Após de tantos anos passados Eren Yeager e Reiner Braun se encontram cara a cara novamente. Da última vez que eles se viram o Reiner era o vilão da história. Mas dessa vez os papéis parecem ter se invertido. Na verdade eu discordo dessa afirmação, não apenas da situação se inverter como do fato do Reiner ter sido o vilão. Da mesma forma o Eren nunca foi o herói. E depois do que fez nesse episódio nunca mais será.

Uma coisa clara é que em momento algum o Eren demonstrou ter dúvidas, ele sabia exatamente o que estava acontecendo, o que já havia acontecido e o que iria acontecer. Ele sabia que acima daquele prédio uma multidão de inocentes seriam massacrados por ele e que ainda mais pessoas morreriam no futuro. Corrigindo o eufemismo; ainda mais pessoas seriam assassinadas no futuro. Assassinadas pelas suas próprias mãos. Ele sabia e ainda assim decidiu seguir em frente.

O quão diferente isso é do Reiner quando ele e seus companheiros destruíram as muralhas? Na minha opinião, nenhuma. No final das contas “eu sou como você” é a frase que nos esclarece a sua decisão. Ambos veem o outro como o “inimigo” e ambos estão corretos nessa conclusão. Ambos são perigos reais, Marley mostrou isso ao destruir as muralhas de Paradis e agora quem vai provar a veracidade do perigo mútuo é o próprio Eren. Mas esse não é a grande conclusão desse episódio.

O que realmente esse episódio fez foi enterrar a figura do herói, foi o Helos imponente que se foi. Não há mais heróis nessa história, tão pouco vilões. Repito o “eu sou como você”, ele é importante. Lembram do motivo egoísta do Reiner? Era “ser um herói”, mas não existem mais heróis nessa história. O mito de Helos já foi destruído. O Eren viveu junto com aquele povo da mesma maneira que o Reiner viveu com o povo de Paradis. Ele sabe o que está para fazer e sabe que não há justificativas para aquilo.

Do outro lado nós temos outra pessoa na mesma situação. Willy Tybur também sabe que nunca existiram heróis e que nunca existiram demônios. É importante deixar claro que ainda assim existe o errado, os crimes não deixaram de existir. Tanto o Eren, o Reiner e Tybur carregam os pecados e os erros dos seus antepassados em seus ombros.

Mas tão pouco são inocentes. Todos tiveram e ainda tem a opção de negar a guerra e aceitarem a paz. O Reiner até se ajoelha e pede para ser morto, ele se arrepende de todo o sangue inocente que já derramou. Mas os outros dois estão preparados para derramarem ainda mais se for necessário.

O Tybur esclarece o motivo ao afirmar “eu não quero morrer” e o próprio Eren concorda com isso. Ele escolheu proteger Paradis, mesmo que precise destruir o mundo inteiro para isso. Outra coisa que ambos concordam são que todos são iguais, mas mesmo assim os dois estão dispostos a destruírem os seus inimigos. É importante perceber que o Tybur não é um cara do bem compelido a fazer o mal. Não, ele escolheu fazer aquilo ao mesmo tempo que ele mesmo está usando daquilo ao seu favor.

Mas tão pouco ele é um vilão ou coisa que o valha. Tudo aquilo que ele disse era verdade, ele realmente está do lado de toda a humanidade. Pode parecer errado dizer “toda” quando o pessoal de Paradis também faz parte da humanidade, mas não é como se o Tybur não visse eles como pessoas. Ele nesse episódio deixou claro ao dizer “eu não quero morrer” que aquilo que ele busca é apenas a sobrevivência da espécie humana.

Ocorre que Paradis é um perigo, um perigo real e que ameaça a sobrevivência de todo um continente. O “todo” é apenas o todo que está ameaçado e que pode se unir contra esse temível inimigo. Não estou dizendo que é justificável destruir um povo inteiro, mesmo que isso salve todos os outros povos restantes. Aqui entraríamos no tão conhecido dilema do trem. Mas é importante dizer que o próprio anime não entra nesse dilema ou pelo menos não cai na tentação de dizer quem está certo e quem está errado.

Quanto a essa resposta ambos são igualmente justificáveis. Ou injustificáveis se preferir dizer. O Tybur não é diferente do Reiner ou do Eren, todos estão certos e errados pelos mesmos motivos. A única diferença é que o Tybur pretende ser o novo Helos para aqueles povos, ele acredita ter o dever de se tornar o herói que irá redimir toda a humanidade. Mas, como já deixei claro não existem mais heróis em Shingeki no Kyojin. E nada mais justo que o episódio acabar com a morte do último deles.

Eu só quero lembrar que aquilo que o Eren deseja é destruir a humanidade inteira, matar milhões de pessoas inocentes, entre elas um número incontável de crianças como aquele Eren do primeiro episódio de Attack on Titan. Não vou me aprofundar nos problemas morais dessa escolha agora, os crimes devem ser julgados um de cada vez. E acho que no próximo episódio eu posso comentá-los com mais cuidado.

Sim, deixei muitas coisas de fora aqui, inclusive toda a história revelada. Mas acho que este texto já está longo demais. Contudo é inegável a importância de tudo que foi dito além de muito elogiável a forma como foi revelada. A parte visual foi muito importante para o entendimento ao ponto de ser de fácil compreensão desde que se tenha prestado atenção naquilo que foi narrado.

Esse foi um episódio incrível e que mudou completamente o futuro da obra. E acabou justo no melhor momento. Se esse episódio esclareceu os perigos e crueldades da guerra então o próximo terá a chance de mostrar isso na prática. Aliás, sobre essa cena final vi que ocorreu certa reclamação quanto a ausência da trilha sonora. Tenho que confessar que esse era um dos pontos que pensei em comentar antes mesmo da tal polêmica.

De fato o diretor errou em não fazer um bom uso da trilha sonora. Foi uma grande oportunidade desperdiçada que tornaria a cena seria ainda mais épica. Agora, ficar aborrecendo alguém só por esse motivo é no mínimo idiota. Principalmente quando a direção do anime vem fazendo um grande trabalho até aqui. E espero que assim continue, até mais.

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