Soredemo Ayumu wa Yosetekuru (When Will Ayumu Make His Move?) é um anime de comédia e romance do estúdio SILVER LINK. que adapta o mangá de Souichirou Yamamoto (Karakai Jouzu no Takagi-san, Kunoichi Tsubaki no Mune no Uchi). Segue abaixo a sinopse extraída, traduzida e adaptada da Kodansha USA (a editora oficial do anime).

 

“Ayumu está apaixonado por sua senpai, Urushi, mas ele jurou não confessar seus sentimentos até conseguir vencê-la em uma partida de shogi… O problema é que seus sentimentos são óbvios, e a senpai não consegue parar de tentar fazê-lo quebrar seu juramento!”

 

Soredemo é um Karakai às avessas? Algo nesse sentido, a diferença é que aqui o protagonista não tem expressão e isso, por incrível que pareça, acaba é contribuindo para a piada dele gostar da garota, dar toda a pinta, mas não admitir pelo motivo mais bobo do mundo.

Porém, apesar de bobo, acho interessante o que ele faz. Me parece infantil querer superar alguém que você admira no que ela faz de melhor, mas se for mais no sentido de demonstrar seu valor para, de alguma forma, se sentir a altura da pessoa, consigo gostar disso.

Além disso, convenhamos, animes assim só fazem sentido com “doce” antes do casal se declarar e ficar junto. Você criar uma piada e tratá-la bem, com momentos fofos e que façam sentido dadas as personalidades dos personagens, é a fórmula de sucesso do autor.

E essa fórmula foi bem auxiliada pelo uso do shogi como pano de fundo e as pequenas liberdades da direção, a qual entregou uma abertura com direito a dancinha inusitada, a Kana Hanazawa nos vocais (o que é uma atração a parte) e consistência técnica até na fofura da Urushi.

Quanto a história, gostei bastante do contraste que é o Ayumu, que diz as coisas mais ousadas com cara de indiferença, e que só se desequilibra quanto tem seu tempo com a senpai ameaçado. É tanto descaramento que a Urushi nota e tenta “contra-atacar”.

Isso é muito legal por como aproveita essa lógica de jogo, fazendo parecer que mesmo fora dos tabuleiros eles estão enfrentando um ao outro, não por rivalidade, mas para derrubar as defesas alheias. Aliás, para ele quebrar as dele e admitir logo de uma vez o que sente.

O mais legal é que o perfil do Ayumu, pelo menos pelo tanto dele que vimos nessa estreia, é de alguém contido, o que contrasta com as palavras que ele profere, mas se alinha a forma como trata seus sentimentos, com extremo cuidado e reserva, como se para não “ziká-los”.

Pode parece besteira, mas não é, esses pequenos detalhes, essas conexões entre tema e execução, são o que tornam uma história consciente o suficiente para que você releve uma ou outra coisinha e valorize mais os momentos de descontrações promovidos pela trama.

E aqui nós temos muitos, desde as caras e bocas envergonhadas de uma senpai fofa e desajeitada até a ousadia inexpressiva de um konhai sincero demais. Aliás, ele ser sincero é um trufo seu, ao mesmo tempo que um defeito, e talvez a melhor sacada de todas do anime.

Por quê? Porque ao mesmo tempo em que ele a cativa através dos elogios, por intermédio da palavra (não dizem que mulheres são mais auditivas e homens mais visuais?), também se expõe ao ponto de deixar bem óbvio o que sente, passando a constante sensação de “quase lá”.

A depender da execução isso pode desgastar a trama, mas não temo muito isso por dois motivos. Primeiro, quase não vimos nada de coadjuvantes nessa estreia (entendi que queriam dar tempo aos protagonistas e aprecio isso) e eles podem trazer muitas variações a obra.

Segundo, essa sensação constante de que a qualquer hora ela vai ter certeza que é mesmo amor e vai talvez até ela mesma se declarar exige criatividade do autor para manejar as situações. Sei que ela é bem envergonhada para ousar tanto, mas ela não o “desafia” o tempo todo?

Foi também por isso que achei essa estreia tão gostosa, pelos “contra-ataques” da senpai e a convicção digna, mas completamente cara de pau, do Ayumu ao negar o óbvio. Eles dois são muito fofos juntos, o que, inclusive, me leva a defender a proposta com argumento lógico.

Não é mais gratificante quando a relação é construída ao ponto em que o o convívio e as experiências compartilhadas acabam sendo mais relevantes que contato físico ou declarações de paixão ardentes? A construção acaba se tornando parte vital da “graça” do anime.

É claro que a execução da proposta pode pôr tudo a perder, mas aqui estou para tratar apenas do primeiro episódio e este eu achei excelente. Gostei genuinamente da interação dos dois, de suas personalidades, das nuances contidas em suas ações e até do diálogo com o shogi.

Apesar de ser um claro pano de fundo, não é como se não houvesse trabalho de pesquisa bom o suficiente para nos jogar em movimentos do jogo ou estratégias diversas visando a vitória, ainda mais quando já na estreia caracterizam estilo de jogo e peso de experiência.

Repito, o anime pode se perder pelo caminho, mas a estreia foi muito promissora, até me deixou com um gostinho de quero mais. Não, não é mesmo um Karakai, nem exatamente um Karakai às avessas. Com certeza bebe da fonte, mas me parece ter originalidade suficiente.

Por fim, dê uma chance a Soredemo Ayumu wa Yosetekuru (ainda mais se curtir as outras obras do autor), é uma comédia romântica fofinha com sacadas inteligentes e dinâmica de personagens agradável. Mal posso esperar para ver o Ayumu se confessar para a senpai.

Até a próxima!

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