Malevolência é o que eu emano depois de assistir esses episódios. Não, a história continua boa, mas em algum momento eu achei que o estúdio Ufotable tivesse superado sua incapacidade em escrever roteiros. Que nada. Só parecia assim porque a história era boa mesmo. Mas veja só: teve um episódio só de epílogo; dois episódios do Berseria, que serviu como um background muito distante para o anime; um episódio inteiro nos esgotos ensinando o Sorey a usar seus poderes recém-adquiridos como Pastor. E por aí vai. A maioria dos episódios foi bastante fechada, e assim a história progrediu de forma mais ou menos linear, com escala crescente de conflitos (e com o Berseria socado no meio).

Então em apenas dois episódios aconteceu tudo isso o que aconteceu: a guerra está começando e a princesa Alisha decidiu intervir (teve até toda uma cena de sala de guerra dela reunida com uma personagem conhecida, uma recém-apresentada e um monte de anônimos planejando tudo isso), a Alisha e a Rose tiveram um combate meia-boca e a Rose passou de assassina a seguidora da princesa, descobrimos que existe uma forma anterior ao dragão, chamada Draco (da dublagem eu escutava algo mais parecido com “dragon papi”, mas isso é ridículo demais), e que um desses era o responsável pela epidemia em Marlind – resolvida com o Sorey derrotando-o e depois purificando o lugar todo o tanto que pôde, existe um tipo de serafim chamado normin, e eles são mais fracos mas têm o poder de fortalecer os serafins normais (e são bichinhos fofinhos), e estou esquecendo de citar alguma coisa? É claro que estou.

Aconteceu mais coisa em dois episódios do que nos oito anteriores. O velho problema de ritmo do Ufotable. O lado positivo é que a história é boa.

O reencontro da Alisha com a Rose foi fenomenal

O reencontro da Alisha com a Rose foi fenomenal

O lado negativo é que a história é boa. Eu esperava por exemplo um embate físico e ideológico bem mais forte entre a Alisha e a Rose antes das duas se aliarem. Aquilo foi tão sem graça. Na verdade eu nem entendi direito porque a Rose desistiu de matar a Alisha. A Rose disse que o idealismo da Alisha mataria pessoas, e a Alisha disse algo que dá para interpretar como (talvez a minha legenda que estivesse muito ruim mesmo) “se alguém for morrer por minha causa, que eu seja a primeira”. Legal. E no que isso resolve? Quero dizer, ela é a primeira, e daí, depois outros vão morrer igual. A não ser que ela esteja se propondo a ser uma força de dissuasão – e as ações dela apontam nesse sentido, que vai garantir a paz apelando ao bom senso das pessoas sim, mas sem hesitar em usar a força caso necessário. Isso a faria não tão pacifista quanto toda a discussão deu a entender, não é?

Quero dizer, olha essa cara da Rose

Quero dizer, olha essa cara da Rose

E isso é um exemplo de cena e resolução de conflito que teria sido muito melhor desenvolvida, muito melhor aproveitada, se tivesse mais tempo. Mas não rolou. O estúdio descobriu que já estava acabando a temporada e correram na história – não tenho explicação melhor. Teve outra cena menos importante mas muito mais incômoda que não posso deixar de citar: a ponte que o Sorey construiu para atravessar o rio. Em um momento ele está conversando com a Maltran, sob forte chuva. Em seguida ele está conversando com suas serafins, a Lailah e a Edna – e a segunda lhe informa que no momento está fraca demais para seu plano de construir uma ponte de pedras. Na cena seguinte não chove mais e ele constrói a tal ponte. Por fim, Maltran aparece conversando na cabeceira da tal ponte sobre como ela “surgiu” ali. Um soldado vai mais longe e diz que ela “já estava ali pela manhã”.

Olha essa cara da Rose!

Olha essa cara da Rose!

Quanto tempo se passou? Quanta coisa aconteceu? Para onde a Maltran foi? Por que o Sorey não a informou de seu plano de construir uma ponte de pedra – o que certamente era do interesse dela também? Provavelmente há boas respostas para tudo isso, ou para quase tudo isso, mas, de novo, foi tudo tão rápido que não foi possível esclarecer nada. A marca registrada desses dois episódios foram os cortes de cena – aqueles quadros totalmente negros e sem áudio que apareceram diversas vezes. Tudo isso, tanta coisa em tão pouco episódio (depois de tanto episódio com tão pouca coisa), e o anime sequer terminou de apresentar os personagens que aparecem na abertura!

Uma cena com tanto potencial desperdiçado...

Uma cena com tanto potencial desperdiçado…

Como já está decidido que serão 12 episódios, podemos supôr qual será o final do anime: os esforços do Pastor Sorey e da Princesa Alisha para impedir a guerra. Talvez sejam bem sucedidos, talvez não. É só um ponto aleatório no meio da história, ainda distante de seu final, então tudo pode acontecer (exceto, suponho, a morte de algum dos personagens principais). A história parece sim muito boa, mesmo que o seu protagonista não seja lá grande coisa, mas se quiser conhecer o resto vai ter que jogar o jogo. Como eu não sou exatamente um gamer (já joguei muito, hoje em dia não tenho tempo mais para isso; e JRPG era de longe meu gênero predileto). Quero dizer, o anime vai ser split cour, mas você acha que vai dar tempo de contar tudo? Eu acho que se vão se dar ao trabalho de animar mais uma temporada, com certeza deve ir até o final. Mas isso ainda não significa “contar tudo”, se entende o que eu quero dizer. E se tentarem contar tudo a chance é grande de ter mais uma temporada com problemas terríveis de ritmo narrativo.

O importante é que arranjaram tempo pra Maltran falar da lança bonita que ela arranjou

O importante é que arranjaram tempo pra Maltran falar da lança bonita que ela arranjou

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