Fune wo Amu – ep 9 a 11 final – Quatro Estações
Quando terminei de assistir ainda pensava em escrever um artigo para cada episódio – assisti os três de uma vez só, uma das “vantagens” de se estar atrasado, afinal. São episódios distintos, fechados, cada um com sua história, que obviamente se somam à grande história de Fune wo Amu. Mas logo percebi que eu poderia sim falar muito de cada episódio, mas estaria aqui falando picuinhas, detalhes de roteiro ou técnicos, ou divergindo do tema e falando de coisas aleatórias. E eles não são apenas uma sequência cronológica: há um tema que os permeia. Aliás, que permeia todo o anime.
A Grande Viagem (ou Passagem) pelo Mar das Palavras (o “Fune wo Amu” que dá o título ao anime)? Sim. E não. É uma viagem sim, com começo, meio e fim, mas ela não é exatamente linear. O anime transmite a sensação de passagem do tempo através da passagem das estações (a vegetação, a neve, como as pessoas se vestem) e isso não é à toa. Ao longo da Grande Viagem – qualquer grande viagem, seja a história da vida de uma pessoa, ou uma fase da vida, ou a história de um projeto, seja ele grande ou pequeno – sempre há fases distinguíveis. Como as quatro estações do ano. Mas se a Grande Viagem não é linear, tampouco é cíclica: ambos movimentos se combinam e uma primavera jamais será igual a outra. De uma primavera à outra o mundo é outro, você é outro, tudo muda. A história caminha inexoravelmente para frente, mas não em uma linha reta. Assim é Fune wo Amu.
E esses três episódios finais (na verdade, os quatro finais) retrataram muito bem as quatro estações de uma história, de um projeto, de uma ou várias vidas. A primeira estação, na qual tudo começa, é a primavera. Tudo ainda é novo, e cada pessoa reage de forma diferente ao novo. A Kishibe reagiu com medo no oitavo episódio. Entrou em pânico, quis fugir, não entendeu nada. O Nishioka, em sua primavera no projeto do dicionário, só tinha negligência e desprezo à oferecer – e uma pequena dose de incompreensão em relação ao Majime. Ele não conseguia se interessar, entender o propósito, então preferia agir como se nem fizesse parte daquilo. Era um pouco de medo também – ele foi quem mais repetiu que duvidava que o dicionário ficaria pronto, afinal. Já Majime, o protagonista, apenas sentiu-se confortável e fez o que lhe foi pedido – mas isso só no começo! Logo retomo.
O verão é a estação do calor, da euforia. Quando Nishioka compreendeu o Majime e passou a ter esperança no projeto, e mais ainda, quando ele pôde assumir a linha de frente e fazer a sua grande contribuição, entrou em seu verão no Daitokai. Como euforias costumam ser, a dele foi contagiante, elevou a moral de toda a equipe – e em seguida cobriu a todos de dúvidas quando foi transferido de departamento, principalmente o Majime, que ainda estava em sua primavera e passou a sentir incerteza e medo. Nesses episódios finais assistimos o verão da Kishibe, que ficou eufórica quando entendeu o projeto e encontrou o seu lugar nele – e gostou disso. Como a compensar um certo inverno, assistimos também ao verão da vida pessoal do Nishioka no episódio final, completamente abobalhado com suas duas filhas pequenas e animadas.
Depois do verão vem o trabalho duro do outono. O dicionário chegou a essa estação nos episódios finais. E o Majime também – o seu verão no projeto e em sua vida pessoal foram lamentavelmente omitidos pelo salto temporal, mas sabe-se que ele casou e pode-se inferir que aprendeu a lidar com pessoas – de um jeito diferente do Nishioka, conforme visto na reunião em que ele defendeu o dicionário em sua fase final perante diretores da editora. Em seu outono ele se tornou como o mestre Matsumoto, uma pessoa que vive por um único objetivo na vida. Bem diferente do Nishioka, que foi capaz de equilibrar trabalho (e cumprindo jornada dupla, já que continuou apoiando o departamento de dicionários como pôde) e vida pessoal, constituindo família e subindo nos ranques da editora. Personalidades diferentes, escolhas de vida diferentes, nenhum dos dois está mais certo do que o outro.
E finalmente o inverno. Quando tudo tem que acabar. A vovó Take já havia morrido e nesses episódios finais apareceu seu altar no casarão onde Majime e Kaguya continuam morando, confirmando o que já era óbvio. O ato final de sua vida foi dar o empurrão necessário para que a neta e seu inquilino, que era praticamente família, se unissem em matrimônio. Me pergunto se ela pelo menos testemunhou o casamento deles. É tão triste imaginar que talvez não tenha podido fazê-lo. Como foi triste que o Matsumoto não tenha podido segurar o Daitokai em suas mãos pelo menos uma vez. Os sinais de que ele estava nas últimas vinham de longe, era óbvio que ele não chegaria ao fim, mas soou tão triste, tão trágico. E mesmo assim, reconhecendo que é apenas natural, que ele próprio é apenas uma folha na grande árvore da vida, Matsumoto se foi sem arrependimentos e deixou uma carta para que seus colegas de trabalho, seus amigos de jornada – ainda que em estágios diferentes em suas respectivas viagens -, pudessem encontrar algum consolo. Ele morreu, mas ele vive no dicionário que ajudou a produzir. E o próprio dicionário está vivo e apenas começando sua própria Grande Viagem.
Kondou-san
Parabéns Fábio, excelente artigo, a foram como expuseste os acontecimentos dos 3 episódios foi muito bom, tão bom, que não tenho nada a comentar, tu já escreveste tudo no artigo e ainda por cima de forma épica (onde arranjas tanta inspiração, para os teus artigos Fábio?).
Adorei acompanhar a Grande Viagem que foi este anime, nunca pensei ficar tão agarrado a um anime deste género, Fune Wo Amu foi tão bom, que até vi o live-action, se tivesse que comparar, gostei muito mais da versão anime, mas ainda assim o live-action também foi muito bom.
O melhor deste anime, foi os seus personagens, quase não tenho palavras para descrever a experiência que foi acompanhar este anime, gostei bastante do desenvolvimento do Majime tantos em termos de trabalho, como na vida pessoal. O Nishioka também teve um bom desenvolvimento, gostei do facto de ele se ter provado um excelente trabalho, ele e o Majime faziam uma excelente dupla. Aquela cena do episódio 12, onde o Nishioka fica a saber da morte do Matsumoto sensei, foi muito triste, de todos do departamento de dicionários, o Nishioka admirava e respeitava mais o professor Matsumoto, tanto que ao longo do anime o Nishioka Fazia tudo para agradar o Matsumoto sensei. O Nishioka, conseguiu adaptar bem a sua vida profissional e pessoal, ele sempre ficou com a Miyoshi, ele e a Miyoshi tiveram duas princesas lindas, a cara de pai babado do Nishioka diz tudo.
Quanto ao Majime, ele cumpriu o seu objectivo de concluir e publicar a Grande Passagem, mas ele culpou-se de não a ter acabado quando o Matsumoto sensei, aquela cena em que o Majime está na varanda a martirizar-se por não ter concluído a Grande Passagem a tempo de o Matsumoto sensei a pudesse ver publicada foi muito triste, acho que pela primeira vez o Majime mostrou os seus sentimentos, ele bem tentou se fazer de forte à frente da sua esposa Kaguya, mas o sentimento de culpa falou mais alto. Só tenho pena que o Majime e a Kaguya não tiveram filhos, na altura em que o anime acabou eles já eram bem velhos para serem pais.
A morte do Matsumoto sensei foi muito triste, ele já sabia que não ia durar muito tempo, aquele último momento dele, com o Majime, o Araki e a sua esposa a ver o céu foi muito linda e cheia de feels. Aquilo que mais reparei, no episódio 12 é que o Majime já tinha percebido que se passava alguma coisa com o Matsumoto sensei muito antes de este dizer a ele e ao Araki que tinha cancro no esófago.
A Kishibe também foi um personagem muito bom, ela mesmo tendo entrado muito tarde na jornada que foi a Grande Passagem, ela fez um excelente trabalho. Gostei que ela ficasse com o rapaz do papel, eu acho que eles tinham uma boa química.
Mais um anime excelente que acabou, vou sentir saudades dos artigos deste anime.
Fábio "Mexicano" Godoy
Inspiração? Deixe-me ver, no caso desse artigo foi mais ou menos como descrevi, estava pensando se escreveria um para cada episódio ou um para os três, e caso escolhesse um artigo só, qual seria o fio condutor. Pensei no tema óbvio do anime que é o nome do próprio dicionário, tantas vezes representado metaforicamente com oceanos e barcos. Em algum momento pensei nas estações do ano, porque afinal elas são bastante proeminentes no anime mesmo, e aí tive o estalo de ligar tudo. Passar um dia inteiro pensando em algo precisa render algum fruto, não é? Quero dizer, não é nada fora do normal, eu só me dedico mais a isso do que a maioria das pessoas, o que faz sentido dado que escrevo em um blog, hehe.
Mas há desvantagens também. Para não poluir a linha de raciocínio escolhida ou estender demais o artigo, acabei suprimindo vários pequenos comentários. Pensava em comparar meu processo de revisão de texto ao do Majime no episódio 9 (se encontro um erro refaço toda a revisão também), sobre como isso é diferente no meu trabalho como programador, onde só é necessário testar um número limitado e conhecido de casos distintos, nunca analisar o código linha a linha. Poderia ter falado com mais vagar sobre a Kishibe (ela não ganhou sequer uma imagem nesse artigo, coitada) e o relacionamento nascente dela com o técnico em papel (ou será só um vendedor?). Sobre como o gato já deve estar bastante velho! Ou, quem sabe, é outro gato parecido a quem deram o mesmo nome. Sobre como eu percebi também, conforme você bem apontou, que o Majime já tinha percebido algo estranho no mestre Matsumoto faz tempo, o que o olhar pesaroso da esposa dele apenas confirmou – e ele percebeu isso também!
Quanto aos seus demais comentários, tenho pouco ou nada a acrescentar, concordo com quase tudo. Exceto quanto ao Majime e a Kaguya serem velhos demais para ter filhos: não acredito que seja o caso. Ainda que já estejam na casa dos 40, e mais do que isso não acredito que tenham, ainda podem ter filhos. Mas acho que nunca consideraram essa hipótese a sério e provavelmente continuarão assim. Os dois são bastante ocupados e apaixonados por seus trabalhos, afinal.
E sim, as filhas do Nishioka são lindas, melhor coisa do final do anime ^^
Obrigado pela visita, pelo comentário e por acompanhar Fune wo Amu comigo aqui no Anime21! =)
Kondou-san
O gato do Majime, não é o mesmo, o Tora do inicio do anime era mais gordo e corpulento, já aquele que aparece no episódios finais do anime, é um gato mais novo e magro. Também adorei aquela pequena homenagem que o episódio 11 salvo erro, onde no final do episódio 11 colocaram uma foto da vovó Take, com a sua neta e o Majime.
Eu gostava de ver a Kaguya e o Majime com um filho, acho que ficava com um final mais satisfatório. Mas como o Majime e a Kaguya são apaixonados pelos seus trabalhos, compreendo a decisão deles de não terem filhos.
Fábio "Mexicano" Godoy
Eu reparei nessa diferença física do gato, mas 13 anos se passaram, ele ter emagrecido não é impossível. Como não falam abertamente sobre isso, precisaríamos de alguma comparação mais sólida, como a padronagem do pelo por exemplo. Mas haja trabalho … prefiro acreditar que o gato já está com algo entre 15 e 20 anos (apesar de parecer se comportar como um jovem adulto).
No pós-crédito do episódio 11 mostraram a cena de quando foi tirada uma das fotos que apareceu na mesa logo após o time skip, gostei bastante de vê-la!
Kondou-san
Este anime vai fazer falta, este anime é daqueles que podia ter mais de 24 episódios, que eu veria até ao fina.
Não acho que o gato que aparece nos episódios finais, seja o Tora do inicio do anime, eu tive um gato que viveu 25 anos, ele na fase da velhice já tinha o pêlo bem grisalho e já se mexia pouco. Aquele gato que apareceu nos episódios finais era bem mais novo e mais pequeno que o Tora do inicio do anime (e diga-se de passagem que não passava fome, ele tinha um bom cabedal).
Fábio "Mexicano" Godoy
25 anos! Imagino se as minhas gatas viverão tanto. A mais velha tem só dois anos ainda!
Kondou-san
Quando me deram o gato ele já tinha 13 anos, a dona dele já era bem velhinha, o meu pai trabalhava para ela, então quando ela ficou doente ela pediu a ele para cuidar do gato que era a sua companhia, O Gato esteve 12 anos cá em casa, quando ele morreu ficou um sentido de vazio, ele já era parte da família. Eu agora tenho dois gatos e uma gata, um dos meus gatos é bastante parecido com o Tora do inicio do anime.
Bell Dheyol
Felizmente, Kishibe pareceu ter encontrado a sua motivação para trabalhar no Departamento durante o episódio nove. O erro retratado era compreensível, ao lidar com várias palavras naturalmente irá haver erros, mas tenho certeza que o pessoal do departamento não esperava que isto acontecesse, ainda mais em tamanha escala.
Foi especialmente aterrorizante e demonstra a realidade neste em outros trabalhos que lidam com mínimos detalhes. Foram capazes de corrigir o erro no décimo episódio, ainda bem. E assim como explicado por nosso protagonista: o dicionário não será perfeito, mas o trabalho deles é justamente fazê-lo se aproximar cada vez mais da perfeição.
O Matsumoto-sensei já havia aceitado sua morte e escreveu sua carta de despedida com antecedência, afinal, acredito que ele estava feliz por ter sido capaz de viver uma vida honrada. O anime mostrou uma declaração tranquila e sóbria da caminhada humana atrás de sonhos e objetivos. Será difícil encontrar animes como Fune wo Amu.
Fora isto, ótimo post. Até!
Fábio "Mexicano" Godoy
Pelo que entendi, não havia mais nenhuma palavra faltando (e acho que nem era uma palavra, era uma definição). Revisaram o dicionário inteiro para ter certeza disso.
Como eu disse em comentário para o Kondou, isso é algo com que eu me identifico quando reviso meus próprios artigos – enquanto encontro erros, retorno e reviso tudo de novo. Só considero uma revisão como final quando não encontro erro nenhum. Claro que estamos falando de escalas totalmente diferentes, e o caso de Fune wo Amu foi mais grave pois já haviam passado pela revisão de palavras.
Como programador, acho bastante interessante como isso é muito diferente de como se faz revisão de software: há um número limitado de situações que precisam ser testadas, não se faz revisão de código completo normalmente – e definitivamente não se faz revisão de código completo após a detecção de um único erro (bug). Acredito que até certo limite alguma automação pode ser aplicada à revisão de texto (já existem corretores ortográficos e gramaticais, por exemplo, e no caso do dicionário um programa que apenas verificasse a presença das definições teria sido muito mais veloz, eficiente e barato que um pelotão de pessoas), mas parte da revisão sempre será manual.
Animes adultos sobre morte e vida? Tem segunda temporada de Rakugo Shinjuu agora em janeiro! Ele só não é “tranquilo” como Fune wo Amu foi, hehe, mas vejo muitos paralelos entre os dois.
Obrigado pela visita, pelo comentário e por acompanhar Fune wo Amu comigo! =D