[sc:review nota=3]

Quem matou Shiki Magata? Não foi o diretor, seu tio. Nem o vice-diretor Yamane, nem a esposa dele. Também não foram a Moe ou o Souhei (vai saber). Não foi a Shimada, a programadora maluca, nem o outro programador lá, o gordão que eu não sei o nome. Não foi nenhum dos guardas. Não foi ninguém que veio para a ilha com a Moe e o Souhei, e também não foi a Setsuko, que veio para a ilha nesse episódio retornando ao anime só para irritar a Moe e deixá-la com ciúme do Souhei. É sério, ela gosta de provocar a Moe, não gosta? Enfim, só para ser completo: também não foi a Michiru, o robô, nem aquele boneco de lego gigante, nem o urso de pelúcia.

Você já assistiu o episódio nove, não viu? Senão, vá assisti-lo. Eu não quero te dar spoiler, de verdade. Se bem que nem é grande coisa. Já assistiu ou vai continuar por sua própria responsabilidade então? Então tá. Quem matou a doutora Shiki foi ninguém. Ela está viva. O cadáver não era dela. Ela está viva e serelepe e brincando de perturbar detetives e matar o diretor. Bom, na verdade o primeiro plano dela era brincar de matar o diretor, mas depois da primeira vez perdeu a graça, daí ela decidiu perturbar detetives.

Esse cena foi fundamental para o episódio e, quiçá, o anime todo

Esse cena foi fundamental para o episódio e, quiçá, o anime todo

Que droga hein? Que droga esse anime, esse episódio, e esse artigo. O episódio na verdade foi divertido, eu gostei dele, e continuo gostando do anime, então que droga eu também. No fim das contas era verdadeira a hipótese gravidez mesmo. Desde aquele episódio onde o cadáver atravessou a porta houve quem teorizasse isso. Me pergunto se foi um chute selvagem ou se um sacana que já leu o livro fingiu estar chutando para dar spoiler. Admito que com os elementos do anime até agora essa hipótese era mesmo razoavelmente provável – eu reconheci isso no artigo anterior. Quando o cadáver apareceu era só uma hipótese entre muitas, e naquele momento ainda não estava claro que ela e seu tio haviam tido relações sexuais, muito menos que ela havia engravidado. Pelo contrário: ele resistiu a ela a ponto de deixá-la irritada, amuada no banco de passageiro.

Mas era uma hipótese. Como eu fico irritado quando vejo crianças com comportamentos adultos em qualquer ficção, a rejeitei (eu acho isso ruim, e acho Perfect Insider bom, então ei, ele não seria bom se tivesse um semente de enredo ruim, certo?). De lá para cá o anime se esquivou de qualquer aprofundamento dos demais personagens (exceto a Moe, que obviamente não era a assassina), de modo que a simples falta de candidatos a assassino significava que a culpada por tudo tinha que ser a própria Shiki. Mas como ela cortou os próprios membros? Não cortou, lógico. A hipótese gravidez gestou e finalmente deu à luz nesse episódio (ai que piada ruim).

Eu estou assistindo o anime e vi tudo isso. Você está assistindo e viu tudo isso. O Souhei não está assistindo. Ele deixou de ver uma enorme quantidade de informações de grande importância sobre a Shiki, que era o que permitia concluir que ela entrou naquela sala grávida. Mesmo assim ele concluiu isso, de alguma forma. Devem ter sido os avestruzes – ele disse que já havia concluído no episódio anterior, lembra? Disfarçaram essa falta gritante de pistas dele com uma explicação complexa sobre computadores e datas de arquivos. Parece que a Shiki já havia decidido matar a própria filha há sete anos, hein? Que pessoa fria. Que pessoa terrível.

Jogue uma tela de computador e fale algumas coisas complicadas e você pode fazer o que quiser do seu enredo

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A propósito: mesmo as conclusões do Souhei sobre os arquivos de vigilância tinham furos tremendos, ele assumiu uma série de coisas sobre o funcionamento do sistema que ele não tinha como descobrir. E que não fazia sentido chutar. Um sistema de segurança jamais deveria sobrescrever um arquivo por padrão – e não se esqueça que ele era independente, imune aos códigos maliciosos da doutora Shiki (exceto pela data do sistema, claro). O tecniquês não tinha intenção de fazer sentido (e tecniquês em ficção geralmente está errado mesmo, as pessoas aceitam isso), mas de, como eu disse, esconder o salto acrobático lógico-argumentativo que o professor Souhei fez para concluir que a Shiki teve uma filha. Para nós espectadores faz sentido, porque vimos toda a história da Shiki, então se nos for negada a oportunidade de pensar (por exemplo, com uma cena onde o detetive revela uma pista tecnológica) talvez caiamos no truque e achar que está tudo certo.

Mas ei, eu escrevo artigos sobre Perfect Insider. É minha função pensar sobre os episódios. Com essa você não contava, hein Souhei? Muita coisa nesse episódio foi só despiste. Aliás, muita coisa desde o episódio anterior: não foi por outra razão que a Moe se negou a escutar a história do Souhei, toda convencida de que conseguiria chegar à mesma conclusão sozinha, e nesse ela desistiu rápido e pediu pra ele contar tudo. A repórter que veio ficar perturbando o coração da Moe também serviu a esse propósito. E toda a investigação até agora, que não tinha como descobrir o culpado mas descobriu mesmo assim, de repente parece tão vazia. Me sinto enrolado esse tempo todo. Mesmo assim, ainda gosto de Perfect Insider. Eu sou uma droga mesmo.

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