Moriarty: O Patriota – ep 5 – Dança macabra
Não importa quanto dinheiro você tenha, quantas posses ou qual seja a sua classe social. Tanto mendigos quanto reis, um dia, dançarão no mesmo salão. Pois na dança da morte todos somos iguais.
A história desse episódio é extremamente trágica. Uma história de amor entre um jovem e inocente garoto e uma bela e alegre garota. Ambos com uma vida inteira pela frente. Mas com um único e instransponível obstáculo: suas classes sociais. Ela, de classe baixa, teve sua vida roubada e seu amado, um nobre, teve o seu coração despedaçado. Tudo isso porque alguém, mais um “demônio” que sustenta esse sistema de classes distorcido, roubou tudo deles para seu benefício próprio.
Interessante notar que esta história é mais outra em que um assassinato é tema central, coisa coerente com a ocupação do Moriarty como consultor criminal. Já é seguro dizer que isto é um padrão e que teremos mais dessa fórmula investigativa-criminalística. Mas claro, as perversidades da nobreza são mais importantes do que isso. E nunca se deve esquecer que isso é o problema central dessa história.
Outra coisa a se comentar é sobre o ópio que foi usada pelo vilão do episódio. Não entrarei em detalhes sobre a droga, importante o suficiência para ter guerras com o seu nome. Mas ela também é muito citada nas histórias de Sherlock Holmes, sendo até mesmo os efeitos do ópio algo estudado pelo grande detetive. Além do conto O Homem do Lábio Torcido ter a droga como ponto de partida desse divertido mistério.
E também tenho que citar essa ideia sobre casamentos entre pessoas de diferentes classes sociais ser algo muito interessante. Como já ficou bem claro o anime está dividindo as classes em duas, a aristocracia e a classe baixa. Mas a classe média, a burguesia, não foi devidamente definida. Nela você notaria a importância do casamento como aquisição de dotes, uma forma de manter e conquistar posses. Esse interesse material é por sinal esperado da classe capitalista.
Mas a classe aristocrática não, é o sangue, a linhagem e os títulos que realmente importam. É o poder que move e é o poder que mantém a classe aristocrática como classe dominante. E justamente por ter o poder é que eles são inexpugnáveis. Mas então, como vencê-los? Mesmo o Moriarty não é capaz, porque ele é o cérebro, ele é apenas a cabeça, e uma cabeça precisa de um corpo. Corpo esse que nada mais é que sua organização criminosa. E nesse episódio dois membros dela foram revelados.
Um deles eu tinha certeza que veria, o coronel Sebastian Moran. Se Moriarty é a mente planejadora então o Moran é o carrasco, o algoz. De acordo com o próprio Holmes ele é o segundo bandido mais perigoso de Londres, atrás apenas do professor Moriarty. Ele aparece no conto A Casa Vazia que marca o retorno do detetive após O Problema Final, única e última obra em que o Moriarty aparece. Na verdade, essa é a cronologia temporal, pois entre um conto e outro temos a publicação do aclamado romance O Cão dos Baskerville. Para muitos a melhor de todas as histórias do detetive.
No entanto a minha história favorita é O Vale do Medo, até hoje um dos melhores mistérios policiais que já li. Aliás, esse romance se inicia com uma carta de um tal Fred Porlock. Exato, o outro membro da quadrilha. Aqui ele demonstrou ter habilidades de disfarce, o que mantém o mistério de sua contraparte literária. Porlock é como um fantasma, estando ao lado do Moriarty e trabalhando para ele.
Porlock troca cartas com Holmes onde afirma que o detetive nunca o encontraria, revelando que Fred Porlock nem mesmo é o seu nome real. Mas seja como for, ele ajuda o detetive com informações sobre o professor Moriarty. Então se alguém desse bando pode virar um traidor no futuro, eu apostaria minhas fichas no Porlock.
Uma coisa que me agradou no início desse episódio foi que a trama parecia investigativa. Fiquei curioso para ver, mas acabei muito decepcionado. Aquilo não foi um mistério, o anime nem se esforçou em dar pistas ou construir deduções lógicas. Enfim, não tivemos uma investigação de fato, muito menos um mistério. E no final o anime tirou várias explicações da cartola, dizendo coisas nunca antes ditas e mostrando coisas até então nunca mostradas. Foi realmente muito mal trabalhado o mistério.
Mas quando eu fui ler o mangá comprovei qual é o principal problema desse episódio. É a adaptação, o roteiro, esse é o problema. E pior, eu não acho que isso mudará. Pois o problema aqui é que o anime adaptou um capítulo inteiro. Um capítulo de sessenta páginas. Não deu para adaptar, simples assim. Talvez nos próximos eles trabalhem melhor? Duvido, mas vamos aguardar por mais alguns episódios para ver o quão precária será essa adaptação.
E já me defendendo de erros passados, eu não gosto do argumento “Ah, mas no mangá é diferente, você não entendeu porque não leu o mangá”, pois uma adaptação tem como obrigação ser independente como obra. Contudo, o material original é sempre uma grande fonte de comparação. E a comparação é uma das formas mais eficientes de se fazer uma crítica. E nesse caso ela evidencia inumeráveis falhas da adaptação. Que espero não vê-las mais nos próximos episódios.
Até mais.