como o nosso RG, e mesmo entre os que possuem esse documento, o porte dele não é obrigatório em todos. Então isso é burocracia ou não é? Por que existe?
Existem vários argumentos à favor e contrários à adoção de um documento exclusivo de identificação civil, mas não vou discutí-los aqui, foi só um exemplo, hehe. E uma forma de abrir a discussão: por que em One Punch Man é obrigatório ser um herói registrado? Quero dizer, à rigor obrigatório não é, mas se um herói não for registrado, como era o caso do Saitama, a máquina burocrática por trás do sistema de registro irá censurar seus feitos na imprensa, por exemplo. Se você for especialmente forte e de algum modo chamar a atenção deles, como foi o caso do Genos, vão no mínimo investigar e acompanhar cada passo seu. E não terão o menor pudor de chamá-lo de “pervertido falando idiotices e agindo de forma suspeita”, apenas porque você não é registrado. Ah, heróis registrados são remunerados pelos seus atos heróicos, então se registrar definitivamente é vantajoso, não é isso que está em discussão aqui. Por que heróis devem se registrar?
O argumento mais forte foi dado pelo próprio Saitama no episódio anterior: qualquer um pode ser herói ou vilão, e às vezes a diferença que leva uma pessoa a escolher um caminho ou outro é muito tênue. Há pessoas poderosas sem registro, mas o que elas fazem é heróico? E mesmo se for, que garantia há de que continuarão seguindo o caminho do heroísmo para sempre? Claro que qualquer herói pode cair e coisa e tal, mas o simples fato de haver um grupo, uma sociedade (e lógico, uma supervisão também) já funciona como fator deterrente, tornando mais difícil e custosa a decisão de “mudar de lado”. O registro também é necessário para a instituição da remuneração. Eu sei, necessário mesmo não é (poderia funcionar como recompensas estilo Velho Oeste), mas é possível criar um sistema mais sólido e justo assim, além de mais previsível para o herói, o que é um estímulo para a existência de mais heróis, o que no fim das contas é melhor para a sociedade. A Associação de Heróis foi criada por um não herói que queria apenas financiar os heróis.
Mas o registro permite ou implica em controle. Por que bons heróis devem ser controlados? Por que devem satisfação a alguém enquanto estão simplesmente salvando vidas? Para o herói isso é só um aborrecimento. E se torna um perigo quando se constata que haver mais heróis e eles constituírem um grupo fechado não é sempre positivo. Em toda sociedade sempre existem membros problemáticos, de uma forma ou outra, e ao se registrar o herói se expõe a eles. O Saitama teve que aturar o imbecil do Snek tentando atacá-lo à luz do dia, em um inconfundível ato de bullying corporativo. Sorte dele (e azar do Snek) que ele é forte demais para força bruta funcionar. O Genos parece ter menos sorte, porque eu não confio naquele bonitão que está de olho nele e certamente não pretende enfrentá-lo no braço.
Os dois casos parecem ter sido motivados pelo sistema de classificação dos heróis. Outra coisa que tem prós e contras. Para os heróis, de novo, é na maior parte do tempo apenas um fardo. Para a sociedade é positivo saber quais os heróis mais indicados para atuar em cada caso e quais merecem remunerações maiores (não que dê para saber se é para isso que servem as classificações no anime por enquanto, só estou dizendo vantagens teóricas). As desvantagens são as mesmas do registro em si, já que fazem parte dele. O que é mais complicado sobre a classificação são os critérios. Por que o Saitama está abaixo do Tio da Bicicleta, por exemplo? Bom, embora os testes que vimos ele fazer fossem todos físicos, houve uma prova escrita, certamente os critérios não são apenas de poder. Mas resumir em uma letra e uma posição numérica o resultado de diferentes níveis de habilidade (e imagino, talvez, ética) em características tão díspares é mesmo útil? De novo, para algumas coisas é. Esse é o eterno dilema dos vestibulares, por exemplo, hehe. Acha que são justos? Há de haver um critério para preenchimento de vagas, não é? O conhecimento acumulado em um conjunto de disciplinas não é um bom critério?
Quer saber, isso é muito complicado e ficar falando em hipótese assim nem é tão útil. Deixo só as questões que fiz jogadas no ar, porque algumas delas com certeza devem voltar para morder a bunda dos protagonistas e mover o enredo para frente. Encerro com alguns comentários finais. Quantas espécies endêmicas daquela floresta será que o Saitama extinguiu? E isso porque ele nem queria lutar. O dia que ele estiver com vontade mesmo, acaba com a vida na Terra. E o Genos é bastante forçado, não é? Nem perguntou antes de levar toda sua mudança se poderia se mudar. Acho que ele está se acostumando com o Saitama e quis tornar maior sua chance de ser aceito, hehe.