Onihei – ep 9 – Outro que não é o pai da Ojun
Hahaha, desculpa, mas estou curioso para saber a história da Ojun desde o primeiro episódio! Não posso fazer nada, estou obcecado com isso, tanto mais por ter confundido a cronologia da série e passado tanto tempo achando que o pai dela era alguém que quando a conheceu ela já era uma criança bem grandinha. Esse episódio foi muito bom e na média Onihei tem sido um anime muito bom, mas a essa altura é inevitável: se terminar sem eu saber quem é o pai da Ojun e as circunstâncias em que o Heizou a adotou, vou me frustrar.
Ainda mais que até Onihei assume que essas questões de ordem e família são importantes, não é? Esse episódio foi inteiro sobre isso.
Eu posso ter errado epicamente a cronologia, posso não ter percebido ou entendido direito muita coisa, mas tem algo que eu entendi muito bem de cara, logo no primeiro episódio: em Onihei a dicotomia não se dá entre policiais e ladrões. Existem policiais bons e policiais maus, ladrões bons e ladrões maus. Em Onihei, ser um ladrão não é prova de que se é uma má pessoa, não é a escolha dos fracos de caráter, dos sociopatas e dos canalhas. É quase uma “profissão”, por assim dizer. Faz parte da ordem das coisas que ladrões existam, que roubem, e que sejam presos. Desde que sigam as regras – há regras para ladrões também, afinal – pouco haverá que os desabone.
Por outro também há os maus, e os há aos montes. Aqueles que promovem a desgraça apenas por gosto ou por desprezo, ou que de suas posições privilegiadas não se importam com as desgraças alheias, chegando mesmo a usá-las a seu favor se necessário sempre que a oportunidade surge. Entre os ladrões abundam, mas também existem entre os supostamente “cidadãos honrados”. O anime já mostrou um policial e um empresário corruptos. Tenho certeza que poderia mostrá-los tanto quanto mostrou bandidos assassinos, mas não é necessário e não é a proposta. Eles existem, basta que saibamos disso.
Nesse contexto, não é de se estranhar que o próprio protagonista, hoje o temido chefe do Departamento de Roubos e Incêndios, que diminuiu a violência em Edo com a eficiência de seu trabalho e a forma implacável com a qual combate o crime, já tenha tantas vezes atravessado os limites da lei. Nesse episódio é revelado o motivo para isso, bem como somos convidados a refletir sobre que tipo de demônio Heizou poderia ser hoje se não tivesse se tornado no demônio da justiça.
Filho bastardo de seu pai com uma amante anônima qualquer, ele nunca foi aceito pela esposa de seu pai, sua “mãe”. Os dois não terem tido filhos não deve ter tornado a situação mais fácil para ela, assim de cara considero injusta e inapropriada qualquer comparação entre Hatsu, a madrasta involuntária de Heizou, e Hisae, sua esposa. As situações são completamente diferentes. Não sei que ordem de acontecimentos levou à fuga de casa de Heizou e ao seu rompimento definitivo com Hatsu, mas aposto que ambos tiveram culpa pelo que quer que tenha catalisado essa situação toda. Assim eis que Heizou era um jovem rebelde, mas não um rebelde sem causa como tantos que conhecemos, mas um rebelde com causa – ou melhor, com motivos. A raiva que ele trazia dentro de seu peito era sincera tanto quanto era insolúvel. Pelo menos naquele momento era insolúvel, e jovens vivem momentos como se eles fossem durar a vida inteira.
O dono do Bar do Ladrão, um ex-ladrão como o título do estabelecimento entrega logo de cara, foi o primeiro a alertá-lo: Heizou era um bom rapaz. E pessoas boas são as que têm os destinos mais terríveis quando se deixam corromper. Lembra do Kaneko, do episódio 3? Acho que foi esse o caso. Talvez seja por aí também o Otomatsu, do episódio 7. É divertido quando, mesmo sem uma ligação direta através de um elemento do enredo, a história toda se encaixa tematicamente assim.
E não foi por outro tipo de pessoa senão por um ladrão que Heizou foi salvo de um destino caótico qualquer. E um ladrão convicto, não menos, nada de um ex-ladrão, como era o cado do dono do bar! Alguém que apareceu em seu dojo, enganou todo mundo, usou-os como fachada enquanto precisou, e depois de realizar o seu golpe partiu para nunca mais ser visto. Ele também viu além do que os olhos podem ver e percebeu que o Heizou não havia nascido para o crime (mesmo um criminoso, como ele era, precisa ter disciplina, afinal de contas), o seu caminho e o seu mundo haviam de ser outros. Talvez Onihei nunca ensine quem é o pai de Ojun, mas está fazendo o possível para ensinar várias lições de moral.
Kondou-san
Meu caro Fábio, sou capaz de ter a resposta para a história da Ojun. Esta resposta não vai ser encontrada no anime, mas sim numa OVA, que saiu de Onihei, que tem a duração de 40 minutos. Esta Ova serve como introdução antes dos acontecimentos do anime. Pelo que li da sinopse, nesta ova, explica como o Heizou conheceu a Hisae e este tinha um irmão. E pode ser este irmão, que pode ser o pai da Ojun. Não era nada anormal, entre irmãos, caso um deles morresse o outro irmão cuidaria dos seus filhos.
Passando ao episódio, eu gostei, acho que não me canso deste anime, mesmo sendo episódico. Deve ser o meu lado que ama história, que está a influenciar a minha opinião neste anime. Eu sabia que o Heizou era rebelde na juventude, mas nunca pensei que fosse tanto. Mas ele tinha motivos para isso, afinal ser filho bastardo, fruto de uma relação entre o seu pai e uma camponesa, claro que a situação dele em casa do pai, não seria fácil. Eu compreendi as atitudes da Hatsu, madrasta do Heizou. Ela sentia-se frustrada, por ainda não ter dado descendência ao seu marido, e ela aparentava já ter mais de 50 anos, naquela altura se uma mulher não tivesse engravidado até aos 40 anos, não seria aos 50 anos que iria ser mãe. O facto dela ver, um filho bastardo do seu marido, só lhe provocou dor e desconforto, dai o embate de titãs entre os dois. Mas achei uma atitude execrável por parte da Hatsu, escolher um primo indirecto do Heizou, para ser o herdeiro do pai e da madrasta do Heizou. O Heizou mesmo sendo filho bastardo, ele ainda tinha o sangue do seu pai, numa disputa de património, se o pai e a madrasta do Heizou não tivessem filhos, quando eles morressem, o Heizou teria pelo menos direito a uma parte da herança do pai. Gostei bastante daquele ladrão, que deu conselhos de vida ao Heizou e que o salvou de ser tornar uma coisa, que ele não queria. A cena da chegada ao dojo, por este mesmo ladrão foi muito boa, as referências históricas estavam muito boas. Os samurais e ronis a sério, treinava com espadas de verdade, mas com a instauração do Xogunato Tokugawa é que os samurais começaram a treinar com espadas de bambu. Por momentos pensava que iria ver um belo combate entre o mestre do Heizou e esse mesmo ladrão, mas não resolveram a questão, só a observarem-se um ao outro. Eu já desconfiava, o que seria essa pessoa estranha que tinha aparecido no dojo, mas nunca pensei que seria um ladrão lendário e mestre com a Katana, a forma como este salvou sem matar, os bandidos da casa de jogo, onde o Heizou tinha andado à pancada, só mostrou como ele era um excelente com a katana. Aquela cena, em que o ladrão lendário, repara que um dos ladrões que o espera é o Heizou e o seu amigo, foi uma cena muito bonita. O Heizou não tinha feito, o que o ladrão lendário lhe tinha dito, mas o ladrão lendário era boa gente, deu-lhe um conselho, que o Heizou levaria consigo para o resto da sua vida.
Como foi bom, ver aquele bar do ladrão, ver o pai da Omasa e a própria Omasa, dá um pouco de consistência em termos de história do anime. Quem diria que a pequena Omasa, que cuidava do Heizou quando este estava bêbado um dia se iria se apaixonar por este, se calhar tal paixão já era dessa altura.
Como sempre mais um excelente artigo, de Onihei Fábio. Ansioso pelo artigo do episódio 10 de Onihei, quero ver este episódio, explorado pelo mestre da escrita.
Fábio "Mexicano" Godoy
Vi aqui que existe esse OVA mesmo, vou procurar. Mas irmão dele ou dela? Parte da história de como ele e a Hisae se conheceram já foi contada noutro episódio e lá não parecia haver irmão, mas bom, foi bem sintético.
Eu tambem entendo perfeitamente as razões da madrasta do Heizou e toda a sua frustração, mas de fato nada justificava aquela beligerância aberta dela para com o enteado. Não me parece que ele fosse uma pessoa muito legal para começo de conversa e em algum momento o relacionamento entre eles deve ter descido em um redemoinho de ressentimentos e raiva. O Heizou era muito novo e a Hatsu era a adulta, deveria ter sabido lidar melhor com a situação, mas em uma sociedade extremamente patriarcal não são todas as mulheres que aprendem a se portar com a sabedoria de uma Hisae, por exemplo. As mulheres eram essencialmente tuteladas pelos homens, então era normal que muitas delas se comportassem como adolescentes birrentas até o final de suas vidas. A grande culpa ali, se me perguntar, provavelmente recaía sobre o pai do Heizou que nunca soube mediar a situação – e o Heizou não parece ter se tornado um pai muito diferente, não é? Como já disse em mais de um artigo acredito que tenha sido a atitude permissiva dele que fez do Tatsuzou um irresponsável. E o ápice da falta de controle que vimos em todos esses episódios foi naquela cena na qual a Ojun arremessou uma bola na cara da mãe e ele apenas riu. É verdade que no Japão se espera que as mães eduquem os filhos, mas o Heizou, como pai, poderia pelo menos não atrapalhar, não é? Enfim, ele é um personagem muito bom exatamente porque não é perfeito.
E o Honrado Bandido desse episódio foi mesmo excelente, talvez o melhor de todo o anime. A forma como ele chegou a chorar pelo Heizou foi muito marcante – e mais ainda deve ter sido para o próprio Heizou. Imagine só, um ladrão a chorar porque você está cometendo um delito!