Peach Boy Riverside – ep 12 final – E a jornada continua…
Do que os ogros são feitos? De ódio. Plot twist? De forma alguma. Mas foi interessante a informação dada de que alguém usa o ódio dos humanos para criar os ogros. Se um dia tiver uma segunda temporada, será que veremos este elemento? E se tiver, também não seguirá a ordem cronológica? Não sei. A única certeza que tenho é de que o saldo foi positivo; tanto do episódio, quando do anime; e agora vou explicar porquê.
Por que, no fim das contas, foi melhor não lançar o anime pela cronologia? Porque essa dinâmica alternativa proveu uma interpretação diferente da trama, algo que só foi possível pelo encaixe de temas diversos que essa decisão de organização provocou. Por exemplo, o arco que fecha o anime foi talvez a melhor opção para encerrá-lo, apesar de não ser o último de fato. Por quê? Porque ele solidifica o desenvolvimento da Sally.
Mas antes de chegar nele, você não acha interessante a dicotomia, ou suposta dicotomia, que o Sumeragi e o Mikoto promovem? Um quer sangue, mas suas ações têm se desviado desse caminho pouco a pouco, enquanto o Sumeragi quer a paz, mas age de maneira às vezes até contrária a esse objetivo. Não à toa nem o Mikoto bateu de frente com ele, a desculpinha de ver o crescimento da Sally não colou muito não.
O Sumeragi é o tipo de vilão que é clichê por manipular as situações e com isso manipular até certo nível o desenvolvimento da heroína, ao mesmo tempo em que fico me perguntando se ele vai ficar só nisso ou apresentará uma faceta mais interessante, de alguém que pode até não ser adepto da bandeira que levanta, mas também não está mentindo de todo. Será que ele não quer ver o mundo que a Sally é capaz de criar?
Porque, convenhamos, se suas intenções são o contrário do que diz, não é muito inteligente fortalecer uma inimiga futura, afinal, no presente momento da história a Sally não é capaz de prover oposição de ideias a ninguém. Ao mesmo tempo, esse arco encorpou mais a convicção da heroína, pois ela não só entendeu melhor o funcionamento de seu poder, como lhe foi revelada sua natureza e ela testou seus próprios limites.
E entrar em um acordo com o ogro da árvore, que não demonstrou empatia pela própria raça, era um deles. Então, apesar de me incomodar um pouco a Sally falar em harmonia matando ogro a torto e a direito. Felizmente, ela também só mata aqueles com os quais não dá para ter nenhum tipo de diálogo mesmo, e esses são os não humanoides, será por acaso? Acho que não, e diria que isso é uma pena.
Pelo menos temos a Frau como uma das companheiras de viagem da Sally, então espero que o autor, em uma eventual continuação, tenha pensado nisso, em expandir a pluralidade de jeitos e formas dos personagens com os quais a Sally interage, e aos quais ela defende, a fim de enriquecer a própria personagem, que se sustenta em seu ideal de entendimento mútuo, ainda que este tenha pelo menos um dos pés no chão.
Saindo da Sally e sua demonstração implacável de poder, agora entendemos que a derrota da Millia para ela foi mais moral que qualquer outra coisa, e que ter sido salva pela heroína, uma humana, foi o golpe de misericórdia em seu orgulho enquanto ogra, este já minimamente abalado pelo desprezo de seu “semelhante”, coisa que em certo grau justifica demais a retirada do chifre, o desapego a sua identidade de outrora.
Então, a Sally pode ter mudado de abordagem, mas não traiu seus ideais, apenas flexibilizou suas ideias, perdendo parte da inocência que a restava, isso antes de saber que as raízes do conflito são muito mais profundas do que ela pensava. Até por isso esse episódio caiu tão bem para o último do anime, pois fez um “balanço” do que foi a heroína em sua jornada de autodescoberta e solidificação da identidade enquanto adulta.
Ao sair debaixo das asas do pai Sally ganhou a oportunidade de se desenvolver como pessoa, interagir com o diferente, criar laços que nunca formaria como princesa, reunir informações e sentimentos para formar opiniões e definir desejos. Esse desenvolvimento me agrada muito em uma heroína, pois foi sustentado por uma trama às vezes clichê e previsível, mais muitas vezes instigante e inusitadamente consistente também.
Além disso, também tem o Mikoto, um personagem bem interessante pela dicotomia (essa mais passível de ser chamada assim) que representa em relação a Sally, alguém de ideias quase que completamente opostas as dela, mas que vem se deixando cativar e convencer, demonstrando que o ódio que acumula não é tão grande assim e, mesmo se for, pode ser encarado, deve ser, mas só veremos isso em uma nova temporada.
Que vai acontecer? Não tenho a mínima ideia. De toda forma, posso dizer que gostei bastante de Peach Boy Riverside, queria conhecer mais de seus personagens, e ver aonde a Sally pode chegar. Acho que o anime não teria sido nada demais não fosse a sensibilidade e inteligência com a qual foram tratados alguns de seus momentos, fazendo a Carrot passar informação para o Sumeragi não ser nada de outro mundo, por exemplo.
Ela é um deles, não vai prejudicar a Sally ou os outros, assim como não tenho certeza se o vilão quer fazer exatamente isso, ou só isso, mesmo. E, além disso, temos que entender que não é simples, rápido ou fácil se integrar de fato a novas circunstâncias como as dela. O caminho é longo, mas teria como ser diferente se a ideia for o entendimento, alguma harmonia, entre raças tão distintas entre si? Não. E a jornada continua…
Até a próxima!