Kai Byoui Ramune – Uma doença chamada solidão – Primeiras impressões
Logo de cara “Kai Byoui Ramune” conseguiu captar a minha atenção devido a sua ideia. Eu diria até que o anime tem tudo para ser um dos melhores da temporada. Histórias de pessoas diferentes que compartilham o envolvimento do sobrenatural e possuem um grande foco no elemento psicológico para a resolução dos seus problemas. Até lembra “Monogatari” mas na verdade a comparação é absurda. Curioso para entender qual é a do anime? Então vamos ao episódio.
No anime pessoas são afligidas por algo semelhante a doenças que no lugar de afetar o corpo afetam o coração das pessoas. Isso é uma “incógnita”. E essa “incógnita” por sua vez gera uma “incognose” que se assemelha aos sintomas de uma doença. Assim como quando o corpo de pessoas se encontram fragilizados elas são alvos fáceis para vírus e bactérias o mesmo ocorre com os seus corações. Elas são presas fáceis para essas coisas misteriosas denominadas incógnitas.
Enfim, já expliquei qual é a das incógnitas. E assim como doenças possuem pessoas que as tratam, os médicos dessas doenças sobrenaturais, são chamados “incognotologistas”. Ramune, o nosso protagonista, é um deles e seu ajudante Kuro também está envolvido com esse mundo ainda que não esteja claro como ele o adentrou. E se temos médicos é porque existem pacientes e aqui é que entra uma garota que chora maionese. Estranho? Tanto que beira o cômico, mas vamos primeiro explicar quem é a paciente e o porquê do seu estranho caso.
Seu nome é Koto, uma garotinha educada e silenciosa, uma criança qualquer a não ser pelo seu grande talento. Ela é uma atriz mirim que vem se destacando nos últimos tempos. Vive apenas com a sua mãe, pessoa que sempre a amou com muito carinho embora nos últimos tempos tenha se distanciado.
O motivo foi a fama que a garota alcançou. Administrar a carreira da filha era algo que a ocupava muito. A condição de Koto então mudou, ela se tornou rica porém perdeu a companhia de sua amada mãe. Uma mãe que desencoraja a sua filha a chorar mesmo na solidão ou na tristeza. Não, lágrimas apenas na atuação.
Kota nunca expressa os seus sentimentos verdadeiros já que eles desagradariam profundamente a sua mãe. Sendo assim os únicos momentos em que a garota chorava e demonstrava emoção era em suas atuações. Mas então algo estranho começou a acontecer com Koto. Ela começou a expelir condimentos no lugar de suas lágrimas. Ela lacrimejou diversos condimentos diferentes como maionese, ketchup, molhos no geral, etc.
O diagnóstico é logo dado pelo Ramune que logo receita os medicamentos necessários. A curta conversa foi o bastante para esclarecer a situação da garota. Os condimentos representam as suas próprias emoções suprimidas que se alastram nos momentos onde ela tenta força-los em suas atuações. Para resolver esse problema um chá especial e um par de lentes de contato são o bastante. Simples assim. E simplesmente genial.
A começar pelo fato do Ramune não revelar para a garota qual é o problema dela. A garota já sabe qual é o seu problema e o deixou chegar até aquele ponto, não é um “diagnóstico médico” que vai muda-la. E aí é que entra o chá, que na verdade não passa de um chá normal. O truque está no recipiente chamado “chaleira desbocada” cujo qualquer um que tome algum líquido saído dela só consegue dizer a verdade. Aí está a parte genial, que obriga Koto a dizer tudo aquilo que acha e que pensa na cara de sua mãe. Algo que ela nunca faria por si mesmo.
Aqui o anime deixa claro qual é a vontade da Koto. Ela se sente infeliz com sua carreira de atriz que a faz padecer da solidão e da tristeza que sente e que nem mesmo pode expressar. Sua mãe apenas a trata como um instrumento para enriquece-la. Tão próxima mas ao mesmo tempo tão distante. A pessoa que ela tanto amava cada vez mais se distanciar e se prender em seu próprio mundo, um castelo cercado por estantes de sapatos e armários de roupas.
E enquanto ela sentia tudo isso tinha que continuar atuando e fingindo sentimentos que ela mesma não era mais capaz de expressar. E nesse ponto é que entra as lentes. Sua função era impedir que os condimentos saíssem, assim como uma tampa que fecha um recipiente. Isso permitiria que a garota chorasse e atuasse sem problemas. Bem, quase sem eles.
O problema é que os condimentos se acumulam no corpo agravando a sua saúde. É justamente por isso que ela tinha que dizer a verdade, já que isso iria liberar os condimentos-sentimentos que suprimia. As lentes eram apenas se ela precisasse MUITO usar e ainda assim ela deveria usar por pouco tempo e com muito cuidado.
Olhando assim até parece que o Ramune cometeu um erro ao dar esse item para a garota. E eu realmente acho que esse é o caso, foi uma tremenda irresponsabilidade. Porém, o que me incomodou não foi nem como se deu a piora da Koto mas sim como isso foi conveniente para o roteiro.
A piora era algo necessário para que ela expelisse os condimentos na forma de energia, ato esse que destruiu todos os bens materiais que a mãe da garota se apegava. Além dela ver a sua filha naquele estado ser uma grande desculpa para que ela mudasse radicalmente de atitude. O problema é que você consegue ver a mão do autor guiando a conclusão do caso.
A forma como se chegou até aquela situação é problemática mas a situação em si é muito interessante. O que acho mais significativo é o fato da mãe da garota ter a possibilidade de escolher entre a vida da filha ou os bens materiais que tanto é apegada. Pense, ela abandonou sua filha e deixou de considera-la enquanto se encantou com todos aqueles sapatos, roupas e joias.
Tudo isso era tão caro e brilhante que a cegava e não permitia que ela visse que já tinha algo muito mais valioso, algo que sempre esteve ao seu lado. O anime a obrigou a comparar o valor dessas duas coisas e a fez perceber como a vida de sua filha é muito mais preciosa. Só essa experiência já é o suficiente para justificar a mudança de atitude dela com a filha e até mesmo justificaria um descaso com bens materiais uma vez que ela percebeu que há coisas muito mais valiosas do que eles.
Esse episódio foi muito bom, ainda que tenha me desagrado a forma como a obra guiou os acontecimentos até a sua conclusão final. Na verdade um dos pontos que senti é que esse caso precisava de mais alguns episódios. Algo como “Monogatari” muitas vezes faz, acho que ficaria melhor do que histórias episódicas. Sempre tem a possibilidade desse ter sido apenas uma história introdutória e nos próximos episódios o anime trabalhar melhor e dar mais tempo para si mesmo. É o que espero. Até mais.