[sc:review nota=5]

O último episódio de Plastic Memories foi também seu melhor episódio. No artigo que escrevi semana passada eu disse que esse seria o melhor final possível, mas depois de tanto o anime se perder com seu enredo, seus personagens e seus temas durante toda a série eu estava cético de que fosse acontecer. Mas pensando bem talvez eu tenha sido duro demais: com o tempo de um episódio apenas não é como se pudessem ter feito algo diferente disso. Todos os arcos mais complexos duraram dois episódios. Não era possível a Isla ser sequestrada, levada embora pela empresa, fugir com o Tsukasa, ter um defeito misterioso no seu dia final ou descobrirem do nada uma forma milagrosa de a salvarem em um único episódio. Não se fosse para Plastic Memories manter o ritmo que ele próprio ditou até agora, e pelo menos na cadência da narrativa esse anime foi coerente do começo até o fim. Então só poderia ser um dia normal, e sendo um dia normal só havia um resultado possível, e foi o que eu assisti. E foi um episódio muito bom. Disse e repito: o melhor do anime até agora, fechando bem o único tema que parece ter escolhido para levar a sério.

Isla morreu. Bom, ela é um robô então isso é tecnicamente incorreto, mas ela é um robô com aparência humana, comportamento humano e emoções humanas. Se parece com um pato, nada como um pato e grasna como um pato então é um pato. Isla passa no teste do pato, então ela é humana. Como humana, ela pode morrer, e morreu. Plastic Memories é um anime que se trata dos últimos dias de uma humana que veio ao mundo em forma de robô chamada Isla. É infalível que seres humanos morram, só não sabemos quando exatamente, mas sabemos que todos morreremos, é a única certeza que todos nós temos. Os robôs do tipo giftia, os humanos mecânicos desse anime, até mesmo o dia exato em que morrerão sabem. Além das habilidades físicas superiores de um robô (supostamente travadas a menos que eles percam o controle ou as tenham destravadas por alguém da empresa que os produz), os giftias também são super-humanos em sua capacidade de saber o dia de sua morte (não parece um superpoder tão legal assim).

Isla sabia que ia morrer, mas desde o começo, ao contrário do que eu especulei, não parecia se importar exatamente com isso. Talvez pela inevitabilidade, talvez porque todos os giftias sejam programados para não se importarem com isso, mas Isla não se importava que iria morrer e que sua morte estava próxima. Considerando que eles vêm ao mundo já criados, não precisam crescer e aprender o básico sobre tudo o que os cerca, como interagir e se comunicar, que nunca envelhecem durante toda sua existência não tão longa assim (cachorros e gatos costumam viver mais), e que não escolhem as circunstâncias de sua vida, acho natural que não se importem com a morte em si. A Isla, contudo, e outros giftias durante a série também demonstraram isso, se importa com as pessoas ao redor dela. Ela já fez alguém muito querida sofrer, e de forma alguma queria fazer alguém sofrer de novo, por motivo nenhum. Nem mesmo por conta de sua morte, que é algo que está além do controle dela. Então ela não se aproximava de ninguém e não deixava ninguém se aproximar, convicta de que se ninguém se importasse tanto assim com ela, ninguém sofreria com sua partida.

Aí o anime desandou. A Isla fechou seu coração para o mundo e a história era sobre como ela voltaria a abri-lo antes de morrer – você só tem uma vida, não pode desperdiçá-la com seu coração fechado. Ame agora, chore agora, odeie agora, ria agora. Não há depois. O caminho escolhido para abrir o coração de Isla foi o amor, o que em si é uma escolha potencialmente ruim porque dependendo do ponto de vista não pareceria ser a história da Isla, mas uma história com participação da Isla. Foi o que aconteceu. Para manter (inutilmente, todo mundo já sabia) os segredos sobre Isla o anime foi contado do ponto de vista do Tsukasa. E o Tsukasa é muito chato. Além disso, o próprio romance em si foi horrivelmente desenvolvido. Por que o Tsukasa se apaixonou por ela? Nem ele sabe! Que história é essa de gostar dela porque é baixinha e desajeitada? A garota está em suas últimas horas de vida e isso é o melhor que ele tem a dizer? Foi a pior parte desse episódio, mas o romance todo foi muito ruim e estranho seria se o Tsukasa pudesse cantar as belezas da Isla em prosa e verso. Ele não podia, ninguém podia. Nem a Isla sabe direito porque se apaixonou por ele. Lembra-se de alguns episódios atrás, quando ela estava curiosa com o comportamento dele, achando que ele deveria estar triste mas ficando intrigada porque parecia bem? O que além disso a fez se apaixonar por ele? Isso não é motivo para se apaixonar por alguém, convenhamos.

Os primeiros episódios, dando o clima e sugerindo sobre o que se trataria esse anime, e os dois últimos, culminando em um previsível mas ainda assim emocionante desfecho, foram muito bons. Nesse episódio em particular, a metáfora da roda-gigante foi sensacional. Mas os episódios do meio do anime, durante o qual revelaram de forma mais desastrada que a própria Isla os detalhes sobre esse mundo, o passado da Isla, e o romance dela e do Tsukasa, variaram de muito ruim a medíocre. Se remover todo o meio o anime melhora bastante, ficando algumas pontas soltas que podem ser resolvidas com algumas mudanças no roteiro. Duraria menos, seria mais impactante, e teria uma animação muito melhor. Plastic Memories deveria ter sido um filme, não uma série para a TV.

  1. Concordo que o romance deles foi meio zoado mas acho que por trás disso havia algo significativo, não concordo sobre a metade do anime ser desnecessário, pense assim:o anime todo fez vc criar um vínculo com os personagens, fez vc gostar de todo mundo e principalmente da Isla, em minha opinião eles queriam criar esse vínculo para que nós achassemos q o final seria feliz para q nos sofesse-mos cm o final (sinceramente eu chorei no anime todo principalmente no final), o final é algo triste e tbm bem significativo.

    Bom… Essa é minha opinião, obrigado pela atenção.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Bom, acho que criar vínculo com os personagens pode mesmo ter sido uma das intenções do anime, mas pelo menos comigo não funcionou. Eu esperava mais missões, esperava um bocado a mais de ficção científica, esperava mais desenvolvimento sobre os crimes que estavam ocorrendo, enfim, várias coisas que o anime apresentou mas largou pelo meio do caminho. Se era para ser só um romance, deveria ter sido mais focado desde o começo. E deveria ter tido menos daquela ruiva lá sendo histérica com o protagonista, coisa irritante pra caramba.

      Obrigado pela visita e pelo comentário =)

  2. O anime é romance..entao nads disso de ficção científica..eu gostei..bem drama, chorei horrores no começo quando iam e recolhiam os outros robores, os humanos sofriam muito muito triste abrir mão de quem se ama..e o final muito triste acho que deveriam ter apagado a memoria da lsla e mais deixado ela cm seu amor e seus amigos..mais bacana o anime

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Se é um romance com UM ROBÔ, então certamente é ficção científica também. Não é como se animes coubessem apenas em um gênero. O começo, a ideia de ter que se separar dos robôs, é realmente muito bom, funciona bem. Daí o próprio anime adicionou mais elementos de ficção científica – o anime, não eu: eles perdem memórias, perdem as travas, enlouquecem, existem caçadores desses robôs, um mercado negro, combate contra esses crimes, etc … tudo isso é potencialmente interessante também, mas depois de dar uma volta louca parece que Plastic Memories “se lembra” que esse não era nem nunca deveria ter sido seu foco, então ele simplesmente abandona todas esses elementos e as linhas de enredo associadas. Foi o anime que apresentou algo para depois largar. Poderia ter sido de qualquer gênero, por acaso foi ficção científica. Poderia até mesmo ter sido outras linhas de enredo de romance mesmo – e quase que surge uma, não é? Com a intrometida e às vezes irritante e histérica da Michiru. Então o problema não é de gênero, é de enredo.

      Não obstante, Plastic Memories retornou à tempo ao que ele realmente era bom – como eu escrevi no meu artigo sobre o episódio 12 (https://anime21.blog.br/2015/06/23/plastic-memories-ep-12-de-volta-ao-clima-dos-primeiros-episodios/), “eu [..] preferiria uma ficção científica como metáfora para um drama humano”. É isso que muita boa ficção científica é, e foi isso que Plastic Memories quase deixou de ser. E sim, poderia ter sido bem melhor, mas foi um anime bem legal no final das contas.

      Obrigado pela visita e pelo comentário! =)

      A propósito, estamos acompanhando a melhor ficção científica da temporada (Girls’ Last Tour/Shoujo Shuumatsu Ryokou) e o melhor romance da temporada (Just Because!), sem falar em todas as dezenas de animes, bons, médios e ruins, de todos os gêneros, de várias temporadas, que já acompanhamos por aqui. Volte sempre!!

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