Tirando os episódios malditos (o quarto e o quinto), que tiveram um monte de coisas irrelevantes e que eu não consigo deixar de pensar que foram em grande parte inúteis para as tramas principais do anime (o quarto na verdade ainda pode vir a compensar parcialmente, mas o que vai nele poderia ter estado na conversa que Willem teve com seu velho amigo de infância, por exemplo), estou gostando bastante de SukaSuka. Dos personagens e do enredo – mas não muito da forma como o enredo está sendo contado, sua narrativa. Até tive uma discussão feroz nas redes sociais após o episódio anterior por isso, hehe (civilizada, como todas as discussões deveriam ser, mas nossas diferenças foram mesmo irreconciliáveis).

A principal crítica que li foi que em SukaSuka as coisas estão acontecendo “do nada”, sem nenhum desenvolvimento ou presságio. Não pretendo discutir o caso geral nem os casos específicos que discuti na já referida altercação, mas sim usar isso de ponto de partida para discutir o novo desenvolvimento desse episódio: a revelação sobre a Ithea veio “do nada”?

Resposta curta: não. Resposta longa: Vai lendo aí. De fato, nada no enredo serviu de presságio para a revelação de que a Ithea já não mais existe, que ela chegou ao ponto em que chegou a Chtholly e ao invés de ter uma crise, de alguma forma conseguiu lidar com a progressiva perda de memórias sem que seu corpo sofresse (talvez o seu diário tenha servido a esse propósito? Talvez a sua espada tenha um poder especial que a protegeu da catatonia?) até que finalmente não houvesse mais Ithea. Um dia, como se fosse um dia qualquer, uma personalidade de outra vida despertou e a Ithea nunca mais retornou. Desde então, essa Ithea que não é a Ithea vive apenas fingindo ser aquela Ithea de quem não tem mais lembrança alguma, apenas um livro de contos e crônicas que ela chama de “diário”. E o anime contou tudo isso de uma vez nesse episódio. Nenhum presságio no enredo.

Mas havia presságio narrativo de uma tragédia iminente com a Ithea, não havia? Ora se havia! Desde o primeiro episódio! Antes de saber-se que a Ithea existiria, ela já havia não aparecido naquela cena que, descobre-se depois, mostra o futuro da história (agora cada vez mais próximo). Chtholly está lá, Nephren está lá, também estão lá Nopht e Rhantolk, que o anime só apresentou em episódio recente. Mas Ithea não está. Essa distinta ausência é o presságio de uma tragédia, como tal a tratei. Tecnicamente, a tragédia real já aconteceu e não tem nada a ver com a presença ou não da Ithea naquela nave, mas que SukaSuka havia me preparado para um grande acontecimento ou revelação com relação a Ithea não se pode negar. Só não foi da melhor forma possível, mas bem, eu já disse que a narrativa de SukaSuka não é seu melhor ativo. Aposto que partindo para a superinterpretação é possível encontrar presságios de muitas outras coisas. Por exemplo, olhe para essa cena, com essas garotinhas fofas e coloridas que já conhecemos bem desde o primeiro episódio:

Tiat, Lakhesh, Pannibal e Collon

Agora me permita extrapolar. Como listei no parágrafo anterior, com exceção da Ithea, todas as fadas guerreiras estão naquela cena de desastre. E todas significa todas mesmo, o anime já contou isso. A Ithea, não sendo mais a Ithea, deve estar à beira do precipício também. Se por acaso SukaSuka perdesse todas as suas fadinhas guerreiras mas a história ainda fosse continuar, quem teria que assumir? E quem é que, das crianças, tem destaque desde o primeiro episódio? A Tiat até mesmo já despertou. A importância que elas tiveram no começo da história e o destaque sutil que voltaram a receber nesse episódio colocam Tiat, Lakhesh, Pannibal e Collon muito perto do campo de batalha. Que não venham dizer que não houve nenhum presságio! Pode não ser o melhor dos presságios, mas está aí, hehe.

E depois de um enorme texto praticamente só para defender o enredo (mas não a narrativa) de SukaSuka, é de bom tom tratar pelo menos um pouco sobre o que aconteceu de relevante no episódio, não é? E tudo o que aconteceu de relevante está diretamente ligado à Chtholly e sua progressiva degeneração mental – até mesmo a revelação da Ithea foi inserida nesse contexto. A companheira de armas da protagonista já atravessou todo esse mar em que Chtholly encontra-se agora e garante: há terra firme! Não é o melhor dos mundos, mas é possível viver lá. Não que isso seja suficiente para aplacar o medo do desconhecido.

Mesmo com o relativo conforto de saber que a morte não é o fim, Chtholly não pode senão sentir-se ansiosa e apavorada com a perspectiva de morrer. Não mais a morte do corpo, da qual ela escapou ao decidir não detonar-se como uma bomba na luta contra a besta, mas a morte da mente. É uma cruel ironia que ela só esteja passando por isso porque decidiu, afinal, viver. Chtholly está perdendo muitas memórias muito rápido. E sem perceber, me parece que memórias de sua vida passada estão tomando o lugar de suas próprias – é assim que interpreto sua repentina melhora na cozinha. Aquela não é mais a Chtholly cozinhando. Esse detalhe da Chtholly estar reavendo suas memórias culinárias passadas é sem dúvida mais um presságio – ela provavelmente é mesmo alguém que o Willem conheceu. Sua visita às ruínas da cidade dele será muito interessante.

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