Perfect Insider – ep 3 – Comecemos as investigações!
[sc:review nota=5]
Como diria a Xuxa no Teleton, esse episódio me deixou feliz que nem pinto no lixo. A cuidadosa montagem da sala fechada no episódio anterior foi na medida correta para manter o suspense não muito alto nem muito baixo, mas com certeza presente o episódio inteiro e exercendo uma pressão crescene, até culminar com temporização perfeita no final do episódio, quando o mistério começa. Nesse episódio descobre-se o que afinal era e significava aquele carrinho andando sozinho com a Dra. Magata em cima em vestido de noiva. Eu juro que a vi se mover ali em cima no final do episódio anterior!
Mas provavelmente foi apenas inércia da parada do carrinho. Ela está morta e sem os membros, e eu já estava mesmo achando estranho a aparente falta de braços. Sei lá, um vestido volumoso poderia estar apenas ocultando-os em um corpo tão magro, mas não, a Dra. Shiki estava mesmo sem braços. Ah sim, vou chamá-la de Shiki agora, já que sua irmã Miki aparece nesse episódio. Eu gostava de chamá-la de Magata pela aliteração com Moe, e isso fazia sentido enquanto o anime estava traçando paralelos e apontando semelhanças (e diferenças) entre as duas principais mulheres da história. Agora com a Shiki morta continuam os flashbacks dela mais jovem e da conversa que ela teve com a Moe, mas eles não parecem mais estar traçando paralelo entre as duas personagens. Se estiverem, é para mostrar o quanto elas são definitivamente diferentes: Shiki com 13 anos já era não apenas mais madura, mas sexualmente ativa (não fica claro se chegou-se mesmo a esse ponto ali na roda gigante, mas há que se considerar que mistérios normalmente usam elementos os mais superlativos possíveis: um assalto não interessa, um assassinato sim; um beijo não interessaria… além disso, mesmo que na roda gigante nada tenha acontecido, eles tiveram ainda cerca de um ano entre aquele dia e o assassinato dos pais da Shiki para aprofundar a relação). Outra diferença entre a Shiki e a Moe: enquanto a Moe se apaixonou pelo Souhei por ele ser mais inteligente do que ela, a Shiki nunca encontrou alguém mais inteligente do que si própria – e mostrou-se um pouco melancólica com isso.
Enfim, a Dra. Shiki está morta. Quem a matou? Como? Por quê? Os guardas asseguram que ninguém jamais entrou ou saiu da sala onde ela esteve durante quinze anos, e que objetos poderiam passar por dois locais, uma porta (elevador horizontal?) para objetos pequenos (25x25x35 centímetros) e a porta principal para objetos grandes. Em qualquer caso, tudo era minuciosamente inspecionado. O último objeto grande a entrar lá teria sido um forno de microondas. Eu ainda não entendi o quanto o quarto da Shiki é monitorado em seu interior. Antes eu acreditava que fosse 100% monitorado o tempo inteiro, mas nesse episódio os funcionários do laboratório estão crentes que há uma pessoa lá dentro, o assassino, e em momento algum pensam em olhar gravações internas do quarto, antigas ou em tempo real. Então talvez Shiki tivesse liberdade e privacidade total enquanto dentro do quarto – e com isso uma gênia como ela poderia quebrar pelo menos o isolamento de comunicação, construindo um dispositivo que a permitisse se comunicar com o mundo exterior sem passar pela rede interna. Também dá corda a uma teoria que já vi em vários blogs: a de que ela foi presa grávida, teve um filho ali sem que ninguém soubesse e criou a criança lá dentro isolada como ela.
Eu acho essa teoria uma bobagem. Não acredito que ela estivesse grávida simplesmente porque isso diminui a importância do ato sexual em si: o sexo teria ocorrido por um motivo no enredo que não pelas suas próprias implicações psicológicas. Ela se comportava como madura mas era uma criança de 13 anos, por favor. Não importa os avanços que ela possa ter dado em cima de seu guardião e os motivos que a levaram a tanto (duvido que ela tenha nutrido qualquer sentimento real por ele), ao corresponder ele se tornou um violentador, um pedófilo. A mente de uma criança tão brilhante e tão perturbada pode até achar que está pronta, mas não consigo nem conceber como seu pequeno e frágil corpo respondeu quando o ato se consumou. Isso sozinho é de imensa importância na história. Ignorar tudo isso e dar saltos interpretativos para concluir que ela criou um filho ali dentro daquele quarto é falta de sensibilidade.
Eu sei, contudo, que não se pode interpretar um mistério, investigar um assassinato, apenas com sensibilidade, então não se preocupe que eu pensei nessa hipótese também e por várias razões concluí ser impossível que ela tivesse um filho. Primeiro por causa do tempo. Digamos que ela engravidou pouco antes do assassinato de seus pais. A isso se seguiu uma investigação e julgamento, e quanto tempo se passou? Por poucos que sejam, quantos meses? E depois disso até o confinamento dela na ilha, mesmo supondo que a instalações já estivessem prontas (o que parece improvável dado o quanto elas parecessem milimetricamente ajustadas para manter a Shiki ali)? Se por acaso não tivessem se passado nove meses nesse processo todo, ela no mínimo já estaria com a barriga proeminente em seu último contato com pessoas. É impossível que não soubessem. Mas e se o laboratório já estivesse pronto e se investigação e julgamento tivessem ocorrido em velocidade recorde, dois ou três meses (acho que três meses já seriam suficientes para alguém pequena como ela ter barriga, mas vá lá)? Nesse caso, a dificuldade é de ordem médica. A menos que ela tenha tido um estirão (e meninas dificilmente têm estirões nessa idade), aos 13 anos ela parece ser muito pequena. Com um corpo daqueles a gravidez dela era de risco. Em dado momento ela começaria a precisar de cuidados especiais que ela jamais conseguiria contrabandear para dentro de seu quarto sem que ela soubesse. E dar à luz sozinha seria um risco de vida. Mas ok, embora os guardas garantam que estão lá há 15 anos, pode-se supôr que pelo menos no começo o diretor tenha se dado algumas liberdades extras e entrado no quarto para ajudá-la. Nesse caso ele não é apenas um estuprador, mas um monstro, mas vá lá. A própria Shiki disse para a Moe que viveu durante 15 anos sem nenhum contato humano, o que seria uma grande mentira se ela tiver lá dentro seu filho ou filha. E uma mentira sobre algo muito importante na caracterização da personagem, eu quase me sentiria enganado se for o caso.
Mas por que teorizam uma criança lá dentro em primeiro lugar? Porque resolveria o mistério “quem entrou e quando entrou no quarto da Shiki”. Ele seria o assassino ou assassina, seja por vingança contra a mãe, psicopatia pela forma como foi criado, ou o contrário, porque a própria Shiki teria instruído sua prole a tanto. Bom, já concluí no imenso parágrafo anterior que uma gravidez ali dentro seria impossível sem que a regra de ninguém entrar fosse quebrada, então se essa regra precisa ser quebrada, prefiro imaginar que o tenha sido mais recentemente e diretamente pelo assassino. Vai saber o que o diretor não faz enquanto a Shiki dorme (embora ela tenha dado a entender em conversa com a Moe que tem seus horários de sono bagunçados por não ter contato com o mundo exterior – e eu me identifico com isso, hahaha -, mas esse não é exatamente um problema insolúvel).
No final do episódio o diretor é morto também, com uma facada no pescoço, por trás da cabeça, para não deixar sombra de dúvida de que ele foi morto por outra pessoa (em termos de enredo; imagino que o assassino dentro do anime talvez pudesse querer que passasse por suicídio mas não foi possível). Uma coisa que o RPG me ensinou é que pessoas podem se suicidar com golpes nas próprias costas. Outra coisa que o RPG me ensinou é que RPG não ensina nada. Então a não ser que houvesse um complexo dispositivo de suicídio no helicóptero, o diretor foi assassinado. A Shiki foi morta há dias, conforme o doutor que examinou o corpo alguns poucos dias mas é possível que os sistemas de controle ambiental do laboratório mascarem isso. Ela pode muito bem estar morta desde logo em seguida a sua conversa com a Moe. Ou talvez bem antes – a Shiki com quem Moe conversou poderia ser um programa de computador. Extrapolando, a Shiki poderia estar morta há anos e isso explicaria porque ela parece mais nova que sua irmã mais nova. Eu não quero acreditar que seja isso porque ficaria decepcionado se quem conversou com a Moe não tiver sido a própria Shiki, mas por outro lado ela própria pode ter programado aquela inteligência artificial, assim de certa forma ela “seria a Shiki”. Isso talvez até explique a mudança que o Souhei percebeu nela, da qual falou no primeiro episódio. Mesmo assim acho que, além de ser forçado, não combina com a intenção expressa pela Shiki de voltar a ter contato com pessoas. Acredito que ela estivesse viva naquele momento sim, e talvez tenha planejado algo para a viagem escolar da turma do Souhei e o assassino ou mandante não gostou de nada disso e a matou, colocando todo o resto em movimento.
Resumindo os mistérios do episódio são: 1) Quem matou Shiki, como e por quê? 2) Quem matou o diretor e por quê? e 3) Quem causou o malfuncionamento do sistema do laboratório, como e por quê? É quase certo que as respostas a todas essas perguntas estão entrelaçadas, mas enumerá-las e tentar respondê-las separadamente é importante exatamente por isso: talvez faltem indícios para concluir qualquer coisa sobre um deles, mas há sobre os outros. As evidências relevantes são: 1) O corpo da Shiki, fedendo, sem braços e pernas e com um vestido de casamento; 2) Houve uma falha no sistema, mas o sistema é impermeável a falhas e vírus, de forma que ele só pode ter sido programado a se comportar assim; 3) Não haviam outras entradas e saídas no quarto da Dra. Shiki além das duas já descritas, e os guardas garantem que ninguém entrou ou saiu nos últimos quinze anos; 4) Tem uma marimba na sala de controle; 5) Para abrir qualquer porta no laboratório é preciso se identificar com a mão e falar o próprio nome; 6) A Miki é muito parecida com a Shiki, apenas parece ser um pouco mais velha embora seja a irmã mais nova. Esses pedaços de evidência foram todos ditos explicitamente pelos personagens, daí é seguro assumir que tenham importância como evidência ou despiste. Há coisas que se pode captar das cenas sem que ninguém fale sobre, mas é difícil saber o que é evidência e o que é apenas estilo visual. Por exemplo, o comportamento do diretor foi muito estranho. Foi tipo: “ei, mataram a Shiki, chama a polícia” “puxa, que chato hein? ok”. Mas se ninguém no anime se incomodou, eu é que não vou me incomodar.
Resta esperar os próximos episódios para tentar entender melhor o que está acontecendo. Para encerrar sobre esse episódio eu preciso falar sobre o papel assumido pelo Souhei e a Moe. Como personagens externos era mais ou menos previsível que eles seriam os detetives, mas mesmo assim isso nem me passou pela cabeça até o episódio anterior. Eu ainda trabalhava com a hipótese deles serem vítimas ou criminosos (não eram minhas primeiras opções, mas eu não descartava, o que eu já deveria ter feito no mínimo desde o final do primeiro episódio). E eles têm uma química interessante: enquanto estão investigando não parece mais haver hierarquia entre eles. Cada um faz a seu modo e depois eles conversam sobre as conclusões que tiveram. Até agora, um refutou com sucesso todas as hipóteses do outro. A diferença entre eles é que a Moe é mais observadora enquanto o Souhei é mais intelectual. Sobre a Shiki semelhante pode ser afirmado: ela estava ali para ser vítima desde o começo. Eu confesso que achava que ela seria a criminosa (porque bem, ela é uma criminosa, não é?), embora não descartasse também as outras opções. Visualmente o que mais me chamou atenção nesse episódio foi a onipresença dos leitores de palma de mão que se parecem olhos que tudo vêem, o tempo todo.