Concrete Revolutio – ep 9 – A família imortal
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O nono episódio foi menos intenso e na aparência nada muito sério aconteceu. Mas a família imortal que o protagoniza serve como interessante metáfora para a própria narrativa de Concrete Revolutio e o significado de sua história que já dura décadas, além de mostrar um momento até agora singular: o Jirou já estava fora do Escritório de Super-Humanos mas ainda não pareceu haver nenhuma animosidade entre eles. Essa é a data mais antiga que mostra o Jirou fora do Escritório. Ele ainda não usava o cachecol que emula seu herói de infância também.
Leia esse artigo, e leia também a linha do tempo que foi atualizada alguns dias atrás com o que aconteceu nesse episódio!
Uma família imortal. O que significa ser imortal, da forma como eles são? Não possuem nenhum poder especial. Não são mais resistentes ou imunes a qualquer tipo de dano. São imunes ao envelhecimento (ou talvez envelheçam realmente devagar). E regeneram qualquer dano rapidamente, mesmo danos capazes de reduzi-los à uma sopa de substâncias inorgânicas. Sentem dor, eu aposto nisso, mas todos eles já estão por aí há, no mínimo, séculos (os mais velhos estão por aqui desde a formação do planeta Terra, como o resmungo do garoto em aula deu a entender), então devem ter aprendido a ignorá-la. Ao mesmo tempo são pessoas normais, que só querem viver sua vida com as pessoas que amam, mas também são seres que estão em um nível completamente diferente. Nem mesmo youkais e fantasmas são capazes de compreendê-los.
Se você tivesse vivido tanto quanto eles e soubesse que viveria muito mais (talvez para sempre), que perspectiva você teria em relação ao tempo? É impossível que eles vejam tudo isso como algo que passa, com mudanças, transições e transformações. Pense no seu dia a dia, que é o máximo que sua “imortalidade” alcança. Você tem a menor noção de passar do tempo? É tudo apenas rotina. Você estuda ou trabalha durante os dias de semana, ou estuda e trabalha, e tem folga nos finais de semana quando aproveita o tempo extra para fazer coisas que não pode normalmente. Mas entra semana e sai semana e tudo parece a mesma coisa, não é? Bom, para a maioria das pessoas é assim pelo menos, e não é um conceito difícil de compreender, se não for o seu caso procure apenas imaginar. Para a família imortal, séculos, eras inteiras, são como dias da semana. A queda de um império e o nascimento de outro é só a passagem da segunda-feira para a terça-feira para eles. Tudo igual.
E agora chega o ponto interessante: Concrete Revolutio está nos apresentando décadas de história como se fosse uma semana de rotina em um departamento governamental cheio de super-humanos especialmente atarefado. Mas apenas uma semana, apenas rotina. O caso da banda Cavalo da Montanha em novembro de 1967 e o da névoa negra em agosto de 1966 parecem ter tido apenas uma diferença de dias entre eles. Talvez semanas. Quando na verdade foi um ano e três meses. O próprio episódio 6, dedicado inteiro à Cavalo da Montanha, conta uma história que começou em junho de 1966 e acabou em outubro de 1969. Mas pareceu que foi o quê, um mês? Um mês foi só o tempo entre a infiltração do Fuurouta na banda e o trágico desfecho na fábrica de chocolate.
Esse efeito de achatamento temporal é o verdadeiro efeito desejado (quero crer) pelos produtores do anime. Não é só para “confundir nossa cabeça” que Concrete Revolutio tem essa narrativa não linear imprevisível cheia de casos aparentemente desconexos. Isso acontece também, mas com um pouco de esforço dá pra desfazer a confusão, não é? E aí só o que resta é uma longa história contada com meia dúzia de quadros retratando os momentos mais importantes. É como a metáfora que o Yoshimura usou para explicar como o poder do Grosse Augen funciona no episódio 4: um filme tem apenas alguns quadros, mas a história entre cada um deles é infinita. Quando olhamos os quadros isoladamente é difícil tirar daquilo algum significado, mas ao assistir o filme descobrimos qual é a história. Alguns padrões, porém, talvez só sejam perceptíveis caso vejamos todos os quadros lado a lado de uma vez só: é isso o que o achatamento temporal nos permite fazer.
Sobre o Jirou, mesmo sem saber o que o levou a sair do Escritório de Super-Humanos, ver todos os outros quadros montados lado a lado permite concluir com pouco espaço para dúvida que não foi algo tão grave. Ou melhor, não foi tão grave o rompimento em si, a motivação pode até ter sido grave, mas eu creio que não. Pelo que ele disse nesse episódio, parece ter apenas se revoltado contra os objetivos do governo com relação aos super-heróis, e convenhamos que não é preciso nenhum desastre para ele descobrir isso. Nem é como se já não tivessem ocorrido tragédias suficientes para ele ter motivos para abandonar o emprego.
O que o Raito diz sobre “vários jovens morrerem” pode ser algo que já aconteceu e pode ter sido esse o motivador sim, e aí seria sem dúvida algo bastante trágico, mas o Raito aparece querendo se vingar do governo apenas em 1972, esse evento trágico pode estar por vir ainda com relação aos fatos desse nono episódio. Acredito que o que vemos nesse episódio seja um período de transição, com o Jirou fora do Escritório mas ainda não lutando contra ele. O que quer que seja, aposto que aconteceu depois do encontro entre o Jirou e Fuurouta em 1969 (também no episódio 6). Talvez seja algo durante a Exposição Mundial de Osaka, de 1970 e mencionada no episódio 6?