[sc:review nota=5]

O Decim quebrou nesse episódio (não fisicamente, não se assuste) e boa parte das minhas teorias também. Bom, nem tudo é de se jogar fora, algumas coisas ainda parecem certas e rearranjar os cacos das teorias quebradas talvez funcione também. Mas um chute se provou completamente errado: eu havia hipotetizado que o Decim havia julgado e condenado a Mulher de Cabelo Negro (que ganhou nome nesse episódio, viva!). Mas mais importante que hipótese é a análise dos fatos transcorridos no episódio, então vou encerrar aqui essa introdução e começar logo o que interessa.

O fato mais notório do episódio foi telegrafado desde o final do anterior: o Decim entrou em crise. Ele não sabe mais como julgar corretamente. Para piorar a situação, o corpo da Mulher de Cabelo Negro começa a se desmanchar (a propósito: o nome dela é Chiyuki, já chego lá mas vou passar a chamá-la desse modo desde agora) porque, revela-se, almas humanas não podem habitar esse purgatório por tempo indefinido. E o tempo dela já está acabando. Suponho que isso esclareça uma dúvida que o anime causava até agora: o tempo que estava acabando do qual Nona falava era o tempo de Chiyuki por lá. Isso significa que Decim precisa julgar logo Chiyuki bem no momento em que ele perdeu a capacidade de julgar facilmente que possuía até então. E por culpa da própria Mulher, curiosamente. Nona arranja um julgamento fácil com uma boa velhinha para Decim terminar logo o serviço. E puxa, tem tanta coisa que preciso aprofundar que eu apenas toquei a superfície nesse parágrafo que nem sei direito por onde começar!

Primeiro então a urgência em julgar Chiyuki. Revela-se ao espectador (e à pobre Mulher de Cabelo Preto) que almas humanas que fiquem tempo demais ali se tornam bonecos. Mas noutro episódio Decim disse que os corpos dos humanos nesse mundo já são bonecos, então as almas simplesmente desaparecem? Ficar ali é o mesmo que ir para o vazio? Esse purgatório fica no vazio? Ou eu não entendi alguma coisa direito e os corpos não são exatamente bonecos? De um jeito ou de outro, o Decim disse com todas as palavras que esses corpos são descartados, ou seja, eles não fazem parte da alma. E a corpo que Decim recria em forma de boneco enquanto explica isso é o de uma pessoa que foi enviada para o vazio, portanto não há espaço sequer para uma teoria que ao reencarnar o corpo anterior fique “sobrando”. A mulher condenada no primeiro episódio foi para o vazio mas o seu corpo de boneco foi resgatado pelo Decim, quando normalmente seria descartado – só as almas vão para o vazio ou para a reencarnação, portanto. Ou serão as almas destruídas no vazio? Almas que vão para o vazio ficam lá até virarem bonecos, e daí o Decim as resgata? Ou talvez virem bonecos mais rápido (ou até instantaneamente) após serem enviadas para o vazio? Nesse caso, bonecos são feitos de almas mortas? Lembrando que os próprios juízes são … bonecos! Mas de acordo com as três leis dos juízes, eles nunca morreram, então não existe a chance de serem, efetivamente, almas mortas. Essa é apenas a matéria-prima de seus corpos, e o que eles possuem que possa ser chamado de “alma” é criado de outra forma, de outra coisa. Ou talvez de fragmentos de almas mortas mesmo, mas talvez não uma só alma específica e certamente não ressuscitada de qualquer forma.

E a incapacidade de Decim julgar Chiyuki? No passado, ele não pôde julgá-la pois ela possuía as memórias de sua morte, portanto era impossível forçar ela a participar de qualquer jogo que a levasse a alguma situação extrema, ou seja, era impossível para Decim julgá-la da única forma que ele sabia fazer. Agora nem dessa forma ele sabe julgar mais, e por isso ainda não pode julgar Chiyuki. Uma senhora idosa é enviada para lá, para ser julgada junto de Chiyuki (o julgamento padrão), mas Decim não consegue, não quer, não pode, realizar um jogo que a force a nada. O jogo é simples de todo modo e a senhora, por acaso esposa do idoso que é julgado no curta-metragem Death Billiards, é educada e bondosa demais para que um jogo simples a provocasse qualquer tipo de reação extravagante. Ela reencarna, como não poderia deixar de ser. Mas Chiyuki, que recorda seu nome durante o jogo, ainda permanece sem julgamento. Me pergunto o quanto ela se lembrou, se é que se lembrou, além do que apareceu até agora.

A única certeza que eu mais ou menos tenho é que Chiyuki foi uma patinadora profissional – patins de gelo despertam suas memórias, e na abertura ela aparece patinando com colant e coque típicos de competições ou exibições. O que talvez continue abrigando minha hipótese de aborto: ela pode ter engravidado nas proximidades de algum torneio ou espetáculo importante para ela, e seguir com a gravidez a teria tirado do rinque. Talvez da carreira. O que enfraquece a minha tese é que o aborto é legal no Japão, portanto ela não poderia em hipótese alguma ter morrido em decorrência direta desse. Mas há amplo espaço para questões psicológicas e de relacionamento que podem decorrer de um aborto e culminar na morte, então ainda sustento a minha teoria, embora reconheça-a fraca e dependente do escasso conhecimento que consegui reunir acerca do verdadeiro livro Chavvot, um texto religioso judaico que, entre outras coisas, trata do aborto.

No final, Oculus descobre que Nona está tramando algo e que existe um juiz com emoções humanas. Não posso acreditar que disso resultará algo bom para Nona, Decim ou Chiyuki. Mas acho razoável perguntar (dúvida que li primeiro no Elfen Lied Brasil): o juiz com sentimentos é mesmo Decim? Eu o achava tão … progressivamente mais emotivo, até o episódio anterior. Mas o comportamento dele, tanto quando julga quanto quando é incapaz de julgar agora, em retrospecto, passaram a me parecer tão incrivelmente mecânicos. Será que Decim tem mesmo sentimentos? Por outro lado há o explosivo Ginti, com sua interpretação niilista sobre o significado dos julgamentos. E foi com ele que algo bizarro aconteceu na cena pós-créditos. Por outro lado, a preocupação de Nona com Chiyuki, sua proximidade da experiência, me fazem crer que ela foi enviada propositalmente para Decim com suas memórias, ou seja, foi um teste deliberado. Por que Nona testaria um juiz comum, igual a todos os outros? Mas talvez a pergunta devesse ser: por que ela não testaria um juiz comum, igual a todos os outros? Vale considerar que ela já falou em mais de uma ocasião em formas de julgamento, no plural. Nada garante que ela esteja realizando apenas um experimento e muito menos que todas as fichas dela estejam depositadas em Decim.

Comentários