[sc:review nota=5]

Dessa vez foi Yuu quem salvou o dia. Aliás, ele salvou muito mais do que o dia. Ele salvou o irmão da Tomori, e a própria, de um círculo do inferno que já durava anos em suas vidas. Bem menos dramático, ele também salvou, de certa forma, a cantora Sara Shane. Pode não ter sido grande coisa, mas tenho certeza que além de ter se divertido aquele dia teve um significado especial para uma artista como ela. E mais importante, ele salvou a si mesmo.

Não é que o Yuu tenha acordado pela manhã e pensado “hoje vou sair salvando pessoas”. Algo mudou dentro dele de forma muito mais sutil. Assisti ele ser um egoísta inconsequente no primeiro episódio, um lobo domado quase sempre de má vontade nos arcos seguintes. Então ele sofreu um duro golpe do destino, do tipo que derruba pessoas e, bem, ele foi derrubado. Ressuscitou tudo o que havia de pior dentro de si e multiplicou por dez, depois por cem, depois por mil, e não tinha a menor intenção de parar o trem desgovernado que sua vida havia se transformado. Então Tomori interviu, freou seus impulsos destrutivos e auto-destrutivos, e mostrou a ele que não era isso que sua irmã iria querer, porque ela o amava. Não é isso que ninguém que o ame, que se importe com ele, iria querer. Ela pode ter morrido mas ele ainda está ali, e isso tem que ter um significado. Não será fácil, mas ele precisa descobrir o significado de ainda estar vivo por conta própria.

Nesse episódio ele ainda estava cheio de dor, mas ele agora sabe que não pode ficar parado. Tem que seguir em frente e mesmo sem saber ainda para onde ir ele não pode parar. De volta a uma vida escolar basicamente normal, é visível em vários momentos o quanto ele está perdido. Ele já encontrou muitas pessoas, já aprendeu muitas coisas, mas o que é que ele deve fazer de sua vida nessa nova fase? O mesmo destino que cruelmente o jogou no abismo dessa vez estendeu a mão a ele, como uma mãe gentil. Yuu encontrou na rua, completamente por acaso, Sara Shane, a cantora e compositora da banda Zhiend, a preferida da Tomori e cujo show eles assistirão no dia seguinte. E ela pediu a ajuda dele. Para coisas triviais, nada muito incrível, mas ele não pensou nada demais disso, apenas a ajudou. De alguma forma a sensibilidade da cantora percebeu o profundo pesar que Yuu sentia, e não tendo nada a perder, ele se abriu para ela, uma total estranha.

Com laços de confiança estreitados, e com o peso sobre seus ombros aliviado, ele conseguiu pensar em outra pessoa. Pensou em Tomori, pensou em todo o sofrimento pelo qual ela deve ter passado e ainda deve estar passando. Agora ele não pensa nisso apenas teoricamente como antes, ele viveu ele próprio um trauma ainda pior que o dela. Sem ninguém pedir, ele simplesmente decide ajudá-la e ao seu irmão. Ele não pretende nada com isso, não pretende que Tomori lhe deva um favor, gratidão ou mesmo que se aproxime emocionalmente dele (se pretendesse qualquer dessas coisas, teria desistido assim que ela negou se encontrar com Sara Shane). Ele não pretende sequer algo para si próprio, como paz de espírito ou sensação de realização. Ele apenas tem a oportunidade de ajudar, e isso é tudo o que ele quer fazer.

E dá certo. Claro, todo mundo ainda tem um longo caminho pela frente. A ferida no coração de Yuu ainda está aberta, o irmão de Tomori apenas despertou, mas sabe-se lá quanto ou que tipo de vida terá agora, a Tomori ainda tem seus segredos e suas culpas (certeza que ela tem), e até a Sara Shane parece ter seus arrependimentos na vida – e aposto que eles devem voltar, senão não teriam sido citados de forma tão críptica. Yuu ainda tem um longo caminho, mas ele pelo menos já descobriu que caminho é esse. Psicologicamente ele completou seu ciclo de desenvolvimento como personagem, e o que virá agora será apenas consequência disso. Do que o novo Yuu é capaz? Que Charlotte ele fará para nós? A gentileza que ele antes estendia só à sua irmã, como quando escutava ela falar ininterruptamente sobre qualquer coisa ou quando comia a comida que ela preparava com molho de pizza, agora ele é capaz de estender a outras pessoas. E descobriu que isso é bom. Yuu descobriu que trazer alegria é muito mais gratificante do que causar dor.

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