Conto de fadas, sapatinho de cristal? Não, isso é muito “démodé”, vamos de Japão, século 21, numa época onde as pessoas perdem coisas mais “complexas” e bizarras, e no caso dessa história em particular, o objeto chave que conduz o plot comicamente romântico é uma calcinha.

Assim como falei quando assumi essa obra na temporada de Julho em 2019, HenSuki ou Kawaikereba Hentai demo Suki ni Natte Kuremasu ka?, passava muito longe do meu radar por eu achar que a obra ia se segurar na baixaria sem nada a acrescentar, e como me enganei – felizmente corrigi esse erro a tempo.

De forma bem resumida, o enredo se calca na saga de Keiki para encontrar a sua admiradora secreta, cujo presente foi a peça íntima citada. Porém, para quem achou isso simples demais – mesmo para uma obra que vende uma certa perversão -, é nos personagens que entra a “inversão” e diversão da coisa.

A cada garota conhecida é uma surpresa diferente e nenhuma delas agrada o protagonista, que de longe consegue ser a pessoa menos afetada dentro do seu núcleo, vindo daí seu espanto com aquelas que tem tudo para ser perfeitas – e que são, mas somente para quem não as conhece a fundo.

Sayuki é a típica senpai peituda e perfeita, porém altamente masoquista. Yuika é uma menina doce e simpática, mas descaradamente sádica. Nanjou é a amigona do peito cujos olhos BL nunca param de funcionar. E por fim temos a Mizuha, a imouto controladora e forçadamente normal – mas que de normal não absolutamente nada.

Como brinde ao quarteto de pretendentes maravilhosas, temos o amigo lolicon Shoma, que é quase um irmão para o Keiki, além a Koharu, que é a famosa “loli velha” e uma stalker do mais alto calibre – que inclusive começam a formar um foco romântico disfuncional e engraçado. Ainda tem outros personagens secundários esquisitos como a Fujimoto farejadora, mas esses são os que realmente brilham em cena.

Eu confesso que algo que me fez simpatizar bastante com a obra é que o relacionamento de todo o grupo central é engraçado, bacana e diria até que dentro da normalidade estabelecida pelo autor, porque não dizer que é estranhamente orgânico. As coisas em que se metem são absurdas e é um vale tudo para levar a melhor, então o extremismo nas ações aqui é comum.

Para além desse excesso, também é interessante como mesmo tendo seus lados “ruins”, todos também tem seus momentos de união, amizade e compreensão, sem que a competição martele o tempo todo e prejudique qualquer um, mantendo o fair play do começo ao fim.

Na verdade esse comportamento é até uma mostra de como as personagens de fato se importam com o protagonista – até com elas mesmas – e com o significado que ele tem, já que ao longo do anime vamos descobrindo como ele é uma figura positiva na vida dos amigos, ainda que a galhofa predomine a maior parte do tempo.

Ao longo de seus 12 episódios, HenSuki consegue segurar bem o grande mistério da dona da calcinha – embora eu não simpatize com muito com ela, já dando um spoiler -, sempre criando pequenas reviravoltas para que a moça não fosse descoberta, ou que as outras se atrapalhassem e bagunçassem o intelecto do protagonista.

A condução da história também não deixa a desejar, pois mesmo com a repetição das perversões nas garotas, as situações sempre dão um jeito de se reciclarem e ficarem divertidas de algum jeito. O diretor é pouco experiente na área – os poucos animes que dirigiu são curtas -, mas se esforça para extrair algo legal do original e ao menos comigo funcionou bastante, claro que tudo sempre pode ser melhor, mas no geral não tenho queixas nesse sentido.

O calcanhar de Aquiles da adaptação sem dúvidas é a animação feita pelo GEEKTOYS em colaboração com o Seven, onde um é recente e o outro mais especializado em hentais e curtas, ambos com a mesma inconsistência gráfica. O design dos personagens é até bonitinho, contudo a animação em si e os cenários são uma bagunça, especialmente o segundo.

Eu já tinha feito um comentário sobre isso antes, lá no começo do anime, mas gente é simplesmente de agonizar aqueles planos em perspectiva – marca registrada do Seven -, a proporção é toda jogada fora, os ângulos não fazem sentido e mesmo assim isso é usado de forma recorrente. Obviamente que esse pormenor não estraga a diversão geral, caso você não seja muito exigente e se importe mais com a narrativa do que com o visual, no entanto é algo notável na produção e que pode te fazer descontar uns pontinhos no final – eu não tirei pelo fator sentimental, porém fica a crítica.

HenSuki é uma obra que tem uma premissa torta e não muito convincente, só que em momento nenhum ela se vende como algo grande – mesmo sendo diferente do padrão – e talvez por isso que dê certo. Se você não curte gente pervertida, desequilibrada e sem qualquer senso de dignidade, é certo que não vá gostar.

Agora caso goste dessa salada de aleatoriedades e da loucura proposta, pode curtir bastante a história das Cinderelas que já passaram da meia noite e viraram abóboras, junto a um príncipe que também não vem num cavalo branco, mas todos do bem e unidos pela comédia.

 

Agradeço a quem leu e até a próxima!