Bom dia!

Esse episódio inicia o primeiro arco de Dororo, isso é, a primeira história que não se encerra em um só episódio. Isso é um atestado de quão importante ele deve ser para a grande narrativa do anime.

Hyakkimaru está com problemas, o domínio de seu pai está com problemas, e o protagonista encontra um pouco de paz à beira da guerra junto a pessoas que têm muitos problemas também mas que se esforçam para continuar vivendo da forma mais positiva possível.

Como esperado, a cada demônio que Hyakkimaru mata aumentam os infortúnios nos domínios de Daigo Kagemitsu. Avalanches, secas, e agora a guerra bate em sua fronteira.

A conversa de Kagemitsu com sua esposa enquanto ele discutia o que fazer no impasse com o clã Sakai parece reveladora. Se entendi direito, em algum momento ele conversou com ela sobre o pacto que fez com os 12 demônios, e porque aquele foi o destino de Hyakkimaru.

A fúria de Tahoumaru, escutando os pais conversarem, indica que ele talvez também saiba, ou pelo menos tenha alguma noção. Não acredito que seu pai ou sua mãe contariam a ele, mas da mesma forma como ele estava bisbilhotando agora, ele deve ter tido muitas outras oportunidades para escutar indevidamente as conversas de seus pais enquanto crescia. Será que ele sabe da existência de Hyakkimaru?

 

 

Em todo caso, Hyakkimaru se encontra em estado lastimável. Desde que recuperou a audição está sobrecarregado por todos os sons que existem no mundo e que ele nunca escutou. Sons de animais, de pessoas, da natureza. Ele só queria voltar para a quietude de sua surdez.

O caminho para a humanidade é também o caminho para a fraqueza. Hyakkimaru precisará aprender a lidar com coisas que nunca sentiu antes. Por enquanto, está indo mal. Não conseguiu derrotar um pássaro-demônio, foi ferido e adoeceu por causa dos ferimentos. Não bastasse a algazarra, agora tem que lidar também com a dor e a doença.

 

Hyakkimaru está sobrecarregado com a audição

 

Um mundo cheio de guerras, fome, homicidas e ladrões parece não ter nada de bom. Para que sentir, se tudo o que vai sentir é dor? Para que enxergar, se tudo o que vai ver é tristeza e destruição? Para que ouvir, se tudo o que vai escutar é lamento e agonia? Para que continuar andando em frente, se só o que lhe aguarda no final é o mar de enxofre?

E, no entanto, a maioria das pessoas querem continuar sentindo, enxergando, ouvindo, andando e vivendo. Alguns o fazem de forma cínica, adotando os métodos dos malvados, já que esses parecem ser os únicos infalíveis. Outros apenas resistem de forma estoica. E há, finalmente, os que vivem sua vida ao máximo apesar de tudo, como flores que desabrocham no deserto.

Hyakkimaru encontrou um oásis desses em um templo destruído pela guerra. Crianças órfãs e amputadas, de várias idades, vivem ali juntas, todas se ajudando e ajudando a cuidar das mais novas. Nesse jardim, uma flor se abre acima de todas as demais: Mio.

Foi o seu canto, em primeiro lugar, que atraiu Hyakkimaru. Ainda com dificuldade para lidar com sua recém-recuperada audição, a beleza de sua melodia trouxe-lhe um pouco de paz.

E é para ter um pouco de paz que ela própria canta para si mesma, em primeiro lugar: para sustentar as crianças, ela se prostitui nos campos de soldados. Enquanto seu corpo é usado como um mero pedaço de carne, ela canta para elevar seu espírito para longe dali.

 

Crianças vítimas de guerra, órfãs e amputadas

 

Mais uma guerra se avizinha e o local onde as crianças e Mio vivem não é seguro, porém. O velho monge cego Biwamaru encontra, por acaso, uma cabana escondida no meio das montanhas onde elas poderiam se abrigar em segurança.

É claro que nada pode ser tão fácil nesse mundo desgraçado, e um demônio habita o lugar. Por gratidão, por paixão, Hyakkimaru vai imediatamente dar cabo de um besouro gigante, ainda que não esteja totalmente recuperado de seus ferimentos. A batalha é cruel, mas com a ajuda de Biwamaru ele vence, ao custo alto porém de perder sua perna boa – essa ele não recupera mais.

Com a voz recém-recuperada Hyakkimaru grita de dor, e enquanto isso, noutro lugar, Mio está se prostituindo, dessa vez para os dois exércitos, não apenas para um deles.

A intenção de Hyakkimaru e de Mio eram boas, mas ela está se arriscando demais e ele liberou o selo de mais uma desgraça ao derrotar esse demônio. Algo me diz que o próximo episódio será trágico. Não há lugar para a beleza nesse mundo.

 

 

  1. Com certeza foi o episódio mais lindo e tragico até o momento, gostei que a cena final ficou tão pesado e chocante mesmo você ja saiba (pq pelo tanto de pistas né) ainda me deixou angustiada, pelos dois.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Olá Hayssa, tudo certinho?

      Dororo é um anime tão bom e é tão doído não conseguir conceber que possa ter qualquer final que não seja trágico. Posso estar errado, claro, tem muita coisa pela frente ainda, mas tudo considerado não consigo imaginar um final que não seja na melhor das hipóteses amargo. E a equipe de produção está de parabéns por produzir algo tão tragicamente belo. Cada episódio é uma porrada diferente.

      Obrigado pela visita e pelo comentário 🙂

  2. gostei no termo “Tragicamente belo” é o que define esse anime. Concordo que pra uma obra tão intensa como essa um happy ending é quase improvável, ainda mais pelo momento histórico, uma guerra em andamento é um dos piores cenários possíveis pra alguém que ja sofre tanto quanto o hyakkimaru.
    Juro que me sinto mal por aguardar o próximo episódio a cada semana, mas sinto que vai ser um grande aprendizado tanto para quem está acompanhando como pro protagonista.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Eu não consigo botar tanta fé que o Hyakkimaru saia dessa história vivo para aprender alguma coisa, hein. Mas tem o Dororo. Esse papel pode ser do Dororo.

  3. Que texto lindo, realmente, um dos episódios mais impactantes de Dororo. Assim como eles estão adaptando a história do mangá, queria que esse arco tivesse um final diferente (mais otimista), mas vejo que foi justamente ele que faz o personagem principal mudar, de deixá-lo não mais frio, mas fazê-lo perceber a real natureza dos homens,que a maldade que existe não é só dos demônios. O próximo episódio promete ser bem mais carregado de emoções, é melhor nos preparar psicologicamente.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Olá Milena, tudo certinho?

      Em primeiro lugar, muito obrigado pelo elogio. É mais fácil escrever bons textos quando o anime é bom, hehe.

      E excelente questão essa que você coloca. No anime antigo o Hyakkimaru já é mais “ativo” desde o começo, por assim dizer, e esse arco que estamos vendo agora é parte de flashback dele. Não assisti mais do que isso para saber quão diferente ele era antes desse acontecimento, de todo modo.

      Nesse anime, por outro lado, pelo quê ele luta? Jukai apenas disse para ele sair aí pelo mundo matando demônios e recuperando as partes de seu corpo, mas ele quer mesmo recuperá-las? Ele está sofrendo mais a cada parte que ele recupera, e ele ainda pode perder de novo, de forma definitiva e muito mais dolorosa, como vimos nesse episódio! Então para quê?

      Esse arco certamente servirá para dar-lhe a motivação que precisa para continuar.

      Obrigado pela visita e pelo comentário 😊

  4. Não dá para descrever o que senti a ver este episódio 5 de Dororo, que episódio cruel (cruel e com uma qualidade excepcional, o que torna o episódio ainda mais triste).

    O começo do episódio foi excelente, a demonstração dos sons que tanta dor e sofrimento causam ao Hyakkimaru foi um toque especial, a certo ponto até eu já estava a sofrer com a personagem (o Dororo, cada vez mais começo a gostar do personagem, a maneira improvisada como ele aliviou o sofrimento do Hyakkimaru ao colocar um lenço a cobrir-lhe as orelhas, o Dororo já age como um irmão mais novo do Hyakkimaru).
    A luta contra a ave gigante demoníaca foi curta mas boa, nela pelo menos uma vez pensava ter visto um erro na animação, mas estava enganado, a cabeça do Biwamaru que tem um formato estranho.
    Durante um tempo tive a dúvida de como o Hyakkimaru recuperou a voz, até ao momento cada vez que o Hyakkimaru mata um dos demónios que lhe ficaram com partes do corpo, demora sempre um tempo, antes de tais partes regressem, logo dá para concluir que quando o Hyakkimaru perdeu a perna boa para aquele demónio insecto gigante ai ele já teria a voz (que veio daquela ave gigante que se semelhava bastante com uma fénix).

    A parte em que o Dororo, Hyakkimaru e Biwamaru vão para o refúgio da Mio, eu já pressentia que algo mais cru triste iria aparecer. E assim foi, a forma natural com que as crianças mutiladas e órfãs aparecem em cena ainda faz doer mais, já vi muitos animes de guerra, mas Dororo é o primeiro que vejo a mostrar crianças mutiladas de forma tão realista. Outra coisa que me deixou reflexivo é o facto de tal refúgio estar mesmo no meio do conflito entre o domínio do clã do Daigo e do clã Sakai, de tantos lugares esse onde a Mio e as crianças estavam era o pior de todos.
    O velho cego Biwamaru, esse tem se revelado um personagem muito bom, a forma como ele interage com o Dororo e o Hyakkimaru é muito boa e natural. Foi bonito ver que o Biwamaru foi procurar um lugar seguro para as crianças, mais um pouco e o Biwamaru chega perto de ser uma luz numa época tão escura e manchada de sangue.

    A conversa entre o Daigo e a sua esposa Nuinokata respondeu a tanta coisa que eu tinha dúvida, a Nuinokata sabe se certeza que perdeu o seu primeiro filho devido ao acordo do seu marido (a parte da conversa que refere a origem das más colheitas e a guerra disse tudo). O Tahoumaru, ainda não sei o que achar dele, mas já noto que ele se ressente da falta de afeição que a sua mãe sente por ele, o Tahaoumaru se sente revoltado com isso e pela expressão que ele fez ao ouvir a conversa dos pais, ele pode saber também do tal acordo com os demónios.

    Passando ao Hyakkimaru, que vida de sofrimento que ele tem, não bastava o sofrimento que ele já tinha passado desde que nasceu, agora sofre tudo de novo ao recuperar as partes do seu corpo. A voz da Mio trouxe um pouco de calma à mente do Hyakkimaru, todos os momentos em que o Hyakkimaru esteve com a Mio ele estava feliz (ele nem deve saber o que isso é), ao ponto dele gesticular a boca, como se quisesse dizer algo àquela mulher com a voz doce. Como no mundo de Dororo a paz e a calmaria são apenas uma brisa, o Hyakkimaru teve que ir outra vez combater, mesmo estando todo ferido (a pressa do Hyakkimaru em ir combater aquele monstro que ocupava o lugar ideal para a Mio e as crianças foi uma demonstração da importância da Mio para ele).
    O episódio 5 teve vários momentos dolorosos, mas a cena do Hyakkimaru perder a sua perna boa e gritar de dor, foi mesmo o cúmulo do sofrimento, o quanto mais ele terá que sofrer.

    Agora a Mio, que mulher de coração de ouro, logo de cara já gostei da personagem, a forma como ela se dirigiu ao Hyakkimaru, na parte do rio já mostra o quão doce e gentil a Mio é.
    Tem momentos em que queria que o meu lado ingénuo se fizesse mais presente, logo na cena do rio, já imaginava que algo não estava certo com a Mio, depois veio a parte onde um dos órfãos aos cuidados da Mio, disse que ela trabalhava de noite, ai os sinais de perigo do meu cérebro já apitavam. Mas foi quando o Dororo disse para a Mio que o Hyakkimaru conseguia ver as almas das pessoas e a Mio fecha as suas roupas como se sentisse suja, ai eu tive a certeza de qual era o trabalho dela. Em tempo de guerra é habitual haver mulheres que vendiam o seu corpo, mas custa ver isso com a Mio, uma garota tão doce e nobre como ela não merecia passar por tal coisa (num mundo tão sujo e podre como é o mundo de Dororo, até as boas acções deixam um sabor amargo na boca). Quando a Mio decidiu ir trabalhar para o acampamento dos soldados do Daigo eu já sentia ao longe que as coisas não vão correr bem, momentos antes, um personagem disse que os soldados do Daigo eram umas bestas, a Mio vai sofrer nas mãos deles e não vai levar nada em troca (disso já tenho certeza, os soldados do Daigo devem ser tão sujos como o seu senhor).
    Mesmo sabendo depois de tantas pistas mais do esclarecedoras, qual era o trabalho da Mio, vê-la a sofrer e a tentar não cair no abismo através da canção que o Hyakkimaru tanto gosta foi de doer a alma. E de doer ainda mais a alma, foi ver a reacção do Dororo a tal acto, o sofrimento neste anime não tem fim.

    Depois de ver o episódio reflecti durante umas boas horas, e cheguei à conclusão que a escrita de Dororo está num patamar superior, neste episódio em específico, quando o Hyakkimaru gritava de dor quando perdeu a sua perda e momentos depois mostra a Mio a sofrer e a tentar não deixar sair um som, pareceu tão poético.

    Antes de terminar, tenho que elogiar o título do artigo, ele sozinho diz tanta coisa sobre este episódio. Mas o ponto onde acertaste em cheio foi na frase final do artigo e citando-a “Não há lugar para beleza nesse mundo”, que frase tão condizente com tudo o que o anime tem mostrado, o mundo de Dororo é podre e realista, talvez realista demais para um anime que tem sobrenatural pelo meio.

    Facilmente este artigo de episódio 5 de Dororo é um dos melhores artigos que já li pelas mãos da tua pessoa.

    Como sempre, mais um excelente artigo de Dororo Fábio.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Olá Kondou, tudo certinho?

      Já estamos no oitavo episódio e esse arco continua sendo de longe o melhor do anime. Bem atrás dele vem o episódio do Jukai, que gostei bastante também, depois todos os demais episódios anteriores, o episódio da mulher-aranha, logo depois desse arco, e o oitavo episódio foi o mais fraco de todos – mas ainda bom. É como se Dororo estivesse de ressaca depois do arco da Mio.

      O ponto onde quero chegar é que bons episódios me ajudam a escrever bons artigos. Já devo ter dito isso antes para você, vivo dizendo para todo mundo, mas é algo que precisa ser repetido mesmo. Chegará o dia em que serei tão bom que conseguirei escrever bem tanto sobre episódios bons quanto episódios ruins, mas esse dia ainda não chegou.

      Não tenho o que acrescentar aos seus comentários, são todos certeiros e concordo com tudo, tendo pensado exatamente a mesma coisa no momento em que assisti ou imediatamente depois, enquanto refletia sobre o episódio. Acho que as únicas diferenças são que eu demorei bem alguns dias para entender que a voz tinha sido recuperada da ave (e há quem discorde mesmo assim, mas a explicação de que o Hyakkimaru recuperou a voz do besouro ao mesmo tempo em que perdeu a perna para “compensar” me parece complicada demais), e que eu não percebi logo na primeira cena exatamente o quê a Mio estava a lavar no rio. Mas assim que disseram que ela trabalhava a noite eu entendi tudo, e revisitando a cena, reparei nesse detalhe.

      Obrigado pela visita e pelo comentário! 🙂

  5. Está tudo certo comigo, com a excepção que não tenho tido tempo de comentar por aqui.

    Sou grande fã de Dororo até ao momento, mas não vou ser falso, o episódio 7 lá com a história da aranha e o operário da pedreira não achei grande coisa (gostei do episódio, mas não me marcou tanto como o episódio 3 e o arco dos episódios 5 e 6).
    Agora o episódio 8 também foi um dos mais fracos, mas gostei mais dele, foi bom ver o Dororo interagir com outra criança da sua idade, ver o Hyakkimaru com dificuldades no combate contra aquela centopeia gigante, só o final desse episódio que me fez torcer o nariz (foi meio conveniente a moça que tinha sido devorada pela centopeia estar viva).

    Já faz tempo que leio os teus artigos e bem, a tua evolução na escrita é excelente, já li artigos teus de animes que eu achei uma autêntica porcaria que elevaram a qualidade dos mesmos (um feito marcável, deixa que te diga).
    A mesma coisa para artigos teus de animes que eu achei muito bons, sem exagero os teus artigos semanais das duas temporadas de Shouwa Genroku Shinjuu foram autênticas masterpieces, em maior destaque os teus artigos da tua segunda temporada de Shouwa foram os melhores que li até hoje (superam e muitos os outros artigos que li em inglês e até em espanhol sobre o mesmo tema).

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Não gostou do episódio da mulher-aranha? Eu achei bem legal. Foi uma mudança em relação ao que estávamos acostumados em Dororo, sem no entanto deixar de contar algo relevante para a história como um todo. Do episódio 8 admito que não gostei muito, é o que eu menos gostei na verdade, mas ainda gostei bastante sim. Achei-o um pouco menos útil, e a Mio havia morrido há meros dois episódios, cedo demais para eu aceitar fácil que uma personagem sem nome sobreviva na barriga de uma centopeia demoníaca por um dia inteiro.

      E obrigado pela sua avaliação da minha escrita, espero continuar melhorando 🙂

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