Trigger é um curta-metragem produzido por japoneses e que tem como um de seus atrativos não ter falas. Ainda assim é possível entender a história que quer ser contada? É sobre isso que falarei agora.

Na história acompanhamos o amor entre ninjas de clãs rivais. A kunoichi acaba sendo perseguida por integrantes do clã rival após um encontro com o rapaz que ama, e tendo apenas outra kunoichi para protegê-la ela precisa fugir, tendo que lidar também com a indecisão do amado.

O filme pode ser mudo, mas tem sons, os quais não fogem muito do que se pode esperar de uma história de época de ninjas. O que destaco mesmo é o bom figurino, o cenário, que é de uma floresta e é muito bem explorado, e, principalmente, as cenas de ação que tomam boa parte dos poucos mais de dezenove minutos da produção.

Em uma história de ninjas, independentemente de ter romance ou não, é normal de se esperar ação e o que é entregue nesse curta corresponde apropriadamente a tal expectativa. O mais bacana é que quem se destaca nessas cenas é justamente uma kunoichi, uma mulher, figura que não costuma ser tão explorada na ficção quanto a do ninja.

E não só a kunoichi guarda-costas, mas também a kunoichi sendo protegida. Aliás, diferente de seu amado, ela não hesita em nenhum momento, seja para confiar nele ou lutar pela própria vida. Um dos pontos positivos desse curta certamente é a forma como as personagens femininas são bem aproveitadas.

Voltando as cenas de ação elas são muito bem coreografadas, apresentam intensidade e fazem sentido dentro do desenrolar da mini trama. O que significa a boa mão da direção, pois há equilíbrio entre os elementos utilizados para compor a narrativa.

Tudo isso sem falas, que ao mesmo em que tornam um pouco vazias as interações em cena, dinamizam essas mesmas cenas e concentram a atenção do público nas expressões faciais, nos movimentos corporais e até mesmo no sacar de espadas. Por parte do ninja do casal, ora contra a mulher amada, ora para defendê-la.

Confesso que não gostei da indecisão dele, ou de sua decisão questionável de atacar a “amada”, já que ele foi impedido quando ia erguer a espada. Mas mesmo que não fosse duvido que teria coragem de fazê-lo.

E é justamente por isso que ele era indeciso. Dividido entre a família e o amor, sem ter coragem de assumir uma posição. Pelo menos isso rendeu algo que considero positivo, pois a fraqueza dele expôs toda sua imaturidade, sua incapacidade de assumir a responsabilidade para a qual deveria estar pronto quando decidiu se relacionar com alguém de um clã rival.

E não é assim na sociedade até hoje? Quantos homens não assumem a responsabilidade que deveriam assumir? E nem me refiro tanto ao sentimento amoroso não, mas o que deriva disso.

Muitos homens não assumem a responsabilidade com os sentimentos da pessoa, as circunstâncias dela perante sua família, mas, principalmente, muitos homens não assumem a paternidade.

O desfecho desse caso de família, felizmente, explora bem a ideia, porque a situação é reparada no momento em que não seria mais possível protelar isso.

Mas deixo aqui o questionamento, a vida real nos dá oportunidades tão claras de reparar nossos erros como na ficção? Não, então nós homens temos que agir antes de ter uma espada apontada para nós e para quem a gente ama. Ou diz que ama, pois temos que provar isso mais com atitudes do que com palavras.

Parabéns a representação feminina nesse curta, ela foi excelente, apesar de eu não ter gostado do destino de uma personagem. É uma pena que ainda precisemos elogiar a representação feminina na ficção quando esta deveria ser uma ocorrência comum, não um caso isolado. Cada vez menos, felizmente.

Não percebi uma crítica direta a masculinidade nem nada do tipo, mas fico com essa mensagem reflexiva que é extremamente pertinente mesmo nos dias de hoje.

Assista Trigger, é um curta simples, mas muito bem feito.

O grupo responsável pela produção tem um canal no youtube no qual você pode conferir o trabalho. O link está aqui.

Até a próxima!

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