Dentre algumas das várias adaptações da temporada de abril em 2019, Gunjou no Magmel era uma das que tinha captado minha atenção, graças a sua ideia de um protagonista explorar um mundo novo e perigoso, aos poucos – pois gosto bastante desse tipo de premissa. Contudo, no meio de um conceito legal, qual o risco disso dar errado quando a aventura se perde em si mesma, e na sua vastidão de possibilidades?

A história do anime é guiada por Inyou e Zero, uma dupla de “anglers” – nomenclatura dos exploradores – que possui super poderes e trabalha em tudo o que envolve o misterioso continente denominado Magmel. O interessante do continente é que além de ele se posicionar no meio da Terra que conhecemos, o seu nível de periculosidade é tamanho, que as partes habitáveis e conhecidas se dividem em várias fortalezas altamente protegidas.

No meio desse cenário, Inyou e Zero tem passados complicados com os quais ainda estão presos, especialmente o rapaz que permanece numa busca cega pelo seu antigo mestre, desaparecido no meio desse lugar imenso.

Embora seja essa motivação que norteie boa parte do enredo, ela acaba um tanto perdida na exploração dos mistérios de Magmel, só ganhando relevância da segunda metade em diante, e mesmo assim sem as devidas resoluções ou encaminhamentos – o que contribui um pouco para a confusão que o anime se tornou.

Admito que ao longo dos 13 episódios que exibiu, o anime me cativava com a variedade de coisas que mostrava sobre o continente, além do seu roteiro episódico que aparecia com algumas situações mais bobinhas para divertir, bem como surgia com outras que tinham uma certa complexidade e que nos faziam refletir sobre o ser humano e até onde ele é capaz de chegar em nome da ambição, da ganância e outros sentimentos mais.

Tem alguns episódios bem marcantes onde por vezes quem estava antagonizando na verdade tinha boas intenções, mas no fim acabava vítima de suas escolhas. Outros envolviam pessoas que jogavam fora a sua própria humanidade em nome do poder, e todos esses elementos eram bem trabalhados dentro do possível.

E já aproveitando que entrei no mérito temporal, acredito que um dos grandes contras da obra é exatamente a sua duração, pois para um anime que deseja se debulhar em várias coisas – incluindo o desenvolvimento de cada personagem -, 13 episódios é muito pouco para se trabalhar e isso ajudou a comprometer o conjunto.

Os protagonistas felizmente conseguem segurar a obra com seu carisma e a boa química dos dois, com ele sendo aquele garoto sarcástico e inteligente, mas de bom coração, enquanto ela é a parceira opiniosa, esperta e pau para toda a obra, que ele precisa para fazer o que faz.

A exceção deles, os demais personagens são simpáticos, contudo não têm nada de novo ou sequer profundo, por exemplo, a Emilia é a exploradora rica, gente boa e badass, e o Denden era o alívio cômico que eventualmente aparecia nos episódios para sofrer – sem ir além disso, coitados.

Dentre os vários vilões e figuras neutras que foram inseridos, acredito que a maioria sabia dar o tom de perigo necessário e tinham razões coerentes com o que rapidamente era construído em cima deles, porém o grande demérito certamente foi o vilão final, que não só trouxe o arco mais ridículo do anime, como foi completamente equivocado em sua concepção e execução.

Se Gunjou no Magmel deu um tiro no pé, esse golpe está no arco final e quem leu meu artigo sobre o último episódio, bem sabe do que falo. Embora parecesse não ir a lugar algum e apenas seguindo uma estrutura de ter a exploração do dia, a série se mantinha com episódios isoladamente bons em suas invenções – como vários outros conseguem.

No entanto, quando decidiu emendar um plot guiado pelo passado da Zero e seu carrasco – ainda tentando ver se salvava algo com o Inyou no caminho -, tudo que era legal foi pelo ralo, mas que fique claro, isso não se deve a garota e sim ao seu adversário fraco.

Quando penso na parte visual, o anime é um tanto inconstante, pois no começo ele tem uma animação mais segura, mesmo a arte sendo relativamente simples. Do meio para o fim as coisas vão começando a ficarem mais porquinhas, mas não chega a incomodar, afinal era o começo do estúdio Pierrot Plus, então já esperava por algum deslize nesse sentido.

Enfim, o que posso dizer é que essa adaptação tinha tudo para se sair muito bem e no final foi prejudicada por não saber o que fazer com tantas ideias, especialmente os plots centrais que ficaram bem perdidos pelo andamento do enredo – terminando sem qualquer solução -, e a má construção do antagonista principal que “cagou” com tudo o que tinha ficado decente.

Por mais que eu tenha minhas ressalvas ainda acho que vale a pena assistir, mas já adianto a eventual decepção que possa ter, então se o fizer, vá ciente de que ele não será a melhor, nem a pior coisa que verá, ele será apenas um anime mediano como vários que vemos por aí.

Agradeço a quem leu e até a próxima!

 

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