Horimiya é um anime do estúdio CloverWorks que está planejado para 13 episódios e tem sua exibição na temporada de inverno de 2021. O mangá no qual o anime se baseia é a segunda versão da história, a primeira (Hori-san to Miyamura-kun) foi ilustrada e escrita por HERO, mas a segunda é ilustrada por Daisuke Hagiwara. A série já teve uma adaptação da versão antiga em quatro OVAs, sendo que mais dois foram anunciados antes da exibição do anime para a TV.

Na história acompanhamos Hori e Miyamura, dois colegiais colegas de sala que não têm qualquer proximidade até um dia em que Miyamura ajuda o irmão mais novo de Hori e com isso conhece um lado da garota que ela não revela na escola, e ela tem a mesma experiência ao conhecer um lado que Miyamura faz questão de esconder. É ao compartilhar seus segredos que Hori e Miyamura se tormam amigos e compartilham o dia a dia enquanto desenvolvem sentimentos um pelo outro.

O início de Horimiya é aparentemente comum até o momento em que os protagonistas se cruzaram na rua e mesmo o telespectador mais desavisado deve ter percebido que aquele carinha “alternativo” era o carinha tímido de óculos da escola, mostrando que Horimiya é um romcom que vai lidar com contrastes, mas também com os segredos que as pessoas querem manter de outras. Hori é bem mais “família” do que aparenta ser e Miyamura tem aparência de “punk” fora da escola.

Ao mesmo tempo em que têm perfis diferentes, a opção por não mostrar a outras pessoas esse outro lado de si é a mesma. Contudo, de forma ocasional e até natural um vê esse lado do outro e nenhum dos dois se sente incomodado com isso. O Miyamura poderia muito bem ter desconversado quando percebeu que ela não havia notado quem ele era, mas não fez isso, pelo contrário, se sentiu mais a vontade ainda para quebrar o (pré)conceito dela. Aliás, ele é bem o contrário do que parece, né?

Miyamura é um destruidor de aparências que chega a fazer rir por esse contraste todo, com isso o roteiro se aproveita da (im)previsibilidade de sua figura para ir esmiuçando o personagem. Essa iniciativa acaba soando bem natural dentro do desenvolvimento da trama, além de brincar com o tema até com certa seriedade. Além disso, ele pode ter piercings e tatoos, mas seu jeito de falar e gênio nada se parece com o de um rebelde, ele é tranquilo, calmo, mas nem por isso enfadonho.

E não só isso, Miyamura também é bonito, tem traços mais delicados e um sorriso marcante, é por esses e outros detalhes, além da personalidade interessante, que a Hori vai se sentindo atraída por ele. Pelo jeito como ele se refere a ela parece muito recíproco, só não fica claro porque isso não foi mostrado pelos olhos dele. Em todo caso, os dois acabam se tornando amigos e interagem nas tardes da garota e do irmãozinho em casa, antes solitárias, agora com um ar de novidade.

A intimidade dos dois chega a tal nível que ela o pede para aproveitar a promoção dos ovos e nisso temos uma das cenas mais plásticas (mais bem animadas e bem dirigidas) dessa estreia, uma cena tão bacana também por envolver a Yuri (que parece ser a melhor amiga da Hori) e que me passa a impressão de que, como o Ishikawa, ela pode desenvolver sentimentos por um dos protagonistas. Mas não o do mesmo sexo que ela, apesar das brincadeiras bem humoradas com BL.

E não senti preconceito nessas brincadeiras, até gostei da no pós-créditos. Aliás, não foi só a animação que me agradou por sua simplicidade com consistência e beleza, a direção como um todo foi muito agradável e soube entender o pacing que o anime poderia entregar já em sua estreia, em que adaptou alguns capítulos e ainda assim não deu a ideia de rush. E não foi só isso, o timming cômico do anime realmente me agradou, houveram várias cenas engraçadas, mas nada que soasse exagerado.

Na sequência o anime emplaca ótimos momentos nos quais não só se entende o avanço da relação dos protagonistas, mas se vê na prática que a amizade deles ultrapassa o cenário da casa da garota e chega a escola, a tão temida escola. Na verdade, nem sei se eles são tão complexados assim por esconderem coisas dos colegas, pois com o que o Miyamura mostra ao Ishikawa fica na cara que aos poucos o lado secreto deles deve ser revelado aos amigos, que podem ter o mesmo, né.

Seria clichê todo mundo apresentar um contraste relevante entre o que mostram para os outros no círculo social que compartilham e o que são fora dele, mas não pensemos no que o anime pode ser (ao menos não de bobo ou ruim) e foquemos no que ele é, um romcom doce e agradável no qual a rasgação de seda entre os protagonistas pode até ter dado diabetes de tanta doçura, mas não deixou de ser um baita momento em que fica claro que não há dificuldade em dizer o que sente.

Raramente vejo um romcom em que isso é feito. O mesmo vale para a estranha proximidade que o Miyamura acaba tendo com o Ishikawa, que vê o garoto primeiramente como um rival, mas acaba sendo até simpático e sincero com ele. Aliás, não duvido que a Yuki se interesse pelo Miyamura até por isso, para prover esses interesses cruzados tão clichês em animes, que a gente sabe que não vão dar em nada, mas podem dar um empurrãozinho para o futuro namoro que deve se concretizar.

Enfim, gostei de como o Miyamura deixou seu complexo de inferioridade transparecer na maneira que ele falava sobre o que achava que era para a Hori, porque isso é algo que deve ser trabalhado na relação dos dois, além de ter facilitado sua relação com o Ishikawa. Também tem aquilo, é normal pisar em ovos por medo de que algo se quebre na relação. Quer o Miyamura dê a entender que está afim da Hori tanto quanto ela dá a entender que está afim dele, esse tipo de situação é delicada.

Tanto é que a Hori explode com o Miyamura e isso gera uma cena para lá de engraçada, mas também muito bonita. Achei incrível como a direção foi capaz de enfiar tanta coisa em um episódio só e ainda assim não se perder, dando a dimensão exata da profundidade da relação dos protagonistas até ali. Mais que amigos, menos que namorados, e menos não porque não conseguem transmitir o que sentem, mas porque ainda não foram exatamente levados a tomar essa decisão.

É a minha impressão mesmo que você considere que a confissão do Ishikawa seja um sinal de alerta, pois na verdade ela não foi. A Hori não gosta dele e deixou isso claro, assim como foi bem clara em deixar claro que não quer perder o que tem com o Miyamura, então a tendência é de que em algum momento (talvez próximo episódio, mas duvido que no décimo terceiro) os dois namorem, não precisa acontecer na urgência pelo interesse de outra pessoa por um dos dois, seria muito clichê.

Ao mesmo tempo pareceu sim que a confissão pudesse rolar ali naquele final, mas acho que não era a hora. Digo, não há pressa para tal. Se na cultura japonesa namorar é passar tempo juntos antes de mais nada, então o que os dois têm já é uma espécie de namoro, só precisa ser nomeado assim e dar permissão a algo mais. Na verdade, vazão, porque o interesse de um no outro já é claro e a história não precisou apelar para situações forçadas ou outras bobeiras comuns nos romcons.

Por fim, tecnicamente Horimiya foi muito seguro em sua estreia, mas o que cativou mesmo foi seu roteiro criativo e divertido, mexendo com temas recorrentes na ficção (contrastes e segredos), mas que sempre podem agradar com uma boa fórmula. Os protagonistas me agradaram demais, Hori e Miyamura têm ótimas personalidades e boa química, me fazendo torcer pelo sucesso da relação. Horimiya tem tudo para ser o melhor romcom da temporada, quiça do ano, e esse lado é todo nosso!

Até a próxima!

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