Bom dia!

Venus Wars é um filme anime lançado em 1989, um ano depois de Akira. Em comum com o clássico de Katsuhiro Otomo, a juventude rebelde se arriscando em suas motocicletas estilosas (monociclos, no caso de Venus Wars, mas eles são mais estilosos do que a palavra sugere, acredite) em um mundo perigoso governado por adultos.

E é baseado em um mangá também, de Yoshikazu Yasuhiko no caso, e o filme também foi dirigido por seu criador original, assim como Otomo dirigiu Akira.

De diferente, coisa demais para enumerar em um parágrafo curto.

 

Uma nave pousando em Vênus

 

No mundo de Venus Wars, um meteoro cataclísmico colidiu com Vênus. Se tivesse vida lá, quase toda ela teria perecido com o impacto que mudou completamente a composição de sua atmosfera. Como não tinha, o efeito foi o inverso: Vênus se tornou um planeta habitável.

Conceito criativo, não é? Ao invés de um meteoro acabar com a vida na Terra, tornou possível a vida em Vênus.

A história de verdade ocorre décadas depois, quando a Terra parece ter se tornado relativamente muito mais pacífica do que é hoje (mas não dá para saber quase nada sobre a Terra de Venus Wars, o anime dá apenas um vislumbre e o resto é só um chute educado meu), mas Vênus, colonizada e com duas nações independentes, sofre com a escassez de recursos.

Não é porque o planeta é habitável que ele é capaz de sustentar tanta vida quanto nosso planeta azul. A tensão resultante entre as duas nações venusianas e a guerra iminente são o pano de fundo e ponto de partida de Venus Wars.

Seus personagens principais não são políticos ou comandantes militares, mas pessoas comuns pegas no fogo cruzado entre as nações de Ishtar e Aphrodia. Ah, sim, as duas nações de Vênus, um planeta com o nome de uma deusa da fertilidade, têm seus nomes inspirados em outras deusas da fertilidade também. Isso é algo que eu tenho certeza de que a humanidade seria capaz, se possível fosse colonizar a Estrela d’alva.

Retornando ao ponto, os personagens principais são pessoas comuns. Ou quase: são especificamente jovens.

O protagonista é Hiro (que soa como “hero”, “herói” em inglês, e aposto um dedo como é proposital), membro dos Killer Commandos, uma equipe de uma espécie de demolition derby praticado com monociclos.

 

Hiro pilotando seu monociclo no "destruction derby"

 

A outra personagem importante e que compõe inicialmente um núcleo de uma personagem só é Susan Sommers, uma jovem repórter que veio da Terra para tornar-se correspondente de guerra em Vênus.

Hiro e Susan representam formas diferentes de auto-determinação juvenil, que, como vemos ao longo do anime, podem se tornar auto-destrutivos ou contraproducentes, mas eles não sabem ser de outra forma então precisam aprender a fazer o melhor do único jeito que conseguem.

Hiro é o jovem rebelde, que despreza autoridades e não liga para as regras, mas não tem nenhum plano para o futuro nem costuma pensar em como as coisas deveriam ser. Susan é a jovem idealista, que acredita que pode mudar o mundo.

 

Susan se desvencilhando da população que foge em pânico para chegar ao local da batalha

 

Ishtar invade Io, a capital de Aphrodia, durante uma corrida dos Killer Commandos, e eles ficam mais irritados do que assustados. Na verdade acho que só as garotas que davam apoio à equipe ficaram algo assustadas, enquanto Hiro, os demais rapazes e Miranda, a líder da equipe, ficam apenas furiosos.

Mais ainda porque fica estacionado em cima de seu autódromo um dos octotanques, as máquinas de guerra revolucionárias de Ishtar que fazem o governo e o alto-comando de Aphrodia abandonarem a capital por não terem esperança de conseguir defendê-la.

O resultado é uma das melhores batalhas do filme, quando os Killer Commandos decidem enfrentar sozinhos a poderosa máquina de guerra. Com um plano ousado e uma perda trágica, eles conseguem vencer, mas acabam levados por militares de Aphrodia, que chegam no último minuto, dão cabo de reforços ishtarianos e “resgatam” os civis – que eles não permitem que partam depois para evitar o vazamento de segredos de guerra.

Susan desde que chegou em Vênus abusa da sorte para tentar produzir seu “furo”. Chega a ser desrespeitosa com algumas pessoas e temerária com outras, colocando a sua vida e a delas em risco.

Em dado momento, no caos da guerra ela acaba se unindo aos Killer Commandos e passa a ter um caso com Will, um membro da equipe, e assim ela registra a batalha heroica da equipe contra o octotanque e é capturada pelo exército de Aphrodia no final dela também.

Os militares não deixaram passar a destreza dos jovens e tentam recrutá-los. Hiro se recusa, Miranda também. Hierarquias e autoridades não são para eles. Mas Will, sob influência do discurso de Susan (e porque ele era, por assim dizer, menos rebelde também), aceita gostosamente, e até tem algum sucesso, mas…

Mas digamos que ele apenas serviu de escada para o crescimento pessoal de Susan 🙂

 

Susan deixa de ser apenas uma expectadora

 

A animação de Venus Wars é bonita de se ver, não apenas para a época como se sustenta até hoje. Não é sem suas falhas, mas é um espetáculo de ação em que os pontos fortes superam com folga os pontos fracos.

O character design é de seu autor e diretor, Yoshikazu Yasuhiko, que entre outras coisas é responsável também pelo character design original de Mobile Suit Gundam, o primeiro anime da franquia.

O filme infelizmente tem personagens demais e tempo de menos para uma história que originalmente era um mangá de quatro volumes, então além do enredo principal parecer truncado em alguns momentos não há muito tempo para o desenvolvimento de quase nenhum personagem, mas todos os personagens principais transmitem muita personalidade.

Outro destaque da produção é o designer mecânico Makoto Kobayashi, que também já trabalhou em alguns animes da franquia Gundam e, recentemente, fez esse mesmo trabalho nas novas animações de Space Battleship Yamato.

É Kobayashi o responsável pela aparência alienígena, ao mesmo tempo orgânica e futurista, dos monociclos, octotanques e todos os veículos civis e militares de Venus Wars.

É lógico que no final os mocinhos vencem, como tem que ser. Mas o divertido é assistir as cenas de ação, ver como eles vencem, além de testemunhar o crescimento como pessoa dos dois personagens principais, muito diferentes porém perfeitamente complementares: Hiro e Susan.

 

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