Bom dia!

Hisone foi embora, agonizou sobre sua decisão, e acabou retornando. Ainda bem, porque estavam mesmo precisando dela no final das contas.

Foi um desenvolvimento rápido, tudo considerado. Mas de forma alguma foi fácil. Em particular, a Tenente Kakiyasu foi bastante dura com a Hisone e cobrou dela prova de amadurecimento, e não apenas vontade, determinação ou arrependimento. E ela tem boas razões para isso.

Um dia, Kakiyasu também foi uma pilota. Mas, ao contrário da Hisone, ela não foi escolhida pelo dragão. A situação dela era a mesma da Nao hoje. Note-se, aliás, o quanto ela parece admirar a mãe da Nao, tendo-a mencionado como modelo tantas vezes em um dos primeiros episódios que a própria Nao acabou fugindo da base. Em seu tempo, Kakiyasu teve a sua “Hisone” também: Moriyama, que também já conhecemos. E Moriyama, como Hisone, também se apaixonou e acabou sendo rejeitada pelo dragão em seguida. Para adicionar insulto à injúria, Moriyama se apaixonou pelo mesmo homem que a Kakiyasu amava na época, e eles acabaram ficando juntos.

Os dois episódios anteriores abordaram o tema da escolha entre profissão e vida pessoal (amor/família). Moriyama escolheu a vida pessoal e se tornou uma dona de casa, enquanto a Kakiyasu, talvez no começo por pura falta de escolha, mas em dado momento tenho certeza que ela internalizou isso como o certo a se fazer, escolheu o trabalho. E não é qualquer trabalho! Ela não é uma office lady como tantas mulheres que trabalham em escritórios no Japão. Ela é uma militar, e uma que carrega um conjunto de responsabilidades: ser a superior imediata das pilotas de dragão, manter o segredo dos dragões bem guardado, e, porque assim quis o destino, ajudar a coordenar a grande missão de guiar o dragão colossal para seu novo local de repouso de forma que ele não cause danos humanos e materiais no Japão. É muita coisa!

Mas o que ela queria era ser pilota de dragão. Se o Masotan não a tivesse rejeitado, talvez fosse ela lá hoje. Não sendo isso, ela se apaixonou. Mas a mesma pessoa que lhe “roubou” o dragão (não exatamente, e ela sabe disso, mas é uma mentalidade difícil de afastar por completo) também acabou roubando o amor de sua vida. É claro que há toda a questão da disciplina e da responsabilidade envolvidas, mas mais do que isso ela viu a Hisone fazendo coisas que ela já viu serem feitas antes e já sabe como acabam. A Hisone a fez se lembrar de tudo o que ela provavelmente achou que já estava bem resolvido em seu coração. E tudo à véspera da grande missão. Era a tempestade perfeita para ela se frustrar enormemente com a protagonista.

Kakiyasu expulsa Hisone quando ela diz que vai desistir de tudo. A tenente estava colérica, e ninguém entendeu direito o porquê.

Claro que a reação exagerada da Kakiyasu foi injusta com a Hisone. A garota só é responsável pelas escolhas que tomou, ela não tem culpa nenhuma pelo passado da tenente. Mas as coisas não são tão simples, e o problema da responsabilidade subsiste: enquanto o Japão é ameaçado pelo grande dragão; enquanto a Nao, rejeitada como a Kakiyasu foi, se esforça para pelo menos ajudar com a manutenção do Masotan; enquanto a Sada, que já deve ter mais de 90 anos, se esforça, voltando a pilotar; a Hisone fugiu. Essa escolha foi dela, só dela, e ela pode fugir das suas responsabilidades se assim quiser, mas não pode fugir das consequências de tomar essa decisão.

Ela passa um tempo de volta em sua casa, com seus pais, se debatendo entre autopiedade e baixa autoestima. É justo, ela estava com o coração duplamente partido: por ter desistido do Okonogi e por ter desistido do Masotan. Ela não consegue escolher entre os dois, afinal. As coisas ruins que ela pensava sobre si mesma no passado retornam, e se somam às novas coisas ruins que ela passou a pensar sobre si mesma. Será que ela é mesmo uma inútil? Uma incapaz? Um peso morto até mesmo para sua família, alguém que incomoda até o próprio gato? (Observação: incomodar gatos é bastante fácil, mesmo se eles te amarem) Ela começa a colocar os pensamentos em ordem quando olha o álbum de formatura, no qual escreveu que queria entrar para as Forças Aéreas de Auto-Defesa do Japão para “proteger aqueles que eram importantes para ela”, o que, no contexto de um álbum de formatura, remete obviamente aos seus ex-colegas.

Olhar com clareza para o passado, e não apenas através das memórias, foi o que permitiu à Hisone entender o que ela precisa fazer no presente.

Porém, é lógico que ela escreveu aquilo só por escrever. Ela tinha que escrever algo, ela precisava justificar sua escolha, e a verdade é que ela não tinha uma boa justificativa. Hisone escolheu por impulso. Ela não tinha nada nem ninguém importante, não lá, pelo menos. Tudo o que ela tinha de importante estava em sua casa, mas lá seus pais jamais exigiram nem exigirão dela nada em troca, então ela não sente que mereça. Ao reler isso ela percebe que agora ela tem sim mais coisas importantes, e fugir a está fazendo perder todas essas novas coisas importantes que ela conquistou. Escutar o Masotan longe no céu selou sua decisão: ela iria retornar!

Antes de saltar literalmente na boca do Masotan, entretanto, ela ainda precisava passar por algo quase tão assustador: convencer a Tenente Kakiyasu. Não foi fácil. Não havia algo que ela pudesse fazer que fosse certeza de que funcionaria, não havia uma palavra que fosse garantia de que convenceria. Ela precisava ser sincera e esperar que seus sentimentos chegassem à Kakiyasu. Ela precisava que sua superiora ficasse convencida de que a Hisone havia amadurecido, mesmo que só um pouco.

Amadurecido o suficiente para entender a responsabilidade que ela tem, não pelo trabalho, mas pelas coisas que lhe são preciosas. Amadurecido o suficiente para ter a coragem de entender que errou, como errou, e voltar atrás para corrigir e pedir desculpas. E o mais difícil, amadurecido o suficiente para saber que ela não precisa fazer escolha nenhuma, só precisa saber separar as coisas, compartimentalizar os sentimentos. Enquanto ela está pilotando o Masotan, ela é toda do Masotan, assim a anastomose é evitada.

Hisone consegue convencer a Tenente Kakiyasu.

Agora as quatro pilotas, os quatro dragões, as mikos, o Okonogi e a Sada estão todos dentro do Grande Dragão, e parece confirmado que alguma forma de sacrifício será necessária para apaziguar o gigante para que ele adormeça novamente. Sada se arrepende de ter perdido sua amiga para o dragão no passado, e Okonogi está desde o episódio anterior visivelmente transtornado com o prospecto de perder a Natsume. Qual será a verdade? O que será que a Hisone irá fazer agora?

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