Peach Boy Riverside é um anime peculiar, pois talvez não teria sido tão bom ou interessante quanto foi não fosse a forma como foi lançado, embaralhando os episódios de tal forma que muitas vezes só víamos a justificativa para algo depois de vermos o resultado.

Mas claro, é inegável que o roteiro e a direção têm seus méritos, principalmente o primeiro ao investir em uma trama simples de bem contra o mal que vai ganhando contornos mais interessantes de acordo com o desenvolvimento dos personagens principais, Sally e Mikoto.

Não os considero duas metades de um inteiro, mas certamente dois lados do mesmo pêssego, afinal, seus poderes são o mesmo, mas suas histórias são distintas e a maneira como encaram suas jornadas também. Enfim, vamos falar de Peach Boy Riverside?

Sally era uma princesa que não conhecia o mundo, mas amadureceu em sua jornada com Frau (uma coelhana misteriosa), Carrot (uma ogra meio tsundere que perdeu o chifre) e Hawthorn (um cavaleiro que perdeu sua casa), sendo que por outro aspecto ela já era bem madura.

Sally vive em um mundo de fantasia genérico no qual um aspecto não foi tratado de maneira tão genérica assim, o preconceito, mas exatamente o cenário de ódio entre raças, humanos e ogros. Sally quer mudar esse cenário, mas como fazê-la sendo “pequena” como ela é?

É um objetivo ambicioso e tortuoso o dela, e é ainda mais interessante que seja influenciada por um aventureiro, Mikoto, que pensa justamente o contrário. Enquanto Sally quer promover o entendimento entre as raças, Mikoto busca a aniquilação total dos ogros, ainda que…

Sim, tem plot twist na história, mas mais importante que isso é como ela explora esse anti-herói de maneira inteligente, mostrando que mesmo o maior ódio pode conservar um pouco de razão e compaixão (o que dá para chamar de ética também).

Do outro lado, mas ao lado também, temos a Sally, que prega o entendimento, mas ao manifestar seus poderes de pêssego (Peach Boy Riverside é baseado na história do Momotaro, conto clássico japonês) mata ogros como se não houvesse amanhã, isso até conseguir se controlar.

Sally é bem diferente de Mikoto, mas ao mesmo tempo os dois se dão bem e se cruzam várias vezes ao longo de suas próprias jornadas, ela com o grupo plural e simpático que vai formado ao longo dos primeiros episódios (cronologicamente falando) e ele com o cão de seu falecido mestre.

Inclusive, o Mikoto herda o trabalho dele, mas guarda suas próprias motivações para exterminar os ogros. Enquanto isso, a Sally realmente era uma princesa até negociar com o pai a oportunidade para viajar pelo mundo e experimentar sua tão sonhada liberdade.

Pelo caminho ogros aparecem e se você me perguntar se gostei de todos eles, acho que a melhor resposta que eu possa dar é que todos acabam tendo uma função bem razoável na trama, seja para extrair mais dos personagens principais, seja para enfatizar contrastes.

No geral, os ogros se mostram tão humanos quanto os próprios humanos (a maioria deles têm forma humanoide mesmo), nos fazendo até simpatizar com eles, até porque a Carrot e a Milia (essa segunda companheira de viagem do Mikoto que aparece depois) viajam com os heróis.

Aliás, uma das construções narrativas mais legais do anime envolve justamente as duas, que têm histórias parecidas, torando possível traçar um paralelo entre elas, afinal, ambas buscam sua identidade, seu lugar no mundo, após perder seu espaço entre os ogros.

E como contraste tem o fato de que se aliam a figuras distintas que muito peculiarmente se dão tão bem, tanto que em vários momentos o Mikoto se demonstra inclinado a abraçar a ideologia de entendimento mútuo da Sally, levantando dúvidas sobre a sua própria.

Por fim, apesar de alguns clichês, fanservice e besteirol (que pouco ou nada incomodam); Peach Boy Riverside se destaca por sua história mais séria que habita uma área cinzenta que explora mais que a dicotomia do bem e do mal, explorando essa dicotomia em cada um de nós.

Torço para que um dia vejamos uma segunda temporada na qual a Sally seja ainda mais desafiada em seu objetivo, que o complexo Mikoto se abra mais para a garota e que o antagonista, Sumeragi (outro personagem bem interessante), nos mostre mais de suas cartas na manga.

Até a próxima!

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