[sc:review nota=3]

Ainda está para nascer o dia em que eu assistirei um episódio desse anime onde os clichês não transbordem da dela. Primeiro, não me entendam mal, eu não tenho absolutamente nada contra clichês porquê a-) é besteira achar que o mundo será sempre lindo e feito de ideias novas e inovadoras e porquê b-) clichês funcionam pra que a gente entenda coisas rapidamente, em especial os personagens e suas motivações. Eu não espero uma tese de 8 mil palavras me explicando porque a Shinoa é uma insuferable bitch, mas a partir do comportamento caricato dela eu posso sempre intuir que a vida do Hyakuya não será fácil com ela por perto e que, provavelmente, ela tem um passado triste pra explicar essa faceta humana desprezível. Mas, eu digressiono. Clichês são funcionais e, quando bem executados, são lindos. Só que os clichês aqui, em Seraph of the End, me parecem existir pela mais pura preguiça da produção em desenvolver algo a fundo.

Nesse episódio, assistimos a brilhante atuação de Mikaela como exterminador de monstros (os mesmos combatidos pelo Exército Demoníaco Imperial Japonês) que, assim como seu irmão humano, pouco se importa em cooperar com as outras pessoas com quem ele compartilhava essa missão. Os vampiros destroem o centauro-alado-monstruoso e informam aos refugiados que aquele distrito agora está sob a proteção dos vampiros e que, em troca, eles desejam apenas que as pessoas lhes doem seu sangue. Uma mocinha, salva por Mikaela durante o ataque, lhe oferece seu sangue de bom grado e isto desencadeia a lembrança de uma conversa com Hyakuya, quando eles eram mais novos; Hyakuya, como sempre, bradando sobre como vai exterminar todos os vampiros e Mikaela, sensato, tentando fazer o irmão entender que vampiros são vencidos com inteligência, não força bruta. Ele realmente estava se sentindo muito confiante e inteligente na noite em que seus irmãos morreram, crente de que teria a prova cabal de suas palavras para Hyakuya mas, ao invés disso, todos – com exceção dos dois – terminaram mortos por Ferid.

E assim descobrimos como Mikaela sobreviveu àquela fatídica noite; Krul Tepes, terceira progenitora dos vampiros, aparece depois que Hyakuya fugiu sozinho e troca farpas com Ferid.

Krul: – E ae Ferid, seu bosta, que que você tá fazendo aí no chão, baleado?
Ferid: – Ah, sacomé, pregando umas peças numas crianças humanas aí porque a eternidade é muito chata.
Krul: – Seu puto, você tá pregando peças nas minhas crianças humanas, vou encher sua cara afetada de bolacha.
Ferid: – Espera só eu contar pra nossa mãe que você tá mexendo com os serafins, ela vai adorar saber.
Krul: – Rapá, x9 morre cedo na favela, cê tá ligado né?
(essa transcrição é totalmente verdadeira, juro)

Não fica claro porquê, mas o experimento do qual as crianças do Orfanato Hyakuya faziam parte é referido como “maldição” por Ferid e mexer com isso seria considerado alta traição entre a nobreza vampírica, grande o bastante pra que mesmo alguém como Krul (que é a terceira progenitora) não passasse impune. Mas ela ameaça a vida inútil de Ferid e ele vai embora em silêncio, aparentemente concordando em deixar a coisa como ela está. Dado importante: quando Krul se refere às crianças no chão ela diz “deixou um escapar e quase matou todos os outros” (o que me faz pensar que podemos esperar Akane & cia por aí). Assim, depois de chutar a bunda de Ferid, Krul se volta para Mikaela e lhe oferece a vida eterna. Ele recusa a oferta, mas Krul pretendia torná-lo um vampiro de qualquer jeito e o garoto não tem muito como se livrar dela, com o pé na cova como estava.

Além de Krul, conhecemos outro novo personagem: Kimizuki.

Ele tem um começo muito promissor comprando briga com Hyakuya na escola, por razão alguma (e qualquer um que soque o Hyakuya, porque sim, tem meu respeito). Depois, Hyakuya encontra Yoichi e juntos eles vão atrás de Shinoa para sua primeira aula na turma de recrutas que serão treinados para integrar o Esquadrão da Lua Demoníaca. Ela os guia até a sala de aula onde o Tenente Coronel Guren faz o que todo militar de respeito faria frente ao dever de ensinar os futuros combatentes de sua organização: dorme. Com um homem como esse no comando fica fácil de entender porque Shinoa só quer ver o mundo queimar. Enquanto eles perdem tempo discutindo sobre os deveres de Guren que ele não cumpre, Hyakuya descobre que seu mais novo companheiro de classe é Kimizuki e eles voltam a se esmurrar na sala de aula. Quando Shinoa exige que Guren faça algo a respeito, ele usa a boa e velha estratégia do roundhouse kick educativo e nocauteia os garotos. Mais tarde, Kimizuki procura Guren para lhe perguntar sobre o teste para a Arma Amaldiçoada. Ele supõe que, tendo as melhores notas nas aulas e testes, ele será indicado para uma arma da série do Demônio Negro, a mais poderosa que existe. Guren rebate: “Mai nem que a vaca tussa!” e enquanto Kimizuki mimimiza sobre isso, Guren lhe explica que o garoto não tem força o bastante no coração (aka: força de vontade) para enfrentar um demônio tão poderoso e que ele seria consumido em função de seus objetivos. Aprendemos que o garoto só deseja entrar no exército para poder mover sua irmã doente para o hospital militar, que tem mais recursos e tratamentos para o Vírus Apocalipse. Guren ainda faz troça de Kimizuki: “Você fala do Hyakuya, aquele tosco, mas ele pelo menos tem amigos.”

E aí meu respeito por Kimizuki morreu.
Morreu forte, morreu rude, em especial por conta do treino que viria perto do final do episódio.

Exercício de confiança/cooperação: acorrente-se a um coleguinha a sua escolha e juntos derrotem as bonecas gigantes malvadas. Naturalmente, Shinoa move-se rápido e rouba Yoichi de Hyakuya, deixando o garoto sobrar com Kimizuki. Naturalmente, a parceria não dá muito certo no combate e os dois acabam se atrapalhando mutuamente. O treino é interrompido pela instrutora com a chegada de um mensageiro, informando à Kimizuki que sua irmã internada teve uma súbita piora em seu quadro de saúde e o dispensa do treino. Faz sentido, ele vive pela irmã e só está lá por ela. Naturalmente, ele recusa-se a deixar o treino.

Sim, você leu certo.

Ele é tão adamante em sua determinação por integrar o Esquadrão da Lua Demoníaca para salvar sua irmã que ele ignora a saúde de sua irmã. Lógica, cadê? E não tô dizendo que rolou um conflito interno, que ele hesitou, considerou suas opções. Não, ele mandou uma recusa direta e reta, sem nem piscar. Nota-se de longe toda a consideração que ele tem pela irmã moribunda mesmo. Hyakuya, em sua primeira demonstração de inteligência emocional na série, soca Kimizuki e lhe dá uma lição de moral sobre não ignorar seus parentes à beira da morte porque, bem, quando eles morrerem você vai se arrepender. Assim, nossa dupla favorita de teimosos segue para o hospital, ainda algemados juntinhos (fico imaginando as caras das pessoas na rua). Eles fazem as pazes depois da visita, planejando assar uma travessa de cookies para comer com sorvete, enquanto assistem filmes românticos e pintam as unhas do pé um do outro.

No final do episódio, os vampiros se reúnem num teatro (se cuida, Anne Rice!) para discutir uma ameaça ao mundo: O Exército Demoníaco Imperial Japonês, que recentemente voltou a conduzir experimentos com o “Owari no Seraph” (que, 8 anos antes, desencadeou a praga que aniquilou grande parte da população mundial). Para proteger os humanos de sua burrice, os vampiros decidem declarar guerra ao Exército e instaurar uma nova ordem mundial. Blábláblá, insira aqui seu discurso ufanista favorito sobre dominação mundial, et cetera. Krul Tepes é a portadora das notícias sobre a guerra, o que me leva à questionar todo seu trolóló com Ferid no começo do episódio. E, ainda mais, questionar o que diabos é o serafim do fim e de onde diabos vem os centauros-alados-monstruosos. Quem os controla? Quais são seus objetivos? Estariam eles relacionados ao serafim do fim? Tantas dúvidas, tantas dúvidas. Pelo menos, parece que a série pretende respondê-las, nem que seja com um bando de clichês preguiçosos.

Vou fazer minhas apostas:

– O serafim do fim, o que quer que seja, transforma humanos em centauros-alados-monstruosos, supondo que o hospedeiro sobreviva à infecção;
– O vírus apocalipse é uma mutação do serafim do fim que simplesmente mata o hospedeiro;
– Quando nossos protagonistas descobrirem sobre o envolvimento do exército com o serafim do fim e o vírus apocalipse, vai rolar guerra interna;
– O exército acredita que o serafim do fim tenha a solução para seus problemas com demônios e o único motivo que os torna hostis aos vampiros é saber que seu conselho progenitor tem algo contra a coisa.

São suposições extremamente clichezentas e estúpidas de tão óbvias, mas não acho realmente que o anime vá muito longe disso. Ficarei mais do que feliz quando a produção provar que estou errada com algum bom plot twist.

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