Megami no Café Terrace (Goddess Café Terrace) é o mais novo mangá de Seo Kouji (Kimi no Iru Machi, Suzuka, Fuuka, Hitman), um verdadeiro mestre do romcom dramático, a sair na Weekly Shounen Magazine.

Na história acompanhamos Kusakabe Hayato, um garoto que passou na Toudai (a universidade mais prestigiada do Japão), mas tinha problemas de relacionamento com a vó, deixando a casa dela ainda três anos antes. Um dia ela falece e ele precisa retornar ao lar, um café caindo aos pedaços em que moram cinco garotas contratadas por ela para atuarem como garçonetes e que, a maneira delas, acabam ajudando Hayato a se reencontrar com seus sentimentos.

As primeiras páginas do mangá são bem clichês e empilham cenas de fanservice com as garotas, cujos designs justificam pelo menos em parte o respaldo que esse autor tem. Aliás, meu único contato com ele foi pelo anime de Fuuka (que é bem diferente do mangá), então é meu primeiro mangá dele e posso garantir que gostei do que eu li.

Isso porque, sejamos honestos, não dá para toda hora achar ruim fanservice em comédia romântica, ainda mais quando a proposta é justamente essa. Pelo menos Kouji faz um bom trabalho em construir personagens nem tão enlatados assim.

Por exemplo, nesse episódio houve drama, mas ele não tomou a narrativa e isso fez com que todos os elementos com os quais o autor quis trabalhar acabam balanceados, nem de mais nem de menos. Além disso, não só o protagonista, mas as garotas também têm personalidades bem definidas, não parecem apenas um estereótipo.

É claro que ainda é cedo para garantir isso, não dá para mostrar muito de cinco, seis personagens em um capítulo só, mas o que me faz pensar assim é em como ele teve a oportunidade de taxar logo esses personagens, mas não o fez.

O protagonista, Hayato, não é um virjão bobão, mas também não é um turrão que chegue a ser estúpido. O garoto tem personalidade, não cede as atrapalhadas tentativas das garotas de seduzi-lo para evitar a demolição, e melhor, reflete sobre o que realmente quer e topa o desafio, mas sem deixar de pelo menos definir um fundo de realidade ali.

É claro que ele pode só estar falando da boca para fora e pode muito bem seguir com a cafeteria mesmo que ela não dê tanto lucro assim, vai saber o que pode acontecer adiante na história, mas é importante que ele diga isso porque é nesses detalhes que o personagem parece mais ponderado, mas crível; nem bobo demais, nem “adultão”.

Hayato se mostrou um personagem maduro para a sua idade (e não teria como ser diferente para quem perdeu os pais cedo, morou sozinho cedo, ralou muito para passar em uma universidade de ponta, etc), mas ao mesmo tempo isso não significa que ele deveria abrir mão dos sentimentos que a sua vó e a casa que ela ergueu (e sobre a qual construiu uma família) o fizeram retomar mesmo após o falecimento dela e a iminente demolição do lugar.

O arroz pilaf, prato preferido dele, certamente o ajudou a perceber esses sentimentos porque se tratava de algo sólido, algo palpável que o remetia a certas memórias.

Mas toda a construção do cenário em que as garotas queriam seguir vivendo e trabalhando naquele espaço (por causa do carinho e do sentimento de família que a vó dele criou ali, mas também da necessidade, claro) teve peso na decisão final e isso é importante.

Dentro da estrutura de romcom que esse mangá terá acho que o piloto dele não foi impressionante, mas foi sim consistente. Inclusive, adorei a quebra de expectativa com o ataque no banho que não ocorreu.

É sério, pode parecer besteira, mas seria algo tão manjado que só do autor usar isso como recurso para sofisticar a estratégia de sedução das garotas fez com que elas ganhassem pontos comigo.

E também fez com que ele (o autor) me desse a esperança de que a história terá sim seu fanservice, mas não será definida por isso. Digo, ele teve muitas oportunidades de enfiar mais fanservice ao longo do piloto, mas isso não aconteceu, acabou que foi mais algo para chamar a atenção mesmo.

Não que não terá sua relevância e nem que não vá se desenvolver um romance com alguma delas ou até com todas (vai saber, né), mas essa estreia me passou a impressão de que o autor domina esse recurso e sabe usá-lo como convém a narrativa, não para mascarar inaptidão em como contar uma história e sim manter o leitor interessado.

E olha, as garotas que ele desenha são umas beldades, e melhor, não tem como gostar só do visual delas, elas também são bem simpáticas e parecem moças reais sim. Ao menos o que eu esperaria de moças reais que não têm outro lugar para ir e até por isso devem ter acabado atraindo a simpatia da velha.

Eu prevejo uma boa perspectiva de desenvolvimento da trama se o autor souber usar esse apelo, trabalhando as histórias de cada uma e fazendo com que a relação dele com elas melhore ao ponto de ele também conseguir considerá-las parte de sua família como sua vó fazia.

Sério, seria bem legal ver o Hayato tendo uma construção em cima disso, de sua relação com a avó, das coisas que ele não entendeu e ela queria ensiná-lo.

Por mais que tenha tido 75 páginas, ainda foi pouco para acreditar piamente que isso acontecerá e será bem-feito, mas eu com certeza consigo ver muito potencial no mangá e posso garantir que ele me cativou pelo seu equilíbrio em diversos aspectos, e tudo isso sem abandonar elementos que até onde sei ele gosta de abordar em seus mangás.

Por exemplo, tem uma garota karateka, outra baterista, as outras já não têm algo tão forte que ajude a caracterizá-las, mas isso também é bom porque dá a oportunidade que elas sejam mais do que um hobby ou um ofício.

Não que apenas o karatê ou a música definirão essas duas personagens que têm isso como apelo, mas a questão é que não precisa ser tudo entregue ao público de maneira tão uniforme. Aliás, consegui ver potencial nas personalidades das cinco mesmo que uma ou outra tenha chamado mais minha atenção nesse início.

Acho, por exemplo, que ele deve se envolver amorosamente com uma delas (mas não vou dizer qual, não lembro os nomes de todas mesmo), porém, é só um palpite, nada aponta para isso com clareza, o que há são apenas pessoas se conhecendo.

Jovens se conhecendo e tentando juntos trabalhar para seguir com o legado de uma senhorinha idosa que parece super simpática, mas também não era perfeita, afinal, vivia na pindaíba e até por isso seu neto acabou se afastando dela. O que também não a crucifica, aliás, talvez seja até o contrário.

Ao que tudo indica a ideia dela de família será o que unirá o Hayato as outras garotas e fará com que eles se entendam, dando prosseguimento não só aos negócios, mas a família de fato que ela construiu com aquelas garotas em dificuldade as quais ela estendeu a mão.

Inclusive, uma das cenas mais bonitas do piloto foi o garoto falando que ficou feliz pela vó ter morrido sorrindo. Creio que ele irá perceber que há mais na vida do que ter sucesso para esfregar na cara dos outros e que ela era feliz mesmo com dívidas e sendo mal falada porque há coisas mais importantes na vida, convenhamos.

Por fim, posso dizer que gostei de Megami no Café Terrace e vou tentar ler o mangá. Acho que não é um ecchi que vai excitar você, essa nem me parece ser a intenção do autor, mas tem outros predicados interessantes mesmo que não tenha se destacado pela comédia e não tenha pesado a mão no drama.

Acho que com equilíbrio em diversos aspectos, clichês aos quais praticamente todo autor de sucesso cede hoje em dia e uma temática calorosa esse mangá tem tudo para ser uma boa leitura. Indico para quem aprecia as obras do autor, não odeia fanservice e nem protas não virjões ou heroínas fortes.

Até a próxima!

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