Da infância à velhice passamos por diversas transformações, tanto físicas como cognitivas, que dão forma ao nosso ser. Ao longo da vida nós adquirimos conhecimentos e habilidades dos mais variados tipos, desde coisas simples a informações mais complexas, que vão moldando nosso caráter e formando nossa identidade.

Família da Aya

Durante o percurso da vida existem mudanças boas e outras nem tanto, existem momentos de felicidade e de tristeza, de chegadas e partidas. Todas essas reflexões citadas estão presente nesse singelo curta do consagrado diretor Makoto Shinkai (Your Name), que eu irei brevemente comentar neste artigo.

A história do anime gira em torno de uma jovem adulta chamada Aya, que está passando por uma nova fase em sua vida. Ela está morando sozinha e trabalhando, algo comum e até desejado por muitas pessoas na faixa etária dela, pois significa independência e liberdade. Entretanto, a vida adulta não tem apenas bônus, pois vem acompanhado de muitas responsabilidades. A cena onde a protagonista leva bronca do chefe, representa muito bem o peso da responsabilidade de um adulto. Quando somos mais novos podemos nos dar ao luxo de cometer erros, mas à medida que crescemos cada falha nossa terá consequências que podem durar por toda a vida.

Quando somos crianças queremos nos tornar adultos o mais rápido possível, pois temos a falsa sensação de que ao chegar na fase adulta poderemos fazer o que quisermos, mas a verdade é o oposto. Na fase adulta temos obrigações para com a sociedade e para com nós mesmos. Vendo as cenas da Aya ainda criança dá para ver que ela era mais feliz naquela época do que no período cronológico atual onde se passa a história.

As mudanças não se limitam à protagonista, pois há outros dois personagens que percebemos a passagem do tempo que são: o pai dela e sua gata de estimação (Mii-san). Outrora, o pai da protagonista formou uma família aparentemente feliz com uma esposa e uma filha, mas o tempo foi passando, e transformações foram ocorrendo. Depois de ter se separado da esposa, o pai da Aya teve que lidar com o crescimento e distanciamento progressivo de sua filha. À medida que as crianças crescem, elas tendem a se tornar mais independentes dos pais, e tal independência acaba criando uma sensação de solidão neles. Esse estado de solitude fica nítido quando a filha vai embora do seu lar para poder viver sozinha. É como se o pai dela tivesse “perdido” sua filha para o mundo, pois ela não pode viver mais sob a proteção dele como se ela fosse sua eterna garotinha.

A Mii-san (gata de estimação) representa muito bem o ciclo da vida. Ela chegou ainda filhote para fazer companhia para Aya, a fim de aliviar a solidão que ela passara devido a ausência da mãe. Quando ela morreu, a falta dela foi tão grande a ponto do pai da protagonista dizer que ficou mais abalado com a morte da felina do que com o falecimento de outras pessoas. A gata em seu breve período de vida deixou sua marca nas pessoas que cuidavam dela, pois mesmo depois de sua partida ela ficará na memória de seus donos. Tomando o exemplo da Mii-san, faço o seguinte questionamento: você está deixando sua marca neste mundo? As pessoas vão sentir sua falta quando você não estiver mais aqui?

Outro ponto importante do curta, além das metamorfoses da vida, é a importância dos laços familiares. Mesmo que pai, mãe e filha estejam separados, eles ainda mantêm contato, e a cada encontro a felicidade se renova. A família da protagonista pode ter se modificado ao longo dos anos, afinal, famílias sempre mudam com o passar do tempo, ou seja, os hábitos e até mesmo a composição familiar sofrem mudanças com o tempo devido aos mais diversos fatores, entretanto, o laço que os une não sofreu a ação do tempo, pois continua firme e presente.

A Aya ainda tem muito a viver e amadurecer, portanto, até ela completar seu ciclo de vida, muitas transformações ocorrerão. Quando ela estiver mais velha, o modo como ela pensa o mundo agora será diferente, pois a maturidade traz consigo sabedoria que adquirimos graças as nossas falhas na juventude.

O artigo fica por aqui. Obrigado a todos que leram, e até a próxima!

  1. Desde já, excelente artigo de um dos melhores filmes do Makoto Shinkai. De todos os filmes que eu já vi dele. Dareka nos seus 6 minutos de duração, ele transmite uma mensagem bonita (acompanhada de frames cheios de significado também).
    Gostei bastante como exploraste a parte do ciclo da vida e da forma como organizaste o crescimento da Aya por imagens.
    A última parte do artigo, também está muito boa, ao longo do curta, os laços familiares se mostraram bastante presentes. A relação entre a Aya e os pais foi bastante bonita, os pais mesmo separados, continuaram a apoiar a filha e a reunirem-se.
    Espero que dês mais oportunidades aos filmes do Makoto Shinkai, e talvez fazer mais uns artigos sobre os mesmos.

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