Nanatsu no Taizai – Qual é o seu pecado?
Pecado, algo que muitas vezes cometemos sem querer ou sem pensar muito nas consequências, algo que às vezes se torna um estigma que teremos que carregar por toda a nossa vida. É exatamente sobre isso que essa obra trata, sobre seres que cometeram seus pecados, mas tiveram a chance de recomeçar: os Sete Pecados Capitais, a ordem de Cavaleiros que superou os Cavaleiros Sagrados e protegia o Reino de Liones a serviço do Rei. Vamos juntos nessa jornada cheia de pecados e magia?
A história começa com Meliodas – um loiro baixinho muito suspeito – e Hawk – um carismático porco falante – atendendo na Taverna Chapéu de Javali e é lá que eles se encontram com Elizabeth, a princesa de Liones, que fugiu da capital a fim de encontrar a renegada ordem de Cavaleiros que dez anos antes conspirou para matar o Grande Cavaleiro Sagrado e tomar o Reino. Por que logo a princesa pediria ajuda aos maiores traidores da nação? É com essa pergunta que começa o anime, e a sua resposta é simples: nem tudo é o que parece, há vários tons de cinza nesse mundo de fantasia.
O fato do grupo principal da história, os Sete Pecados Capitais, ser composto por ex-infratores, passa essa ideia, mas é com a forma como a história é contada que ela se confirma, pois, esses heróis têm passados sombrios e mesmo no presente às vezes suas ações são questionáveis. Essa primeira temporada do anime não se aprofunda na história de cada um deles – até porque só seis dos sete aparecem – antes de se tornarem os Pecados Capitais, mas a partir da história do pecado da avareza e da preguiça, Ban e King, já conseguimos ter ruma boa ideia das “circunstâncias” de seus pecados.
E antes de falar mais disso acho importante falar sobre o que um anime baseado em um mangá shounen de sucesso dentro e fora do Japão tem que fazer. O que você espera de uma obra cheia de ação e magia? Que ela seja divertida? Que os personagens sejam cativantes? Que cada episódio dê aquela vontade de ver o próximo, dê aquele desejo por mais de algo que te faz rir e/ou se empolgar?
Nanatsu no Taizai faz isso em seus 24 episódios? Olha, não o tempo todo, mas sim, há bons momentos em que a história fica empolgante e você é levado a querer ver logo o próximo episódio, como também há momentos mais calmos e simplórios nos quais o que te prende na história é o fato de ela realmente ser boa, nada fantástica ou genial, mas satisfatória como entretenimento momentâneo e como uma forma de arte que quer dizer alguma coisa para quem a consome.
E isso tudo é importante? Demais, pois é através disso, através de porrada e personagens agradáveis, que o público cria empatia pela obra e se dispõe a acompanhá-la. Aliás, um dos pontos fortes dela creio ser justamente os seus personagens, pois por mais que cada um siga alguns clichês eles são escritos com um quê de originalidade e uma certa dose de carisma que fazem com que seja mais fácil se interessar por conhecer seus passados tempestuosos ou os mistérios que os envolvem. Em uma história criada a partir de um grupo de personagens cada um deles têm que provar a sua força assim como o todo – é importante que es personagens sejam legais e as interações entre eles também.
É diante dessas características que se constrói a jornada para reunir os Pecados e é através dela que vamos conhecendo mais desse mundo, dos seres que nele habitam, das magias, das histórias antigas e das “circunstancias” que levaram todos aqueles personagens àquela situação em que aqueles que eram considerados traidores são os que vão salvar o reino daqueles que deveriam protegê-lo.
Confesso que sou leitor assíduo do mangá e acho que o autor remenda muitas pontas soltas de um jeito legal, acho que algumas coisas ficam forçadas ou estranhas e acho que o esforço dele – às vezes dando certo e às vezes não – é valido, pois mesmo que essa adaptação seja corrida – o arco que o anime adapta tem mais de 100 capítulos – muito pouco é perdido, dando para sentir que a essência do original está toda ali, que o anime faz sim jus a um mangá tão legal. Claro que nem tudo são flores e a “gordura” do mangá que foi cortada no anime e servia para trabalhar alguns personagens e conflitos mais detalhadamente foi perdida, mas acredito que tenha sido um sacrifício aceitável dado a indústria de animes de hoje – que tem menos produções “infinitas” – e o dinamismo da obra.
O anime comete pequenos erros de execução – tem cenas que poderiam ser mais impactantes, mas não são, e lutas que poderiam ser melhores e não empolgam tanto, por exemplo – e tem alguns furos de roteiro – mesmo que eu não me lembre de muitos –, mas algumas coisas são respondidas e justificadas com o tempo, e mesmo que certos personagens não sejam tão aprofundados como poderiam, eles compensam isso com um pouco de carisma e com o fato de que são bem utilizados no enredo – mesmo personagens secundários têm um pouco de desenvolvimento, mas a obra entende que não é possível aprofundar tantos deles e foca mesmo nos que serão úteis no momento.
É verdade que o anime acaba com muitas perguntas a serem respondidas, com muitos acontecimentos nebulosos e com muita história a ser contada para que possamos tirar tudo o que o grupo dos Sete Pecados Capitais pode nos oferecer de interessante, mas quem acreditava que não ia ter segunda temporada? O mangá é o mais popular e lucrativo da segunda maior revista de mangás do Japão, é lançado em vários países, tem vários spin-offs e o anime ganhou dublagem pela Netflix em várias línguas, então se esse não é o tipo de obra que tem fãs ávidos para consumir mais uma temporada de anime, eu não sei que obra seria, sinceramente. Sendo assim, acabar apenas com o fechamento do conflito do arco, mas em aberto por ter mais história, é algo bem compreensível.
E no geral Nanatsu no Taizai merece o sucesso que tem? Olha, sim, merece, e digo isso porque ele cumpre com o que se espera dele – é um bom entretenimento – e se a pessoa se interessar principalmente pelo grupo que dá nome à obra é fácil se pegar querendo saber mais sobre aquele universo e sobre seus personagens que, se ainda não se tornaram icônicos, caminham para isso.
É verdade que nessa resenha eu poderia ter me aprofundado em comentar a história em si, mas a maior parte do que está na tela é realmente o que está na tela – ao menos é o que tem que ser por ora, pois falar disso a fundo só geraria teorias, as quais eventualmente devem ser respondidas na obra –, então acho mais útil comentar como a base da história foi bem construída, pois o anime não perde tempo em juntar os personagens que importam e fazer com que eles façam o que têm que fazer – é simples e por mais que existam diversos detalhes a serem revelados já serve como uma boa introdução –, e é exatamente isso o que se esperava dele. É claro que às vezes é melhor que uma obra saia da sua “zona de conforto”, mas isso é algo que só poderemos julgar ou não quando a história estiver se afunilando e mais passados vierem à tona, mais lutas aconteçam, mais mistérios sejam esclarecidos, etc. Acredito que quem viu o anime provavelmente vai se interessar em ver a segunda temporada que estreia na Temporada de Inverno de 2018 e – falo isso porque já li tudo isso no mangá – deve ir explicando boa parte do que ficou sem explicação e proporcionar mais diversão.
Por fim, só gostaria de falar um pouco sobre a parte técnica, que no geral é um ponto forte do anime apesar da animação decair em alguns momentos e perder detalhamento e fluidez, e as cenas de ação serem melhores no segundo cour que no primeiro – mas, se não em engano, isso também acontece no mangá. A trilha sonora é boa, mas não se destaca tanto, e o anime possui um ótimo elenco de vozes – quem não acha fofa e divertida a voz do Hawk, não é mesmo? – que atua muito bem, o que com certeza facilita o nosso envolvimento emocional com os personagens e com a história contada.
Confesso que pensei em dar apenas três estrelas e meia como nota final para o anime, mas ele foi realmente muito prazeroso de se assistir e fez eu me apaixonar ainda mais por tantos personagens com os quais eu já me importava – afinal, eu comecei a ler o mangá bem antes de ver essa adaptação – que se eu somar essa sensação feels good ao belo final dessa primeira temporada – o conceito de “Genkidama” para derrotar o inimigo foi legal da forma como foi usado, ainda mais pelo momento anterior em que a Elizabeth justifica sua importância nos planos vilanescos e mostra sua própria força através da magia – fica difícil não achar que, apesar dos defeitos, ele foi realmente muito bom.
Nanatsu no Taizai é um típico battle shounen ambientado em um mundo de fantasia que consegue ser um tanto quanto atípico por apresentar protagonistas adultos – mesmo que alguns tenham aparências mais jovens – e que têm muito um quê de “anti-herói” neles, não parecendo “malignos” em sua essência, mas passando longe de ser o tipo de herói correto e implacável em seu senso de ética e justiça. Cada um dos Pecados Capitais apresenta nuances que os tornam mais interessantes, que os tornam personagens com os quais é mais fácil de se identificar, afinal, quem nunca cometeu um pecado na vida e constantemente se vê no dilema moral de cometer de novo? Seja por ira, inveja, avareza, preguiça, luxúria, gula ou orgulho. Aliás, termino esse artigo perguntando a você: qual é o seu pecado? Espero que não seja deixar de assistir à continuação desse belo anime!