Plastic Memories – ep 7 – Parque de Digressões
[sc:review nota=2]
Então Plastic Memories está mesmo decidido a ser apenas mais uma tragédia romântica. Não uso o termo “tragédia” no sentido pejorativo, como em oposição a comédias românticas, mas sim no sentido original da palavra mesmo. A garota irá morrer, então é uma tragédia. Mas em sentido amplo, considerando tudo o que poderia ser mas não foi, posso dizer que Plastic Memories também é uma “tragédia”.
O anime começou com incrível potencial de questionar a condição humana e o que nos faz humanos mas em algum momento desistiu disso. Desconfio que nunca tenha tido interesse, de verdade, foi só uma isca, só um cenário diferente para contar uma história que independe de cenário: o amor desesperador entre uma pessoa saudável e outra à beira da morte. A Isla na maior parte do tempo sequer parece ser um robô. Nesse episódio, o único momento em que ela fez algo tipicamente robótico foi no final, quando acabou sua bateria. E mesmo assim é fácil imaginar uma humana normal no lugar da Isla que, ao invés de ficar sem bateria, estivesse simplesmente exausta. Foi só um momento de alívio cômico ainda por cima, o que torna a substituição mais fácil. E a maioria das vezes em que a Isla age como um robô ou exibe características de robô ao longo de série são alívios cômicos. No primeiro episódio, tem aquele momento em que ela tenta pular da sacada e cai. Certo, humano nenhum faria aquilo porque estaria morto, mas foi só uma piada e ao mesmo tempo uma forma nada sutil de dizer que a Isla não estava exatamente no auge de sua performance. A lenta degradação dela é outro problema.
A série toda lida com androides que estão no fim de sua vida útil, e no entanto não os vemos tropeçar, cair, ou genericamente cometer os erros tolos que a Isla comete e que são atribuídos à sua senescência robótica. Por que só a Isla demonstra esses sinais de que está perto de seu fim? Claro, pode-se simplesmente ignorar a pergunta argumentando-se que na verdade apenas não vimos o suficiente dos demais robôs, e isso é verdade mesmo, mas só é assim porque assim quis o anime. A Marcia estourou seu limite de tempo e saiu saltando por cima de edifícios. Tá bom, eu engulo a desculpa de que ela tenha uma trava de superforça que seja destravada quando rompe seu limite, mas é preciso super-agilidade para executar aqueles super-pulos, caso contrário ela levaria um super-tombo e o Souta estaria agora super-morto. Independente de travas, se ela estivesse com suas capacidades físicas deterioradas antes ela continuaria com elas deterioradas depois, apenas com mais força, mais velocidade e menos capacidade de julgamento para se arrebentar com muito mais vontade. A não ser que a trava não seja um limitador, mas um supressor de um sistema de movimento e equilíbrio completamente paralelo e que não se deteriora com o tempo, e eu não consigo parar de imaginar o quão estúpido e inverossímil isso soa. Ou a Marcia era uma exceção ou a Isla é uma exceção. Com ou sem maiores explicações, contudo, parece forçado que uma delas seja exceção. E digo o que já disse antes sobre outras coisas nesse anime: duvido que seja o caso de todo modo. Acredito, isso sim, é que apenas não pensaram nisso. Querem usar a degradação das habilidades físicas da Isla para emular os últimos momentos da vida de uma garota moribunda, e não pensaram o suficiente para tornar a história ao redor dela coesa. Se era para ser assim, teria sido melhor se ela fosse uma humana de verdade com uma doença degenerativa ou qualquer outra lenta e fatal de verdade. Na verdade, até uma doença meio falsa serviria, como em KimiUso.
Critiquei muito Shigatsu wa Kimi no Uso sim, mas nesse particular ele fez melhor que Plastic Memories. Se o roteiro é ruim, pelo menos a condição da protagonista não soa tão estranha e não distrai tanto da história. E o mais incrível é que mesmo mostrando uma Isla com crescentes dificuldades físicas, cada vez mais perto da morte, isso não tem o impacto emocional que deveria ter. Quero dizer, piorando ou não ela irá morrer em um mês, não é? Não só isso mas, como já disse, na maioria das vezes seus sinais de deterioração são usados como alívio cômico. De novo preciso reconhecer que KimiUso acertou nessa parte. Cada sinal de doença ou de piora do estado da Kaori era tratado com a gravidade que a situação merece. Gostando ou não do anime, era desesperador assistir aquela garota tão jovem e tão cheia de vida definhar daquele jeito. Era de partir o coração. Se é essa a rota que Plastic Memories pretende seguir, já passou da hora de começar a me fazer sofrer pela Isla. O começo, com ela chorando no elevador, foi excelente. Mas depois tudo virou piada. E mal animada ainda por cima, outra coisa em que Plastic Memories é espancado por KimiUso.