Não é do meu feitio falar de um anime que achei ruim – o que acho ruim eu tento é esquecer –, mas há algo interessante em Two Car que acho válido comentar aqui com vocês. Um anime ruim x um anime ruim com uma “qualidade pitoresca”, os dois a 80, você acha que ambos merecem ser vistos?

Two Car é um anime original do estúdio Silver Link. que foi televisionado na temporada de outono de 2017 e teve o propósito de comemorar o aniversário desse estúdio – pior ideia não poderia ter sido. A história gira em torno Yuri e Megumi, praticantes de racing kneeler – moto com sidecar –, que vão disputar um campeonato com seis outras duplas de garotas.

Quem vencer terá o direito de pilotar na Ilha de Man – praticamente um “local sagrado” para os corredores dessa modalidade –, o problema é que tal uma mãe que promete ao filho um ovo de páscoa e o dá um bombom, o anime todo promete um campeonato que não vemos, focando praticamente só em treinos e mais treinos chatos.

Fiz as primeiras impressões do anime e a estreia não poderia ter me trollado mais…

Até tem corrida pra valer, mas elas não valem nada, não fazem parte do campeonato de verdade e só servem como “aquecimento”. Mas a mancada não para por aí, pois das sete duplas que “competem”, com apenas três, além da dupla de protagonistas, há alguma tentativa de aprofundar personagens, apresentar um conflito e trabalhar relações entre parceiras e a superação de desafios, as outras começam a história rasas e terminam rasas.

Eu poderia considerar que uma foi um alivio cômico por ter tido uma sketch de comédia em quase todo episódio, mas o que eu poderia falar dessas personagens além de que elas deveriam logo se assumir lésbicas e se pegarem? Nada mesmo.

A produção do anime não saltou aos olhos, mas não foi ruim – e olha que já vi vários animes desse estúdio que pecam muito nesse quesito –, o moe prometido foi entregue e era até agradável; agora e a história?

O roteiro nem era assim tão ruim – apesar de bem limitado –, mas a execução foi a pior possível, pois quando a história de uma dupla não era arrastada, a resolução do conflito até era razoável, mas a evolução que se poderia esperar de tal dupla era somente momentânea e ao final do anime ficou claro que foi para nada.

Okay, dá para dizer que tentaram fazer com que o público criasse empatia por outras duplas que não a principal, mas a história de nenhuma delas foi lá grande coisa em momento algum e ao fazer com que as principais vencessem TODAS as benditas corridas – e todas vindo da última posição e vencendo no sufoco, é sério que dá para engolir isso o anime todo? – os arcos de personagem que houve se mostraram complemente inúteis – além de medíocres.

Belíssimo character design do Tiv – ilustrador de Masamune-kun – desperdiçado com sucesso!

E é exatamente esta a “qualidade pitoresca” de Two Car, o que nem é uma qualidade em si; pois os dois únicos pontos nos quais ele não erra – ou ao menos não vacila feio – são a animação e o moe – mas o moe por si só não “vende” esse anime… –, são um excelente exemplo de como não se fazer um anime. E digo mais, esse anime é um exemplo a não ser seguido do que se fazer em uma história.

Prometer e não entregar – ou não entregar tudo o que se prometia ou se esperava – não é novidade para animes de apenas 12 episódios que geralmente adaptam mangás ou light novels em andamento, mas essa obra é completamente original, então não dá para dizer que foi rushada ou lenta demais por isso.

Não dá para pôr a culpa no péssimo gerenciamento de tempo que esse anime tem em qualquer outra coisa a não ser na equipe de produção dele que não teve o mínimo bom-senso de ver que o material que tinha em mãos não era nada bom e obviamente proporcionaria uma experiência frustrante para quem esperava o que ele deu a entender que entregaria lá no começo.

Se “jogo é jogo, treino é treino”, Two Car é só uma tentativa mal-sucedida de história?

Para não dizer que só há “óleo vencido” nesse anime, a caracterização do racing kneeler não ficou ruim, proporcionando a sensação de que uma corrida de verdade não seria tão diferente e que garotas colegiais poderiam sim pilotar motos com sidecar em alta velocidade. Talvez um ou outro detalhe ali não fosse igual na vida real, mas não creio ter sido o suficiente para desmerecer esse quesito.

O problema é que ao final do anime, já com tudo dito e feito, a sensação de que as corridas com moto e sidecar poderiam ser trocadas por qualquer outra coisa foi muito grande, pois todas as reflexões e conclusões que envolviam a prática as quais algumas das personagens chegaram foram mal ou não aproveitadas, inclusive, creio que o trecho final do anime foi uma de suas piores coisas.

Duas discípulas se apaixonaram por seu mestre e brigavam pelo amor dele, elas achavam que teriam uma chance de se declarar após vencer a competição e ir para a ilha de Man, onde ele estava competindo, contudo, na reta final quem aparece?

Sim, esse mesmo mestre – que poderia muito bem ter aparecido nos últimos episódios após elas vencerem a competição e irem para a Ilha –, e ele serve para quê? Para nada além de fazer as garotas não terem um desfecho minimamente decente.

Ao ver esse logo só me vem a cabeça a expressão “presente de grego”…

Do que adiantou elas terem admitido que são parecidas e que queriam correr por si mesmas se foi só a noiva do Mestre delas dar um pé no cara para elas voltarem a mesma relação boba e infantil de antes?

Que o anime fosse ruim – no último episódio nada mais poderia salvá-lo –, mas que ao menos as personagens principais demonstrassem algum tipo de amadurecimento que me fizesse ter a sensação de que gastar meu tempo com esse anime não foi completamente em vão.

Até agora não entendi a mensagem que a obra quis passar – havia alguma? – e ela não serviu sequer como um entretenimento que queria dizer apenas “divirta-se!”. Two Car foi um acidente de percurso violento!

Em minha opinião, e sendo bem simplista mesmo, para ser bom um anime precisa ter uma história que faça algum sentido – pode até ser o cúmulo do clichê, sem problemas – e seja bem executada – às vezes histórias ruins se tornam prazerosas de ver pela forma como são contadas.

Quando falta um eu posso até considerar o anime bom se o outro se destacar muito, mas quando falta os dois pode dar perda total que o que se salva não vale a pena manter na memória, no máximo – sendo este o caso – posso tomar de exemplo do que não quero ver em um anime e de como um anime pode ser ruim e de forma alguma divertido quando não existe uma válvula de escape que funcione.

Vou pegar minha motoca e fugir em alta velocidade desse acidente que chamaram de anime!

  1. Nada muito a acrescentar também tive altas expectativas com esse aí devido ao esporte ser de alta periculosidade, demanda muito treino, habilidade e sincronia…É um esporte bonito de ver na TT da Ilha de Man…Mas acabou sendo um sequencia de clichês banais…

  2. Eu realmente não fiquei muito interessada pelo anime, mas fico triste quando desperdiçam um assunto que poderia ter sido bom, em algo tão vago… Quem sabe da próxima eles acertem x-x

Deixe uma resposta para Victória Cancelar resposta