Gundam: Iron-Blooded Orphans 2 – ep 1 a 5 – Nunca foi pelas crianças
A primeira temporada de Gundam Orphans foi um pouco ambígua com respeito a sua mensagem, embora eu ache que já estivesse lá. Sim, a Tekkadan é composta por crianças e adolescentes. Sim, eles se identificam com outras crianças e adolescentes. Mas não, eles nunca fizeram tudo o que fizeram tendo em mente um senso de classe ou categoria, mesmo que fosse sua segunda ou terceira motivação. Nesse aspecto eles são diferentes da Kudelia, que agiu por um ideal: a liberdade. Houve alguns arcos que tentaram mostrar isso: que a Tekkadan é só um grupo de pessoas, circunstancialmente crianças, lutando pela própria sobrevivência. Com destaque, nesse sentido, para aquele em que enfrentaram a tripulação pirata onde trabalhava o irmão do Akihiro.
Porém, talvez pela presença da Kudelia, uma personificação de um ideal, talvez pela ênfase dada quase sempre no fato deles serem crianças enfrentando adultos, a impressão final de que eles também lutavam por um ideal era um resultado possível. Tendo isso em mente, o primeiro arco e o primeiro episódio do segundo dessa segunda temporada demolem qualquer resquício dessa impressão em alguém que tenha terminado a primeira temporada com ela.
Orga, Mikazuki, o finado Biscuit e companhia nunca tiveram grandes ideais. Queriam apenas sobreviver, queriam apenas ser protagonistas de suas próprias vidas. Os que sobreviveram certamente estão melhores agora do que jamais estariam se tivessem recuado, mas a dura verdade é que eles nunca foram protagonistas de nada. Foram sempre usados por poderes maiores para objetivos que nada tinham a ver com eles. CGS, Gjallarhorn, Teiwaz e Arbrau sempre os usaram (ou os combateram) por seus próprios objetivos. Acrescente aí Nobliss Gordon, a mão por trás da Kudelia. As duas únicas exceções a isso foram a própria Kudelia e o Naze Turbine.
A Kudelia é compreensível, já que o papel dela na história é justamente o de representar a luta pelo ideal. Mas Naze Turbine é apenas um sujeito muito legal que foi com a cara do Orga e da Tekkadan em geral e por acaso fez tudo o que pôde, sem nada pedir em troca, para ajudá-los. Até agora algumas de suas mais hábeis pilotas estão emprestadas para a Tekkadan. Não duvido que isso possa estar sendo de alguma forma lucrativo para os Turbines, mas em todas as ocasiões em que ele aparece sempre fica clara sua intenção caridosa. Achar isso um oásis em um mundo que é um verdadeiro deserto ou uma falha de enredo que chama a mesma atenção que uma ferida pulsante no rosto (afinal, o Naze ser assim é fundamental para o sucesso da Tekkadan) vai do gosto de cada um, e eu pessoalmente não me decidi ainda a respeito.
Seguir em frente ou recuar sempre foram as duas únicas escolhas viáveis para a Tekkadan, ao ponto de terem sido a origem de diversos conflitos, primeiro com o Todo, um dos adultos que permaneceu com a Tekkadan e depois a traiu (e que hoje trabalha para McGillis – muito adequado, traidores se atraem, suponho), depois entre Orga e Biscuit. Mas recuar era mesmo uma opção? Sim e não. A partir de certa altura eles jamais seriam perdoados, e pelo menos o Mikazuki (e talvez o Orga) provavelmente seria entregue aos leões, mas de todo modo, recuar em qualquer caso significaria retornar à vida miserável que eles rejeitaram e tanto lutaram para deixar para trás.
E não apenas a Tekkadan, mas mesmo a Kudelia sempre foi manipulada. Se o Nobliss Gordon financiou a Kudelia por motivos obviamente comerciais, Allium Gyojan e sua Terra Liberionis parecem ter sido importantes na formação ideológica da heroína e, no entanto, estavam insatisfeitos com seu prêmio – ou a falta dele. Como uma mártir vale tanto ou mais que uma heroína, decidiram que matá-la poderia ser uma boa forma de assumir uma posição mais relevante no processo de independência marciana. Eles só não contavam que a Gjallarhorn também tivesse seus problemas e divisões internas em disputa.
Fareed McGillis teve sucesso em assegurar o poder central na Gjallarhorn, porém tal poder encontra-se enfraquecido justamente por conta de suas ações de sabotagem. Cresce Rastall Elion, comandante da esfera externa. Em um primeiro embate, McGillis sagra-se vencedor, graças à Tekkadan, e a base marciana da organização permanece sob seu controle. Mas enquanto Mikazuki e companhia suavam para derrotar piratas espaciais que eram poderosos o suficiente para serem reconhecidos como incômodo pela própria Teiwaz, Elion incendeia seu próprio quintal empurrando os blocos econômicos terrestres para a beira da guerra. De novo a Tekkadan, através de sua unidade terrestre, está diretamente envolvida – ou melhor, foi diretamente usada.
E há algo de especialmente preocupante nesse episódio porque o sujeito que vendeu o sangue dos garotos foi colocado na Tekkadan pela própria Teiwaz. Fica a suspeita: ele está agindo por conta própria, apenas pelo dinheiro, ou está obedecendo a ordens superiores? Vale lembrar que a Tekkadan não é unanimidade dentro da Teiwaz. De um jeito ou de outro, a base terrestre da Tekkadan parece estar cheia de futuros mártires. Para que causa? Nenhuma em particular. Apenas para que os sobreviventes da Tekkadan possam levar uma vida melhor. Vale a pena viver sob uma pilha de cadáveres, mesmo sendo de pessoas que aceitaram esse risco? Hoje a Tekkadan não se diferencia de uma máfia, seja nos métodos, seja no discurso.
Revisado por Tuts
Kondou-san
Este anime está cada vez mais a beirar um final trágico, todos os acontecimentos dos primereiros 5 episódios de IBO apontam que a jornada da Tekkadan vai acabar da pior maneira possível. Longe vai o tempo em que a Tekkadan lutava para sobreviver mais um dia, agora são usados como pau para toda a obra nos esquemas de outras organizações. Como tu bem referiste na parte final do artigo, a Tekkadan é tipo uma máfia, desde os seus métodos brutais como no seu discurso. Já começo a achar que o Mikazuki perdeu a sua humanidade, quando era pequeno, é impossível alguém matar assim pessoas a sangue frio e ficar sem remorsos, ou então questionar-se por aquilo que fez e faz. Não sei que pacto é que ele fez com o Orga, mas quem faz todo o trabalho sujo é o Mikazuki, mais um pouco ele parece um serial killer. Desde a queda/morte do Biscuit as acções da Tekkadan estão cada vez piores, estão cada vez mais a envolver-se em coisas que eventualmente vão ter dificuldades em sair vitoriosos e se saírem, será com grandes perdas. Será que o Biscuit sabia ou pressentiu alguma coisa, quando fartou de insistir com Orga que eles não deviam ir por aquele caminho mais difícil. A Tekkadan só tem realmente como amigos a Kudelia e o Naze Turbines (aquele velho polígamo), a Kudelia cuida da parte diplomática e o Naze ajuda na logística e suporte militar, se o Naze estivesse no lado dos malfeitores, não trataria tão bem o Orga, nem cedia as pilotos dele para auxiliar a Tekkadan (será que ele daria autorização às suas pilotos para ficarem com alguém da Tekkadan, gostava que o Akihiro fica-se com a piloto loira acho que existe uma química entre eles).
De resto concordo com tudo o escreveste no artigo (como arranjas vontade de fazer um artigo de 5 episódios, ainda por cima tão bem estruturado, aposto que nas provas de português devias ser um dos melhores). Agora só quero ver como vai ficar a situação da base da Tekkadan na Terra, tenho a sensação que muitos vão morrer, talvez esteja enganado, mas quem sabe.
Como sempre um excelente artigo Fábio.
Fábio "Mexicano" Godoy
Não sei se Gundam costuma ter finais trágicos, mas sei que a Mari Okada costuma sinalizar com finais trágicos e resolver tudo de última hora. Foi assim com M3, foi assim com Mayoiga. Mas quanto aos Tekkadenses terrestres, bom, esses estão em situação atroz. Repare como na abertura do anime eles aparecem apenas na Terra (vá lá), nunca junto aos seus demais companheiros (isso é suspeito!). E tem uma cena de combate onde eu não diria que eles estão exatamente em vantagem. Analisando a história, me diga: o que aconteceria se eles acabassem abandonados por Arbrau (Makanai está fora de ação) e a Gjallarhorn não pudesse fazer nada por eles (estão em posição arbitral e tentando recuperar o prestígio)? Se for para causar uma tragédia contida, bom, tem o loirinho que agora está no comando temporário (e sendo manipulado pelo traidor), seu amigo e sua irmã. Pense nas possibilidades aí. E tirando eles três o único outro personagem relevante lá é o Chad, então, pois é, um massacre não é impossível.
O Mikazuki é um caso complicado. Ele sem dúvida age friamente, como se não tivesse sentimentos, e parece não ter mesmo, mas eu não diria que ele está satisfeito com a vida de violência que leva. Está até tentando introduzir novos cultivos em Marte! Ele ainda não perdeu toda sua humanidade – mas pode acabar como um robô, notou que o braço direito dele só funciona quando ligado ao Barbatos? Não me parece muito diferente do que aconteceu com o Gaelio, hoje aprisionado dentro de um ciborgue.
Obrigado pela visita e pelo comentário =)
Kondou-san
Dos três Gundam que vi só um é que teve um final trágico, que foi o Thuderbolt (que não adaptou o mangá todo). Eu só acho que a situação da Tekkadan na terra está no limiar de uma tragédia, mesmo o loiro estando no comando das forças terrestres da Tekkadan, ele está a ser manipulado por um traidor, que pouco se importa que eles morram ou não. Além disso o Chad está numa situação grave por causa da bomba, eu só acho que o loiro devia prestar mais atenção ao amigo dele. O caso do Mikazuki é grave, ele tem já está com paralisia num braço e cego de um olho (pelo spoiler da opening ele vai perder o braço e ter que usar uma prótese robótica). o facto de a máquina lhe devolver os movimentos do braço e a visão no olho não é muito bom, já que a máquina parece absorver a vitalidade do piloto. Se o Mikazuki continuar assim vai ficar, como tu bem disseste, igual ao Gaelio que está preso dentro de um ciborgue. Eu acredito que o Mikazuki, ainda não esteja completamente morto por dentro, mas se ele continuar neste caminho de violência se limites vai acabar como uma casca vazia.
Fábio "Mexicano" Godoy
É verdade, tem a prótese da abertura também. Que é para o braço esquerdo, não para o direito, o qual ele já perdeu os movimentos.
E aí repito a pergunta que fiz no artigo: vale a pena que alguns consigam, talvez, viver bem, à custa de tantos sacrificados, mesmo que eles estejam de acordo com isso? A Kudelia quer acabar com o ciclo de violência. O Mikazuki se prepara para quando esse dia finalmente chegar. Mas quem detém o poder mesmo não está nem aí: violência é só mais uma ferramenta como qualquer outra. A Tekkadan é tão descartável e digna de pena quanto às crianças sequestradas e forçadas a guerrear pelos piratas que eles mataram.
Kondou-san
Concordo com a tua pergunta e a tua forma de raciocínio, mas por enquanto não custa pensar num final mais ou menos bom, bom já não digo porque os indícios que o anime vem dando não mostram isso, mas ainda assim gostava que os membros da Tekkadan tivessem um futuro melhor, sem guerras como a Kudelia quer, se bem que esse mundo de paz vai ser à custa da vida de muitas pessoas.
Fábio "Mexicano" Godoy
Pelo histórico da roteirista, como eu disse, acredito que o final em si será feliz. Mas feliz apenas para os que sobreviverem, né? E o memorial fúnebre só com os nomes dos mortos da primeira temporada já é grande…