[sc:review nota=4]

E o Yoshimura (Jaguar) teve seu episódio. A Kikko teve o seu (o primeiro, que acabou não sendo muito “dela”, mas serviu), o Fuurouta teve o dele, o Jirou teve um arco de dois episódios para ele (o que é justo dado que ele é o protagonista). O do Jirou serve mais ou menos como arco da Emi também, mas muito dela ainda permanece um mistério. Depois disso achei que não haveria mais nenhum episódio focado em personagens do Escritório de Super-Humanos. Eu estava errado. Eu errei em achar que eles foram episódios de personagens, hehe.

No caso da Kikko eu já disse: o primeiro episódio não foi dela. Eu não sei nada sobre ela direito ainda; parece que ela é a princesa demoníaca de outro plano de existência ou algo assim. Tipo a Mio de Shinmai Maou no Testament, mas com dignidade. E isso é algo que só foi revelado muito depois, na reunião secreta suspeita entre o Ullr e a Emi. O episódio do Fuurouta não contou exatamente a história do Fuurouta, mas serviu para estabelecer os dilemas morais com os quais o anime pretendia lidar. Até alguns episódios atrás eu teria incluído o Raito naquela lista de personagens com episódios só para eles, mas veja só, o episódio dele teve como principal propósito para o roteiro apresentar o Megasshin, que mais tarde se uniria à gangue do Jirou. Os episódios do Jirou… bem, esses podem ter sido do Jirou mesmo. É justo dado que ele é o protagonista.

Isso é um pouco constrangedor

Isso é um pouco constrangedor

Então não, desculpa Yoshimura, mas esse não foi o seu episódio. Foi um episódio protagonizado pelo Yoshimura e onde a história dele foi usada para fazer o enredo andar. Tem o aspecto científico da viagem no tempo, que serve para estabelecer como isso funciona nesse universo (talvez se torne importante!), e tem o aspecto moral que todo episódio até agora teve. Vou começar pelo moral.

Yoshimura é um viajante do tempo vindo do futuro, do século 25, onde super-humanos não existem mais. Ainda assim, ele é um super-humano, não é? Ele próprio se fará essa pergunta e isso é importante. De todo modo, suponho que ele tenha sido modificado para ser um híbrido homem-onça (jaguar é sinônimo para onça, o terceiro maior felino, atrás apenas do tigre e do leão, e o maior felino com bolinhas). Ele é um guardião do tempo que pertence a uma espécie de força policial que persegue pessoas que tentam modificar a história. Enviado para procurar um criminoso no século 20, Japão, na década de 1960, no fim das contas o criminoso era ele mesmo. Digo, isso não ficou muito claro, mas acho que ficou subentendido por duas coisas: primeiro ele não pegou ninguém, segundo o ele do futuro é que estava tentando mudar a história. Não uma, mas duas vezes. E aí eu acho que essa primeira viagem e a consciência de que ele talvez seja um super-humano se torna importante.

Isso é parecido com aquele fundo psicodélico quando o Raito encontrou a Mieko no terceiro episódio

Isso é parecido com aquele fundo psicodélico quando o Raito encontrou a Mieko no terceiro episódio

No futuro não existem mais super-humanos, foram extintos de alguma forma não especificada em algum momento não especificado. Tudo o que Yoshimura sabe sobre eles certamente é algo que ele aprendeu em livros de história do século 25 e na academia de guardiões do tempo. E talvez nos filmes de Hollywood do século 25, vai saber. Mas viajar ao passado quando os super-humanos existiam e em um momento particularmente complicado para eles deve tê-lo feito descobrir que eles são antes de tudo pessoas normais. O próprio Yoshimura passa a se identificar com eles: ele pode se transformar em um onçasomem, então ele não é tão diferente assim, certo? Na verdade ele não é nada diferente. Quem é diferente? O que define o que é ser diferente?

Yoshimura intermediário, líder da Infernal Queen

Yoshimura intermediário, líder da Infernal Queen

O Raito passou por história semelhante. Robô com as memórias e a personalidade de um ser humano, ele não queria aceitar que não fosse um humano normal. Ele odiava super-humanos, e se odiava por ter se transformado em um, seu único consolo era caçar super-humanos criminosos. Até ele encontrar Mieko. Ela também era um robô, mas ela era capaz de amar. Construída para ser uma arma, ela não queria matar ninguém. Raito, um androide com consciência humana, aprendeu com um androide de guerra o que é ser humano. Com o Yoshimura foi menos drástico porque não estavam envolvidas emoções tão fortes, mas como um viajante do tempo essa semente de dúvida nele gerou efeitos muito maiores do que a furiosa frustração do Raito.

Ele voltou no tempo de novo, dessa vez para alterá-lo. Queria destruir todo o mal, literalmente. Agora ele era juiz, promotor e executor, e seus réus eram sem erro todos sumariamente condenados à morte. Assim nasceu a Infernal Queen. Em algum momento ele percebeu que combater intolerância com mais intolerância não daria em nada. E bom, seus métodos chamativos terem atraído a atenção dos próprios guardiões do tempo que ele abandonara não ajudou (ele próprio veio do futuro para enfrentar a si mesmo… viagem no tempo é sempre meio confuso assim). Então ele voltou no tempo mais uma vez e ajudou a fundar o Escritório de Super-Humanos. Vigiar e proteger, como um policial é ensinado.

Yoshimura terceiro encontra o Yoshimura original capturado pela Kikko

Yoshimura terceiro encontra o Yoshimura original capturado pela Kikko

Em termos de ficção científica, Concrete Revolutio definiu que em seu universo existe uma única linha de tempo e que viajar no tempo pode modificar a história. A alternativa seria ter várias linhas de tempo paralelas (infinitas talvez), contemplando várias realidades possíveis (ou todas); assim, viajar no tempo e alterar algo não muda a linha do tempo em que você estava, mas te coloca em outra linha do tempo. Há variações disso, mas convém não me alongar mais nisso porque o artigo já está bem grande, hehe. Em universos com linha de tempo única existe o problema dos paradoxos em viagens temporais: se uma alteração no passado altera fatos que levaram à própria viagem no tempo em primeiro lugar, o que acontece? Provavelmente o caso mais conhecido seja De Volta Para o Futuro. Marty McFly viaja no tempo, conhece seus pais antes deles se casarem, e inicialmente suas ações impedem que esse casamento ocorra. O tempo no filme responde a isso começando a apagar o Marty da existência (mas ei, se ele nunca tiver existido, ele jamais viajaria para o passado e portanto não poderia impedir que seus pais se casassem, então ele voltaria a existir … o filme não entra nesses detalhes, mas veja: é exatamente por isso que se chama paradoxo, porque não tem solução).

Um exemplo que eu gosto mais é A Máquina do Tempo, filme de 2002, adaptação cheia de liberdades poéticas do livro de mesmo nome de H.G. Wells. Nele, Alexander é um cientista que busca criar uma máquina do tempo e que tem uma noiva chamada Emma. Sua noiva morre e ele se exaure no esforço de criar sua máquina do tempo afim de que possa voltar e salvá-la. Ele consegue, cria a máquina, volta no tempo e salva Emma, apenas para que ela morra de novo, de outra forma, logo em seguida. Ele retorna algumas vezes no tempo e o resultado é sempre o mesmo: Emma sempre morre. Veja, como ele criou a máquina e voltou no tempo especificamente para salvar Emma, caso ele a salve ele não terá criado a máquina e voltado no tempo, por isso o tempo “se corrige” matando-a de novo.

O Yoshimura matar o Yoshimura é suicídio ou homicídio?

O Yoshimura matar o Yoshimura é suicídio ou homicídio?

Tanto em A Máquina do Tempo quanto em De Volta Para o Futuro o tempo de alguma forma tenta reagir a um paradoxo. O mesmo ocorre em Concrete Revolutio. Diz Yoshimura que quando o paradoxo envolve uma mudança muito grande, nada acontece, mas quando é algo pequeno o tempo pode cobrar seu preço. E é o que ele espera que aconteça quando ele mata a si mesmo de quando líder da Infernal Queen: aquele era seu passado, e ao matar-se ele deveria deixar de existir. Kikko o salva roubando o relógio do Yoshimura original (que ela capturou) e entregando-o ao Hitoyoshi, o pai adotivo do Jirou, contando a ele que aquilo é uma máquina do tempo. O cientista então começaria a partir dali uma pesquisa baseada naquele mecanismo para compreender e desenvolver a tecnologia de viagem no tempo. Agora não era mais só o Yoshimura, mas toda a história da viagem do tempo que dependia de sua existência, e assim ele permanece.

Agora faltam apenas três episódios para o fim e o Yoshimura não soa nem um pouco como um vilão, de fato ou em potencial. Ele quer sinceramente ajudar os super-humanos, o rompimento entre ele e o Jirou deve ser apenas de método, e não tanto de ideal. Depois ao longo dos anos eles devem se afastar mais, conforme as ações do Jirou causam problemas. Mas por que irão romper em primeiro lugar? Eu pretendia especular sobre isso nesse artigo mas já me estendi demais, então até o próximo!

Quem leu esse artigo inteiro merece ver o sorriso da Kikko

Quem leu esse artigo inteiro merece ver o sorriso da Kikko

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