Haruchika – ep 5 – O urso se matou porque perdeu pro DiCaprio
Esse episódio só não foi de todo ruim porque eu meio que gostei da história da tia da Serizawa. Ainda assim, é a história do passado da tia de uma personagem coadjuvante que nem da banda é. Conseguiu acompanhar? Pois é. Se eu penso na história do anime em si, de seus protagonistas, da banda, tudo o que me vem à cabeça é a solidão do vácuo. Imagino que seria difícil um episódio mais desimportante, mesmo se eles quisessem!
Ah, e se for para fortalecer os laços entre a Serizawa e a banda? Tem que ter um jeito melhor de fazer isso né? E eu achei que o episódio dela já havia sido muito bom nisso, aliás. Se não foi, teve o episódio anterior, onde inventaram uma geóloga para escavar e levar para a banda o amigo de infância da … Serizawa!
Depois do filme com o DiCaprio cujo nome nem sei qual é porque não assisti nem filme nem premiação nenhuma mas que deu ao eterno Jack o Congelado seu primeiro Oscar, o urso atuou em mais alguns papeis pequenos até acabar fazendo o Benjant em Haruchika. Não se engane: ele matou todo mundo de verdade.
E pensando nessa piada ridícula acredito que foi bom o episódio ter sido tão ruim que nem consegui mover meus dedos para escrever o artigo ontem, seu dia de direito. Quero dizer, antes do Oscar teria sido impossível fazer essa piada, não é? Por outro lado, talvez tenha sido muito ruim ter tido tempo para poder fazer essa piada cretina.
O episódio: a tia da Serizawa voltou ao Japão e como tia que ficou pra tia que ela é, é solteira. Pensou rápido então e contratou uma agência de detetives para encontrar seu primeiro amor. A velha é stalker! Supostamente não encontraram nada mas um aluno esquisito da escola dos protagonistas (mais um) é herdeiro do escritório de detetives e tem, na escola, um clube de degustação do primeiro amor, ou algo ridículo assim. Quero dizer, por ridículo que soe (e que seja!), ele se baseia em um dado científico real e legal sobre o qual escreverei daqui a pouco. Ele recria o onigiri que o primeiro amor da tia experimentou naquela época e ela sai correndo em lágrimas. Mais tarde a Serizawa descobre que encontraram o Benjant (o tal primeiro amor) e ela está indo visitá-lo, então ela arrasta o esquisito do primeiro amor, e lógico, Haruta e Chika juntos com ela para outra cidade para impedir esse encontro, porque ela considerava o cara um escroto só porque ele havia se separado dela tentando estrangulá-la e depois a havia expulsado do grupo que frequentava. Eis que ele havia morrido naquela época mesmo, após envenenar todo mundo e se matar, e afastou a tia da Serizawa para que ela vivesse. Ponto final nessa linda história de amor entre mulher e urso.
Agora, a coisa da degustação: enquanto memórias relativas à visão e audição tendem a ser as mais recentes (se você escuta algo novo que produza o mesmo som de algo velho, a tendência é você se lembrar do que ouviu por último), com o olfato funciona ao contrário. A memória olfativa é a mais antiga. Por isso que é tão difícil para você gostar de couve-flor: sua primeira experiência traumática com aquela planta esquisita não sai da sua cabeça, e o olfato compõe a maior parte do paladar. Assim, cheiros são de fato bastante úteis para lembrar de memórias antigas. Quase parece estúpido o quanto puxamos pelas memórias auditivas ou visuais para lembrar coisas antigas. Só não é tão estúpido assim porque nosso olfato é horrível, fraco, e só conseguimos identificar (e mal) uma quantidade pequena de cheiros.
A outra coisa que merece um pouco de especulação nesse episódio é a identidade real do Benjant. Aquelas aparências (que são metáforas visuais do anime, lógico), aqueles apelidos (em esperanto ainda por cima), aquele clima, o pouco de discernível no discurso do leão, a idade da tia da Serizawa (já cheia de rugas), para mim tudo aponta que o Benjant era membro de um grupo anti-governo durante as Jornadas de 1968 no Japão. E por que ele matou todo mundo? Sei lá. Se fosse um guerrilheiro no Brasil (ou em outras partes do mundo onde tenho certeza que isso ocorria), eu chutaria que algum amigo dele membro do grupo foi injustamente morto por suspeita de ser um espião. Era assim que funcionava, fazer o quê. No Japão não sei se faziam isso, então nem hipótese isso é. Supostamente não importa, o relevante nessa história sobre uma banda marcial escolar que busca se aperfeiçoar e vencer um concurso é a história de amor da então jovem tia de uma não-membro da banda, décadas atrás, com um homem desconhecido. Haruchika é incrível, não é?