Hai to Gensou no Grimgar – ep 3 – Frágil equilíbrio
O humor do grupo e as relações entre eles melhoram ou pioram conforme eles conseguem dinheiro pra passar mais um dia vivos. Faz sentido, é assim na vida real – quando começa a faltar dinheiro famílias se desestruturam e melhores amigos que moram juntos saltam no pescoço uns dos outros. É tão lugar-comum que é usado como mero dispositivo de enredo em diversas histórias. Em Grimgar, pelo menos até agora, isso não é apenas um truque mas parte importante do que faz a história (junto com a questão moral, que comentei no artigo anterior, e com a amnésia dos personagens, da qual falei já nas primeiras impressões).
Os garotos estão tentando viver juntos, sem lembrar de onde vieram e encarando uma perspectiva de futuro moralmente questionável. Isso resume Grimgar – pode ir lá falar pro seu amigo que ainda não está convencido a assistir para ver se isso o tira da inércia. Sobre o tema principal desse episódio e desse artigo, já há uma boa quantidade de desafios para famílias ou para melhores amigos viverem juntos, como nos exemplos que eu dei. E completos desconhecidos então?
Duas coisas nesse episódio me deixaram satisfeito: a animação melhorou e a cena da invasão no banho não foi só fanservice abortado e está tendo consequências duradouras no anime. E o tipo de consequência realista, que se espera disso, não as consequências típicas de clichês de anime. Nesse episódio o Ranta não causou nenhum problema, ao contrário dos outros dois anteriores, mas sua personalidade e o clima já complicado entre os aventureiros deixou uma tensão constante no ar. É como se ele fosse uma válvula de gás aberta ambulante, apenas esperando uma faísca para explodir.
No primeiro episódio o Ranta já havia assediado as garotas, especialmente a Shihoru que chegou a chorar por culpa dele. No segundo ele sem o menor pudor tentou espiar as garotas tomando banho e foi descoberto. Como os outros garotos vinham atrás dele (para tentar impedi-lo) acabaram suspeitos e envolvidos também. As duas garotas não gostaram, o que é esperado, mas a Shihoru travou. A Yume ficou com raiva mas meio que entendeu que a culpa foi toda do Ranta – e está dando toda pinta de que está afim do Haruhiro, que logicamente não percebeu nada. A Shihoru, que é tímida e tem problema de auto-estima, agora está com medo e envergonhada e nem consegue mais falar com os garotos. Pior que a coitada realmente parece ter se apaixonado pelo Manato e está em silêncio esperando que ele venha falar com ela.
Será que ela gosta de verdade dele ou apenas se sentiu confortável, sentiu que nele podia confiar, e sendo naturalmente alguém com dificuldade em se relacionar passou a se apoiar emocionalmente nele? Bom, nem teve tempo para começar a se apoiar emocionalmente ainda na verdade, mas talvez ela já estivesse psicologicamente a caminho disso, quando foi bloqueada pela ação do Ranta (que até onde ela sabe pode ou não pode ter tido envolvimento do próprio Manato). Será que ele gosta dela o bastante para atender as expectativas da garota, sejam elas de amor verdadeiro ou apenas suporte emocional? Grimgar não é um romance, mas em um grupo pequeno e instável como o deles todos os relacionamentos importam, e os relacionamentos do líder, o Manato, importam ainda mais.
O Haruhiro tem a cabeça no lugar e consegue planejar e prever coisas com alguma antecedência, é inteligente e importante para o grupo, mas não é muito perceptivo, como já deixou claro no caso da Yume. Eu poderia dizer que não sei se ela própria percebe que gosta dele, mas ela foi tão insistente em dizer que não se importaria tanto assim se fosse ele quem estivesse espiado ela que sou forçado a descartar essa hipótese. Ela gosta dele e sabe disso. O Moguzo parece só estar interessado em ocupar a mente com ofícios, como culinária e escultura em madeira (e também foi ele próprio quem projetou e costurou a bainha de sua espada gigante). Será que há algo em particular o incomodando para ele, de todos, ser o que mais procura distrair a mente? A essa altura tendo a acreditar que isso é apenas sua característica peculiar, sem que seja indício de nenhum problema em particular.
O problema particular do grupo é o Ranta. O Haruhiro não teve muito trabalho para convencê-lo a não lavar suas roupas, felizmente. Queria evitar que o garoto-problema se encontrasse com as garotas. Isso era mesmo necessário? Totalmente necessário, o próprio Ranta disse que um dos motivos de estar indo lavar suas roupas naquele momento era a esperança de encontrá-las lá. E embora a animação não tenha passado a sensação de urgência devida, o fato do próprio Haruhiro ter se sentido tentado a espiar as garotas naquela situação mostra o quão péssimo seria o Ranta ter ido. Eu acredito que o Ranta esteja afim da Yume, não necessariamente amor, no caso dele pode ser só atração mesmo. A essa altura ele já fez tanta merda que eu ficaria irritado se ele se redimisse como um simples garoto que está descobrindo o amor e não sabe lidar com isso, mas é uma possibilidade realista. De todo modo, a Yume não gosta dele, tem o Haruhiro no meio, de qualquer jeito o cenário está armado para encrenca brava. E não é como se o grupo pudesse simplesmente se livrar dele: pelo pouco que o anime mostrou, é ele quem está matando mais goblins, e eles dependem disso para continuar vivos e poder ter roupas para lavar e outros problemas com os quais se preocupar que não como sobreviver por mais um dia.
yuri
Meio duvidoso colocar tanta responsabilidade no Ranta. Poderiam escolher outro para pegar as kills, o cara é muito temperamental, arranja problema fácil.
Fábio "Mexicano" Godoy
Eu acho. Mas foi assim que ficou, fazer o quê, não dá pra mudar agora.