Segundo artigo de primeiras impressões! No primeiro eu falei sobre Heavy Object, Lance N’ Masques e Young Black Jack, dê uma lida nele também, bem como em todos os artigos de primeiras impressões que ainda estão por sair, fique de olho!

Não há praticamente nada em comum entre Gundam: Iron-blooded Orphans, One Punch Man e Utawarerumono, ou pelo menos pelo primeiro episódio eu acho que não há nada em comum, e é deliberado eu falar sobre os três em um só artigo: mesmo se você estiver interessado em só um deles, dê uma lida no que eu achei sobre todos! Vai que acaba atiçando sua curiosidade pelo menos um pouco, não é? Pelo menos serviria para você ter certeza que não quer assistir, hehe, então dá uma lida em tudo!

Gundam: Iron-blooded Orphans, episódio 1 – A ativista leite com pera

O lado positivo desse Gundam, ou o que se quer positivo, é que ele inicia uma nova cronologia, independente das já existentes no cânone da franquia. Você vai encontrar aqui os mesmos elementos de qualquer outra série Gundam, não tenho dúvidas, mas pelo menos é garantido que irá entender tudo. Quero dizer, se não entender será provavelmente culpa de um enredo mal escrito, e não de referências perdidas, mas por enquanto nenhum sinal de que o enredo não vá ser pelo menos compreensível.

Por causa da roteirista escolhida, Mari Okada, eu esperava algo psicologicamente pesado (sem necessariamente ser psicologicamente profundo), mas pelo menos o primeiro episódio quase não teve carga psicológica nenhuma. Foi um episódio inicial padrão de um anime sobre guerra espacial entre a Terra e uma colônia buscando independência, incluindo as inexplicáveis involuções da sociedade a um estado nobiliárquico há muito superado no mundo real mas que é comum em animes recentes desse gênero. Quero dizer, não apareceu nenhuma nobreza nem nada, não posso afirmar a essa altura que elas existam, mas há castas sociais (o protagonista obviamente é de uma casta inferior) e os vilões do momento afetam um ar de nobreza, ainda que nada indique que sejam realmente nobres. É uma forma fácil e artificial de representar relações de poder injustas.

O protagonista Mikazuki é um quadro em branco até o momento. Ele parece obedecer cegamente por uma relação de confiança mútua seu amigo e superior Orga, mas não é possível dizer muito além disso sobre ele. Orga, no entanto, parece já estar demonstrando desde o começo bastante potencial. No que ele vem pensando todos esses anos, na condição de membro descartável de uma casta inferior? Parece que ele sempre teve um plano, mas um plano para quê, exatamente? Dá muitas ordens, mas não conversa com os outros sobre o que se passa em seu íntimo. É conveniente que Mikazuki confie tanto nele, evitando que ele precise explicar qualquer coisa.

A personagem ao redor da qual e pela qual os acontecimentos do episódio se desenvolveram é Kudelia, filha de uma rica e importante família na colônia marciana onde vive o protagonista. Vive uma vida enclausurada pela proteção que o dinheiro a provê mas se incomoda com isso. Quer desesperadamente lutar pelos mais fracos, a ponto de ter se tornado a figura em torno de quem converge o movimento emancipacionista, mas o erro dela começa bem antes, é conceitual: ela luta pelos “mais fracos”, estabelecendo desde sempre sua posição de “mais forte”, mesmo que não queira. Ela não os conhece, não os entende, e toda sua boa vontade soa quase tão opressora para os garotos de segunda classe, como o Mikazuki, quanto os abusos que eles sofrem rotineiramente. E se em um só momento desse episódio eu vi um texto da Okada foi quando a Kudelia fitava sua mão em agonia em sua cama, sem conseguir dormir, só porque mais cedo Mikazuki havia se recusado a dar-lhe um aperto de mão (que ela tentou forçar a ele) porque estava com as próprias mãos sujas. Ela foi até lá para “salvá-los”, mas no fim do dia ela é quem foi salva.

One Punch Man, episódio 1 – O paradoxo do super-homem niilista

Prometo que além do título não vou citar muito Nietzsche. Quero dizer, se não dá nem pra escrever o nome do cara sem consulta, como posso ousar querer entender o que ele escreveu? Além do que seria bastante chato escrever uma primeira impressão filosófica. Mas digo uma coisa: ainda que de forma transparente, sem afetar o andamento do episódio, é incrível como versões resumidas das ideias desse autor se encaixam com o cenário e principalmente o protagonista de One Punch Man.

Já deve ter lido ou ouvido por aí dada a fama do mangá que agora se transferiu para o anime, mas One Punch Man é a história de um super-herói, Saitama, que consegue derrotar qualquer adversário com apenas um soco. O cenário é típico de super-heróis americanos (ainda que pela ótica japonesa), uma cidade qualquer que poderia ser normal não fossem os vilões que a afligem de tempos em tempos e os heróis que se dispõe a protegê-la. A partir disso One Punch Man constrói sua paródia. O anime se desenrola em ritmo de comédia, super-exagerado e absurdo. Não recomendo se quiser assistir só para rir, contudo, não é tão engraçado assim, está mais para apenas idiota.

E Saitama realmente derrota qualquer um com apenas um soco. Seja um monstro criado supostamente pela própria força vital do planeta ou uma criatura titânica produzida por um cientista louco. Antes de morrer, o colosso se perguntaria de que serve tanta força. Esse é exatamente o questionamento de Saitama. Por que, indaga ele, por que ser tão forte? Ele não é capaz de obter nenhuma emoção em seus combates e, mesmo assim, avalia que apesar de derrotar vilão atrás de vilão o que ele faz é inútil, afinal vilões continuam surgindo, não parecem estar diminuindo em quantidade.

No fundo, ele é entediado como qualquer trabalhador engravatado. Não vê propósito no que faz e não vê propósito para si mesmo na vida. E como um engravatado médio, ele também possui uma compreensão bastante limitada do mundo. Ora, se com ele derrotando vários vilões ainda existem outros tantos no mundo, se ele não derrotasse nenhum existiriam todos os que ele deixou de derrotar mais os que ele nunca enfrentou – haveriam mais vilões portanto e o mundo seria objetivamente pior. Mas ele só consegue enxergar números, e esses continuam iguais. É mesmo muito parecido com a visão pessimista que muitas pessoas têm da vida em uma metrópole: não importa quanto se faça para resolver determinado problema, ele sempre continuará rampante – portanto, tentar resolvê-lo em primeiro lugar é inútil. Acredito que a história se desenvolverá em torno disso ou tendo isso em consideração a maior parte do tempo, mas dado o alto teor de comédia duvido que vá haver alguma resposta. É mais provável que One Punch Man mude de gênero no meio do caminho e passe a ser uma história com mais ação, com o surgimento de vilões que realmente ameaçam Saitama. Caso siga essa rota não sei como combinará isso com sua força capaz de derrotar qualquer um com apenas um soco, mas não seria difícil; isso não é exatamente física nuclear. Ou filosofia nietzschiana.

Utawarerumono, episódio 1 – Você só vive uma vez

Há algo de profundamente perturbador logo no início do anime, e não é a centopeia gigante ou o limo ou qualquer elemento daquele cenário fantástico. O protagonista amnésico veste uma camisola de hospital. Eu não acredito que pacientes de hospital de repente surjam ou sejam levados para um outro mundo nesse anime. Será isso uma experiência de quase morte? Pós-morte? Apenas coma profundo? Será que, vá lá, a alma dele vagou para outro mundo enquanto seu corpo permanece em uma cama de hospital? E note que ele possui cabelo comprido. Até onde eu sei, são raros homens japoneses com cabelos compridos, de modo que isso sugere que ele está no hospital já há algum tempo.

Salvo por uma mulher com rabo e orelhas de bichinho que agora se entitula sua guardiã, ele ainda não se lembra de nada, nem de seu próprio nome. Ele não lembrar nada é razoável, mas é muito estranho que ele não se incomode com todas as coisas de outro mundo que ele vê, inclusive Kuon, sua salvadora. Se isso não for licença poética do autor, talvez signifique que ele esteja em um estado avançado de confusão da realidade com a fantasia (ou estivesse, antes de ir parar ali). Como nem de seu nome ele se lembra, Kuon lhe dá um nome novo: Haku.

Ele não fica muito satisfeito. Mas ele não fica muito satisfeito com quase nada, então isso é o de menos. Essa é sua personalidade: rabugento-passivo, não quer fazer nada, só se preocupa com o que lhe é conveniente. Haku não age por mal, o que me parece muito mais desconcertante. E é assim de propósito, acredito, dado que ao longo do episódio Kuon se comporta como uma mãe severa que ensina ao filho como viver em sociedade. Talvez isso tenha algo a ver com a enfermidade de Haku no mundo real? Sem dúvida ele parece uma pessoa desapegada da sociedade, ou no mínimo profundamente melancólico por não ver propósito em sua posição no mundo (vai ver ele é o Saitama alguns anos no futuro? hahaha). Kuon não apenas o ensina o que deve fazer, mas o tempo todo o diz porque deve fazer. Nada está entrando muito bem na cabeça dele, mas é de se esperar que ao longo da série ele aprenda algo e talvez desperte para ter uma segunda chance (ou se desespere ao descobrir que jogou fora a única que teve).

O relacionamento entre Haku e Kuon é ainda um pouco mais do que isso. De forma alguma eu diria que qualquer um deles esteja apaixonado pelo outro, mas a tensão romântica surgiu em várias situações, sem que necessariamente eles tenham percebido. Ele percebeu, contudo, que ela é bonita, e ela bisbilhotou-o no banho em clara demonstração de curiosidade e talvez interesse físico mesmo. Tirando o sarcasmo, o relacionamento entre os dois me lembra o de Holo e Lawrence de Spice and Wolf.

  1. Bem, comentei no episódio de primeiras impressões anterior, nada mais justo que eu comente nesse também.
    Vamos lá, Gundam, confesso que não ia assistir por não ter acompanhado a franquia, e seria trabalhoso começar agora, além de ter que dedicar muito tempo, mas, visto que não será tão conectado com os outros da franquia vou dar uma chance.
    No caso de One Punch Man, vou assistir porque li o mangá (e ainda leio), e achei uma boa estória para passar o tempo. Ah, se pensa que chega alguém que dê trabalho à ele pode esperar sentado, grande parte do humor gira em torno de (quase) todos subestimarem Sataima por causa de sua aparência e no final ele simplesmente derrota todo mundo com um soco, quase nem tem uma luta de verdade com ele… As lutas legais acontecem entre os personagens secundarios. Além de que, aparentemente, ele não usa todo o poder dele… e o que me agradou foi que o mangá não ficou repetitivo (a maior parte do tempo).
    Utawarerumono eu assisti, também notei a roupa de hospital, na verdade foi a primeira coisa que notei quando vi o protagonista, gostei do humor, e acho que tem potencial para ser um bom anime. Quanto a ele não estranhar o mundo em que ele está pode ser porque ele não lembra como era o mundo em que ele estava, logo ele não tem uma realidade ao qual chamar de “certa”, sento assim tudo é estranho, logo nada está “errado” do ponto de vista dele, mesmo que algumas ações dele levem-nos a crer que ele sabe, pelo menos o básico do como viver, como quando ele disse que nunca viu roupas como a que ele ganhou da kuon, o que nos leva a pensar que ele lembra pelo menos do modo de vida de onde ele veio, mesmo que mais intuitivamente.
    Não lhe respondi no outro post porque resolvi comentar nesse aqui. Bem, obrigado pela dica, gostei de Utawarerumono, que é esse aí em cima, e vou dar uma chance aos dramas, vai que eu gosto não é? Bem, até!

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Então One Punch Man na verdade escolhe um caminho alternativo entre os dois que propus, hehe. Mas estou preocupado com ele, isso não é apenas humor, se não tiver nenhuma evolução do Saitama temo que possa ser ruim no fim das contas. Vazio, pelo menos.

      Em Utawarerumono, é lógico que autores de ficção sempre tomam diversas liberdades quando retratam casos médicos, e falei que pode ser apenas isso no artigo. Mas se for uma amnésia de verdade, perda de memória por qualquer razão, não é bem assim que funciona. Se ele tivesse esquecido coisas práticas, teria se tornado um vegetal ou pelo menos estaria sofrendo de algum nível de demência. Como não é o caso é de se assumir que ele perdeu memórias apenas sobre a própria identidade. Ainda acredito que ou ele se desconectou muito da realidade antes de ir parar no hospital ou isso é só ferramenta de enredo do autor (o que é extremamente comum; você assistiu Shigatsu wa Kimi no Uso? Sabe dizer qual era a doença da Kaoru? Simplesmente não existe uma doença que corresponda aos sintomas e outros detalhes apresentados; ficção!).

      E muito obrigado pela audiência, espero que esteja se divertindo com o conteúdo do blog e que ele esteja sendo útil. Por favor, continue nos apoiando!

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