Kiseijuu – A Divina Mão Direita: O anime e a Divina Comédia
Guest post por Vitor Mendes Sozzi, que se define como apenas uma alma atormentada em meio a zumbis risonhos, em busca de seu amor perdido.
Antes de tudo aconselho terem visto ou lido Parasyte (Kiseijuu) e lido A Divina Comédia que o texto está cheio de spoilers.
Os personagens principais da Divina Comédia são o próprio autor, Dante Alighieri, que realiza uma jornada espiritual pelos três reinos do além-túmulo, e seu guia e mentor nessa empreitada é Virgílio, poeta romano clássico e autor, entre outros, de Eneida.
Dante em sua peregrinação personifica o homem, a essência do ser humano, Virgílio é a razão, o pensamento crítico e puramente isso, e a amada de Dante, Beatriz, personifica a fé.
A estrutura do poema se divide em três: Inferno, Purgatório e Paraíso (embora todo mundo só lembre do inferno) e é muito importante considerar a obra pois foi o primeiro livro escrito em toscano (a base do italiano moderno) e o primeiro a ser escrito fora do latim.
Mas sem delongas, apresentarei meu ponto de vista de que Parasyte foi escrito em analogia a Divina Comedia.
Seus personagens principais
Izumi é a personificação do homem, do ser humano como tal em sua própria peregrinação na vida.
Migi assim como Virgílio, é um ser não pertencente ao comum, é inumano e ao mesmo tempo próximo de um humano, é um ser frio e desprovido de emoções que se move unicamente pela racionalidade e dotado de um vasto conhecimento, contudo guia e acompanha o herói.
Murano seria a fé nesse contexto, ela é a ponte moral para Izumi, e ela representa tudo aquilo que ele quer defender com, unhas e dentes, além de ser uma promessa de futuro melhor, e tal como Beatriz, sua presença diminuta se resume a pequenas mensagens para Izumi para segurar sua racionalidade.
Os sete pecados
Na viagem pelo Inferno, em cada ciclo ele encontra um dos sete pecados, cada pecado é aquilo que mais denigre e destrói a natureza do homem, e em Parasyte eles são os mais relevantes opositores de Izumi e Migi, que seriam:
Inveja: O primeiro parasita que se encontrou com Izumi e Migi foi um que se apoderou de um cão, e logo tentou matá-los por não ter conseguido se apoderar de um humano. Morreu com seu coração arrancado.
Ganância: O segundo parasita foi um que desejou se unir com Migi num mesmo corpo decepando o próprio braço e lhe oferecendo o mesmo, e tal como o primeiro listado esse não teve nome revelado no anime. Morreu com a guarda baixa tentando alcançar seus objetivos.
Luxúria: Shimada ocupa essa posição, ele usava sua beleza para atacar suas vítimas. A luxuria é o pecado dos sentidos, e é ai que ele atacava, seduzindo suas vítimas, e teve um final digno para sua personalidade: morreu com uma aparência deplorável.
Gula: Mais um sem nome, este matou a mãe de Izumi e pegou seu corpo, antes disso tendo pego o corpo de um jovem e não satisfeito pegou mais um para si, e logo depois de encontrar Izumi busca obsessivamente por outros parasitas falhos, gula não se trata de apenas comer, e sim consumir mais do que pode e se tornar obcecado por algo. Sua morte se deve a um confronto dois contra um, buscando eliminar Mamoru e Mandíbula não contou que Izumi agora super-soldado apareceria e ainda quis enfrentar todos.
Preguiça: Shiro Kuramori, Talvez desse poucos se lembrem, é o detetive particular que investiga Shinichi a mando de Reiko, ele teve as condições de agir contra o herói mas não fez, teve os meios de revelar os parasitas ao mundo mas ficou calado, ele não agiu quando deveria agir, e só age quando toda sua família é massacrada, isso já foi um peso pior que a morte, e esse é o único que é digno um sentimento de luto.
Orgulho: Yamagishi, embora esse tenha sido sem sal é de certa importância… ou não, o que causou sua queda foi seu orgulho bem evidente, ele subestimou o inimigo e ignorou os avisos de todos que estavam por perto, e ainda apostou suas fichas em um assassino em série obviamente nem um pouco confiável. Morreu pelo orgulho cego e ainda provocou um certo alguém.
Ira: Esse seria o mais simples de todos, Gotou, ele menosprezava ao máximo os humanos, não confunda, caro leitor, ira com fúria, uma pessoa irada pode muito bem estar completamente calma, mas isso não cai ao Gotou, o fato dele menosprezar, repudiar e de certa forma torturar os humanos o classifica como a ira, e poupa explicações.
Bônus – Lúcifer e Uragami: Esse lazarento é a personificação de todos os 7 pecados, copiando assim o “senhor do mal” ele é o oposto daquilo que se considera humano, sendo cruel e sádico, além de claro ser um assassino em série canibal, frio e calculista, que se vale da mentira, no fim de tudo ele foi o antagonista mais semelhante ao Izumi, assim como o próprio Lúcifer é o antagonista mais semelhante à humanidade.
Atmosfera
A atmosfera da trama pode parecer constante na primeira olhada, mas ao reparar bem ela está dividida em três, assim como a obra de Dante, organizando tudo ficaria assim:
O Inferno: Onde tudo começa, Dante deixa o reino mortal e entra no mundo de dor, tormento e tortura sem fim, esse é o começo de Parasyte, onde vemos uma noite normal transformar-se no holocausto, corresponde apenas o momento que o horror toma conta do mundo e Shinichi presencia o verdadeiro terror com a chegada de Migi.
O Purgatório: As provações e testes morais que surgem do momento que presenciamos a morte de Nobuko Izumi, a mãe de Shinichi, onde tanto ele quando o espectador questiona o que realmente é ser um humano, e o que de fato quer dizer o conceito de ser humano, por um tempo ele se torna um robô frio e calculista, mas tudo muda com o sacrifício/suicídio de Reiko que mostra a Izumi o que é de fato ser um humano. E termina com a derrota de seu maior opositor, Uragami.
O Paraíso: A paz, parasitas remanescentes aprendem a se esconder dos humanos, aprendem que não se pode cutucar um tigre com vara curta e por isso se tornam cautelosos o bastante para evitar atacá-los preferindo comer comida normal. Shinichi Izumi se descobre, amadurece e se torna uma pessoa completa, descobrindo seu papel no mundo como ser vivo, ficando ao lado daquela que sempre o ajudou, e Migi decide partir, entra em hibernação completa para nunca mais acordar, deixando assim Izumi com sua mão direita “normal”, mas sempre o acompanhando como seu amigo e cara metade. No fim de tudo o Caos infunde Ordem, o equilíbrio de todas as partes surge, e tudo isso em apenas um episódio.
Enfim essas são minhas comparações de ambas as obras magnificas, e apenas as comparações, há muitas e muitas diferenças o que torna ambas únicas e distintas por si só.
Mesmo que seja um texto difícil recomendo que tenham em mãos os três livros de Dante, assim como o anime e manga de Parasyte, lembrando que essa comparação é feita com base no anime, não no mangá, algumas coisas podem estar diferentes. E assim deixo meu pensamentos a você caro leitor e obrigado por sua atenção até aqui.
Yomotsu Miya ᕕ( ᐛ )ᕗ (@YomotsuBr)
Achei muito bacana e interessante o assunto, ainda mais por eu adorar Parasyte ^^
Vitor De Liancourt
Obrigado. ^^