Kiseijuu – ep 2 – Os verdadeiros demônios
[sc:review nota=5]
Para onde Kiseijuu está levando a história? Ainda não sei direito, mas parece que será algo muito parecido com Tokyo Ghoul. O conflito entre dois mundos, o dos monstros e o dos homens, e o protagonista que pertence a ambos mas por isso mesmo não pertence a nenhum. A diferença é que aqui o inimigo é muito mais assustador (não existe uma unidade policial especializada em combatê-lo; na verdade, a humanidade sequer sabe sobre a existência do inimigo), o protagonista está sozinho e a história é contada do ponto de vista da humanidade. Tudo isso torna a história mais verossímil e faz com que eu me identifique com muito mais facilidade com o protagonista. Mas antes de tecer minhas considerações, começarei explicando o básico.
Não se sabe como ou de onde, mas surgiram no mundo parasitas que devoram o cérebro das pessoas para controlar seus corpos, tornando-se monstros que devoram outras pessoas. Relatos de assassinatos por esquartejamento vêm de todas as partes do mundo, a sensação de insegurança começa a se alastrar, mas ninguém sabe quem ou porque está fazendo isso. O único que sabe da verdade é Shinichi, que teve sua mão direita devorada por um desses parasitas. Como ele não conseguiu o cérebro Shinichi permanece consciente e no controle de todo o resto de seu corpo, fazendo com que os dois organismos habitem um mesmo corpo. O episódio começa com Shinichi dizendo que desistiu de entregar o parasita para as autoridades (mas ele mudará de ideia de novo durante o episódio, acompanhe) pois precisa dele para se proteger e proteger os outros. Sim, Shinichi já acha a situação ruim o bastante para pensar de forma altruísta em proteger, dentro de suas limitações, toda a humanidade. O parasita diz não entender a forma de pensar de Shinichi, que responde que ele é mesmo um inseto, um demônio, ao que o parasita treplica que, dado o que ele já aprendeu sobre a humanidade, o homem que devora diversas outras espécies está muito mais próximo da definição de demônio que ele e os seus, que só devoram uma.
E durante todo o episódio vemos cenas que tentam provar isso. Logo no começo, um trio de rufiões tentava forçar uma mulher a acompanhá-los para sabe-se lá onde contra sua vontade, quando chega um outro homem, de terno, e derruba os três a socos e pede que ela o acompanhe. Ele era um parasita, um monstro, mas ele a salvou e não matou os três bandidos. Ele pretendia devorá-la, isso é certo, mas o clima todo faz pensar se o que ele faz é mesmo assim tão diferente do que os bandidos fazem. Com a diferença, que Migi (o “nome” que o parasita do protagonista deu para si mesmo) explicou muito bem, que os parasitas estão apenas se alimentando, isso não deveria ser natural? Tanto que ele não matou os bandidos e não os mataria se eles não tivessem retornado e tentado “dar o troco”. No final, ele acaba matando os quatro, embora admita não ter estômago para comer todos e reconheça ter sido um erro se envolver com eles, portanto, mas ele não pode deixar que seres humanos saibam da existência e da identidade dos parasitas. Noutra ocasião, Shinichi encontra três moleques maltratando um gato. Eles o enterraram, deixando só com a cabeça para fora de um tanque de areia, e estão tentando acertá-lo à distância com pedras. Shinichi confronta os três, salva o gato, Migi o protege das pedradas com destreza inumana e Shinichi ameaça: “Vocês querem que eu os devore?”
Shinichi fez as pazes com Murano (a amiga de quem apalpou o seio no primeiro episódio) e Migi começa a se interessar pelo “acasalamento humano”. Tenho para mim que isso é mais do que curiosidade e a vontade natural de aprender dos parasitas. É um instinto de sobrevivência mesmo, é como se Migi tivesse ele próprio chegado à adolescência e estivesse começando a se interessar por sexo e tudo o que o tema envolve. No final do episódio vejo dois adultos nus, o homem claramente um parasita, a mulher não deu para ter certeza, e eles estavam se preparando para o coito. Não há romantismo nenhum na cena, se eles fizeram mesmo sexo após aquilo, foi um sexo automático, animal, instintivo, apenas para procriação. E pergunto: nascerão disso esporos como os que começaram a infectar pessoas em primeiro lugar? Um bebê humano normal, afinal eles só devoram o cérebro, não as gônadas dos hospedeiros? Ou um humano já infectado? Ao fim e ao cabo, os parasitas são apenas organismos buscando a sobrevivência, como qualquer outro. São mais inteligentes e mais poderosos que seres humanos, mas como não aparentam viver em sociedades não desenvolveram algo que nós desenvolvemos e que é inerente à vida social: moral. Por isso Migi, mesmo sendo muito mais inteligente que Shinichi, nunca entende a preocupação dele com outras pessoas. Talvez nunca vá entender. Ou talvez passe a entender, seria um desenvolvimento interessante de assistir.
Mas por enquanto, quem está se desenvolvendo é o Shinichi. Ele começa a pensar seriamente em usar Migi para combater outros parasitas para salvar pessoas, o que esse não entende e se recusa a fazer. Em um surto de altruísmo ele chega mesmo a pensar em se entregar para que o parasita seja conhecido pelo mundo e pesquisado, apesar do que possa vir a acontecer com ele, como Migi bem lembrou no primeiro episódio. Mas Migi não se intimida por um segundo sequer e simplesmente ameaça deixar Shinichi cego, surdo e mudo se precisar para garantir a própria sobrevivência. As determinações de ambos são postas à prova quando outro parasita os encontra e Shinichi ao invés de evitar o combate, procura o local ideal onde poderiam eliminar o monstro sem que ninguém veja. Migi fica insatisfeito, mas não há nada que possa fazer, ele precisa proteger seu hospedeiro. Precisa? O outro parasita oferece um lugar em seu próprio corpo, segundo ele Migi poderia se realocar para a mão do humano que ele infectou, e prossegue enumerando as vantagens que teriam dois parasitas em um só corpo. Shinichi começa a temer pela própria vida, mas enquanto o monstro dava abertura para convencer Migi ele o matou por não estar convencido de que o procedimento de realocação seria possível. Ou foi o que ele disse pelo menos. Shinichi prefere acreditar que Migi o escolheu no lugar do outro monstro, em um sinal de começo de desenvolvimento de empatia. E eu não possuo ainda informações suficientes para acreditar em um ou no outro.
No fim de semana Shinichi e Murano saem em um encontro, e a garota, que claramente gosta dele, não para de se sentir incomodada, de achar que tem algo errado com Shinichi. Mais de uma vez ela pergunta se ele é o Shinichi de verdade. Mas quem mais ele poderia ser? A menos que ela também saiba algo sobre os parasitas, acho que essa pergunta não faz sentido nenhum. Essa dúvida, bem como a cena onde ela solta a mão direita dele (Migi) para segurar a esquerda estão ali, até onde me diz respeito, apenas para enfatizar para o espectador quanto o Shinichi está mudando. Ele está estranho, parece outra pessoa. Ei, eu estou assistindo, eu sei que ele mudou, não precisa dizer isso para mim, ok? Apesar disso, esse episódio é muito bom.
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