Mentira, ele fez sim, muita coisa errada.

Bom dia! Enfim, como eu dizia, Charioce fez muitas coisas erradas. De fato, se tem uma coisa que ele fez em Rage of Bahamut: Virgin Soul, foi errar. Os acertos dele se contam nos dedos das mãos de uma cobra, e todo o resto varia de neutro ou talvez pequeno equívoco a falha crítica e calamitosa.

Mesmo assim, ele estava bem intencionado. Críticos e defensores (quem?) dele devem concordar pelo menos nisso: o Rei de Anatae estava indubitavelmente bem intencionado. Isso o redime.

Ou não?

Mesmo antes desse episódio final, mas principalmente após ele, a maior crítica que se costuma fazer a Virgin Soul é que redimiram um personagem que promoveu genocídio, racismo, guerra e escravidão. Não há boa intenção suficiente para justificar isso, nem mesmo a salvação do mundo como o conhecemos. Com isso pelo menos eu concordo. Vamos brincar um pouco? Conhece o dilema ético do bonde desgovernado? Em sua formulação original, é algo assim:

Um bonde sem freio acelera em direção a um grupo de cinco pessoas que não tem como evitá-lo (estão presas, desatentas, imagine um motivo aí). Há uma bifurcação antes delas que fará o bonde seguir por outro trilho onde há apenas uma pessoa que também não poderá evitar ser atropelado. Você está no controle do aparelho que pode desviar o bonde para essa bifurcação, assim evitando que cinco pessoas morram mas condenando à morte uma outra pessoa. Não há terceira alternativa: não é possível parar o bonde de alguma outra forma nem alertar ou retirar as pessoas dos trilhos. Você puxa a alavanca?

Não há resposta certa para esse dilema, e ele possui muitas variações. De fato, ele possui tantas variações que existe uma fanpage no Facebook dedicada a criar novas versões dele (e a criar piadas relacionadas a ele em geral). Podemos imaginar uma variação dela que se passou na cabeça do Charioce, algo assim: o Bahamut vai despertar, não importa o que você faça. Você possui conhecimento sobre uma arma antiga que é capaz de derrotá-lo, mas para construí-la precisará guerrear contra deuses e demônios, matando e escravizando no processo. Se não fizer nada, o Bahamut irá destruir o mundo impunemente.

Dragão Dromos!

Colocado dessa forma, até parece que o Charioce realmente estava certo, né? Eu acredito que mesmo se fosse exatamente assim, ele ainda estaria errado. Mas não foi, e por isso tantos estão revoltados com a redenção do Rei ao final do anime. Mas será que ele foi redimido mesmo? Quando foi o arco de redenção dele? Quando foi que deuses e demônios o perdoaram oficialmente por seus crimes atrozes? Nada disso aconteceu. Claro que saiu barato para Charioce. Ele sobreviveu, ainda que cego, ganhou uma namoradinha maravilhosa, continuou rei, não parece haver ninguém tentando matá-lo, nem mesmo Azazel e Joana D’Arc, enfim. Saiu barato pra caramba pro Charioce, mas ele não foi redimido coisa nenhuma. Sobrevivência não é redenção.

O tom leve e positivo do epílogo ajuda a dar essa impressão errada também, mas não se esqueça que ele é narrado pela Nina, e não por um narrador imparcial. Aquilo não é o julgamento do mundo ou da obra sobre Charioce, mas o julgamento da garota que o ama. E sim, para a humanidade, ele com certeza é um herói. Por que não seria?

Nina fazendo o que ela mais fez durante a série inteira: correr

A história da Nina foi a história de uma garota do interior que não conhece nada do mundo e se apaixona pela pessoa errada, na hora errada. Não foi graças a ela que Charioce conseguiu derrotar o Bahamut, mas foi graças a ela que o rei quase foi derrotado – e isso seria trágico para o mundo todo, para as três raças. Todo o enredo que culminou na Batalha de Anatae começou na tentativa de assassinato de Charioce por Azazel, um plano que o demônio só criou e colocou em prática após conhecer Nina e seu poder. Pena que na noite anterior ela se apaixonou por Charioce e perdeu a capacidade de se transformar em dragão quando excitada por qualquer homem bonitão. Daí os demônios foram massacrados, El Mugaro tentou salvar Azazel e foi capturado por Sofiel, e Nina, Azazel e Kaisar foram presos. Não estou dizendo que ela tenha culpa objetiva, mas é fato que se ela não estivesse lá nada disso teria acontecido, e foi aí que começou a sequência de acontecimentos que culminariam na guerra. É o que se pode chamar de Efeito Borboleta.

Nina foi uma personagem adorável na maior parte do tempo, criticada por se apaixonar tão facilmente por Charioce e por defendê-lo apesar dele ter sido o Hitler de Mistarcia. Eu acho que talvez tenha sido um pouco exagerada a caracterização dela, vá lá, mas não acho inverossímil a ponto de criticar a história por causa disso. Eu totalmente imagino uma garota inocente de dezesseis anos, que nunca se apaixonou, que não conhece nada do mundo, agindo como a Nina. Para a nossa sorte, creio, poucas dessas são super-poderosas e se apaixonam por ditadores sanguinários. Para o azar dos habitantes do mundo de Rage of Bahamut, foi precisamente isso que aconteceu por lá.

Nina passa para Favaro a mensagem de Amira

No final das contas, se houve uma redenção na história, foi a redenção do Favaro. Pois é, você entendeu direito o que eu escrevi. A jornada da Nina, forçada em uma situação similar à de seu mestre na temporada anterior mas tomando a decisão final que ele se arrepende até hoje de não ter tomado (ainda que, francamente, no caso dele eu ache que era mesmo impossível, mas essas coisas do coração não operam bem com lógica), culminou em um encontro com a Amira finalmente liberta do Bahamut, de quem recebeu então uma mensagem – e a repassou para o Favaro. Um ciclo completo.

O detalhe mais bonito desse episódio final e que me arrancou lágrimas foi o túmulo do El. Seu nome estava escrito: El Mugaro D’Arc. O nome que sua mãe lhe deu adicionado ao nome que seu pai adotivo lhe deu. Objetos preciosos de sua vida junto a cada um deles. A visita conjunta, e a partida – cada um foi para seu canto. Joana D’Arc se “aposentou” no Céu, e Azazel tornou-se um errante, como Favaro se tornou após o final da primeira temporada.

A surpresa bizarra você sabe qual foi. Zombie Kaisar! Eu achei meio barato, idiota até, que a Rita o tenha reanimado como um zumbi. Faz parecer que todo o sofrimento dela quando de sua morte, tão sentido, foi por nada. Mas daí eu me lembro que o anime estava apenas deixando pontas abertas para uma possível terceira temporada. O Bahamut não ter morrido de fato é a outra ponta aberta relevante. E necessária. Senão o anime se chamaria o quê? Nonexistent Rage of the dead Bahamut? Apenas Rage of? Aguardo pela terceira temporada, com Favaro procurando Amira pelo mundo (ela pode estar por aí, não pode?), Zombie Kaisar atrás dele e o filho de Nina e Charioce partindo em sua própria jornada. E no final o Bahamut aparece e vixe.

E você, o que achou de Rage of Bahamut: Virgin Soul?

  1. Gostei muito dessa temporada, menos que a primeira principalmente pela protagonista, comparando com a Amira, a Nina é o principal ponto franco do anime (opinião pessoal). Ela é divertida e tudo mais, mas aparenta ser vazia, não raciocína em como suas decisões são erradas eticamente (como defender alguém que se apaixona e faz de tudo pelo “Hitler”. Mas vou ser um pouco contraditório, sobre a analogia do bonde, eticamente falando não existe certo para uma pessoa normal, mas para um líder só tem uma escolha a fazer, sacrifícar o menor número de pessoas para a sobrevivência de um maior número de pessoas. Esse é o papel de um líder no mundo real. Líderes começam guerras levando soldados para frente de guerra, sacrificando o menor número deles possível em benefício do maior número possível de pessoas que é geralmente seu país. Por isso não dá pra dizer que o chariot estava errado no contesto que eu apresentei.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Genesis foi mais interessante, digamos assim, mais divertida por não ter que ficar lidando com personagens de moral ambígua (o Favaro até considera matar a Amira, depois a entrega, mas nem ele leva a sério as próprias decisões), mas eu acho que teve uma quebra de ritmo muito grande. Quando eles chegaram a Anatea, acabou a aventura. Os próprios protagonistas se tornaram expectadores da história tanto quanto nós, e isso me deixou bastante chateado. Por isso, por consistência, personagens tão carismáticos quanto (boa parte deles é recorrente, né), e pelos emocionantes pontos altos ao longo do anime, acho Virgin Soul ligeiramente melhor. Mas é uma escolha difícil mesmo, não acho um absurdo pensar diferente de mim =)

      Sobre o Charioce, é como eu escrevi no artigo: ele de fato estaria certo _se_, e somente se, houvessem apenas duas opções mesmo. Mas não era assim. Claro que não seria fácil. As chances de dar errado seriam enormes. Mas diplomacia era sim possível. Eu entendo como a humanidade, ou parte dela, podia estar bastante receosa em relação a deuses e demônios, e defendi o Charioce em vários artigos com base nisso. Eu entendo a escolha que ele fez e porque ele a fez. Não obstante, como foi tomada sobre premissas erradas, foi sim uma decisão errada.

      Obrigado pela visita e pelo comentário =)

  2. Fabio, acho que assisti ao anime uns 3 anos atrás, gostei demais e queria ter achado o blog antes pra me lembrar do que eu tanto reclamei do anime! rs Li dos outros episodios pra lembrar, você realmente resumiu a “primeira temporada” pra justificar o que o CHarioce fez, eu curti muito seus detalhes, parabéns mesmo!!
    Nem sei se vai ver essa mensagem agora mas, será mesmo que nao dava pra ele ter ido de outra maneira?
    Ele precisou escravizar, matar..mano, eu nem lembro porque o El Mugaro foi morte e QUAL a necessidade disso ter acontecido? è por conta dos eventos anteriores e o que poderia acontecer? EU nao sei. Eu vou re-assistir e volto, adoraria conversar mais.Ah, como foi mesmo que o Charioce chegou ao trono?

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