Este episódio foi um verdadeiro divisor de águas para Vento Aureo, e não foi só por ele se encontrar exatamente no meio da série, mas, principalmente, por ter revelado o Stand do vilão, e ter tido uma reviravolta espetacular em seu final. É agora que Jojo irá se separar do Trigo e vai mostrar para onde esse vento dourado irá soprar. Se estamos exatamente no ano de 20 d.B. é hora de Jojo no Anime21!

A última missão do chefe não poderia ser uma missão normal nem poderia ser uma missão qualquer. Entregar a Trish sã e salva ao pai foi a tarefa, e apenas um homem de fibra poderia executá-la. Sim, é Bruno Bucciarati, capo e integrante mais confiável de seu time, que deveria levar a filha do chefe até ele.

Entretanto, ser um homem capaz de chegar até ali também significava outra coisa; a capacidade de Bucciarati de reconhecer seus ídolos, mas também de questioná-los, de refletir sobre o que fazer, e como fazer, conseguindo manter seus princípios mesmo em uma atividade de natureza tão sórdida.

Bucciarati é um homem forte que nunca se desviou do caminho que ele escolheu, mesmo precisando encarar a hipocrisia de seus atos.

Eles deram foi sorte por não terem sido surpreendidos assim que baixaram a guarda.

Ele amaldiçoava as drogas que tomaram o pai, mas trabalhava justo para a organização que as vendia, decidindo não sair e tentar mudar alguma coisa, mas fazer isso por dentro, que é como teria maior chance de sucesso, e também assumiria um risco proporcional a isso.

Foi quando ele encontrou Giorno Giovanna que sua sorte – ou seria azar? – começou a mudar e seus próximos passos foram o tragando cada vez mais para perto de seu objetivo – estreitando seus laços com Giorno e os outros que dependiam dele e confiavam nele – em uma sucessão de eventos bizarra e que qualquer pessoa que observasse de longe só poderia conjecturar como “destino”, destino esse que o uniu ao Jojo e o permitiu achar um meio de se aproximar cada vez mais do sonho que também era seu.

Porém, é de Jojo que estamos falando, quando tudo parece bem é porque virará do avesso!

e a dê um rastreador para descobrir a identidade de um chefe da máfia.

Mas antes de tocar no assunto, não poderia deixar de lado alguém que teve os sentimentos deixados à mingua esse tempo todo. Sim, a Trish só tem 15 anos e tudo o que rolou com ela nos últimos dias é muita loucura para processar. Não importa se ela ainda é imatura, ataca de tsundere e tem narizinho empinado.

Na verdade, é exatamente por essas coisas que a gente pode ver o quanto é duro para ela – uma pobre garota rica, mais pobre que qualquer coisa – e como tudo que ocorreu até aqui predizia o encontro com o pai. Um pai que nunca moveu um dedo por ela – nunca para ELA, somente por ELE.

A tensa cena no elevador foi a prova maior disso. Confesso que não entendi porque ele deixou a mão dela para trás. Ele não imaginou a hipótese de surgir um usuário de Stand capaz de rastreá-lo através do DNA da filha? Faz sentido supor que foi para não interferir na habilidade em curso?

Não sei, só sei que se a intenção era chocar e deixar claro que ele não dava a mínima para a vida dela deu certo, tão certo que isso desequilibrou o Bruno e o lembrou com todas as forças do porque ele queria conhecer a identidade do chefe, do porque ele queria derruba-lo, do porque a injustiça precisava parar. Ele viu essa injustiça, acompanhada de uma brutalidade maligna, no ato de um pai egoísta e assassino cruel.

Não era para ele que Bruno entregaria a sua amada cidade – sua terra natal – na qual ficou para trás com seu pai quando a mãe fora embora, não era para o vilão, um arquétipo do mal, que ele daria os esforços que ele fez pelo que achava que era certo.

Violentar desconhecidos por aí, destruir famílias indiretamente, era uma coisa; macular sangue do seu sangue sem demonstrar o pingo de compaixão que fosse eram as dádivas maiores de um monstro que precisava e poderia ser detido ali pelo Bruno, ou ao menos era isso o que ele imaginava, pois, ao estar na presença do mal pôde sentir onipotência em seus atos frios e calculados.

Bruno perdeu a razão e foi encurralado pelo poder que o aniquilaria, digno de um Rei Carmesim que, como o vermelho do Stand, tinha sua trajetória banhada em sangue.

King Crimson é o nome de uma clássica banda de rock progressivo que mudou para sempre o mundo da música com seu álbum In the Court of the Crimson King, lançado há cinquenta anos. A sonoridade do grupo tem uma mistura de insanidade e poesia que – ainda que bem diferente – muito remete ao que é Jojo em seu âmago. Técnica sim, técnica com certeza, mas feeling, sentimentos, acima de tudo.

Rock progressivo é a expressão mais bela dos revezes que permeiam a mente humana e por isso que não é nada inadequado que um personagem tão desafiador que nem o vilão dessa parte cinco tenha em seu Stand uma homenagem ao estilo, afinal, o que se esconde no fundo da mente de uma pessoa que é capaz de fazer o que ele faria – e talvez ainda o faça –, o quão longe sua fixação por esconder a própria identidade o levará? Como alguém desequilibrado assim tem tanto poder, quanto influência?

Talvez esse tenha sido o momento mais tenso da jornada até aqui.

Mas isso é assunto para se comentar nos próximos episódios dessa aventura insana, por enquanto o que aconteceu foi um embate entre o King Crimson do vilão e o Sticky Fingers do herói. Um incrível trecho no qual a tensão foi elevada até o máximo com a ajuda da trilha sonora e do modo que a cena progride; com direito a pega pega com o vilão, exposição de seu poder e o enquadramento do Bruno.

Bruno foi inocente ao pensar que poderia lidar com o chefe sozinho, mas foi, acima de tudo, afoito já que não parou para ouvir o que o Giorno tinha a dizer, partindo logo para o ataque. Ele foi com sede demais ao pote, não por arrogância disfarçada de confiança, mas porque estava indignado.

Depois de vermos o flashback de sua infância, assim como a cena no elevador, eu entendo o estado de espirito do personagem, mas lamento, afinal, ele foi a sua derroca. Quando se enxerga do outro lado do pilar já é tarde demais para Bucciarati, pois o poder do Stand de apagar e atravessar o tempo já havia sido ativado e o golpe, aparentemente fatal, seria inevitavelmente dado.

Como não se abalar e até mudar o tom de voz depois de presenciar tamanha bizarrice?

Não há como derrotar o tempo. Na verdade, o certo seria, “não há como interferir com o tempo se você não possui capacidades para tanto”. O Bucciarati não tem, ele só poderia esperar pelo golpe enquanto se jogava em um poço sem fim de desespero. Mas isso significa que ele morreu, que seu estado não será mais reversível?

Eu não acho que seja necessariamente isso, ao menos o Giorno não permitirá isso sem lutar e não seria bom para a trama que um de seus principais personagens – até aqui o verdadeiro protagonista, ao lado do Giorno, ainda que agora derrotado – saísse de cena agora. Vento Aureo precisa dele, ainda que seja o prólogo de sua derroca o que estamos vendo agora. Além disso, ele foi o único que vivenciou na pele o poder do chefe, a informação que ele tem sobre isso deve ser imprescindível para o que vai ocorrer a seguir; uma mudança de status na gangue.

Agora o time de Bucciarati tomará o lugar do esquadrão de assassinato como os traidores oficiais do chefe, pois, ainda que não concordem com todo o plano a maioria ali já expressou claramente que seguirá o capo até o inferno. Também por isso ele não verá o outro lado agora, porque Bruno é imprescindível para manter esse grupo unido e forte – não vejo o Giorno com moral suficiente para dar ordens a maioria deles ali, tirando o Mista que se apegou a ele.

A corte do Rei Carmesim não perdoa ninguém…

A exibição desse episódio não deixou a característica única do poder do Rei Carmesim clara, mas até onde eu sei ele pode ver de forma sobreposta cerca de 10 segundos do tempo a sua frente, o tempo que ele vê é apagado da história e assim ele pode usar essa informação para se preparar para atacar seu oponente, se esconder, fugir; entre outras coisas.

No caso do Bruno, o chefe ativou a habilidade do Stand e o permitiu vê-la em ação. Ele presenciou a remoção da causa – não vendo quando parou do outro lado do pilar, na posição que estava atacando anteriormente – e a manutenção do efeito – parando inevitavelmente naquela posição, a total mercê do King Crimson já que os dez segundos se mantinham em curso.

Sim, passaram-se mais de 10 segundos ali, mas é Jojo, não é como se o tempo fosse passar exatamente igual, além de que, pode-se dar uma licença poética a cena, interpretar que o tempo corre de maneira diferença após a ativação do poder do Stand ou só que – depois do efeito ter se acabado – ele estava tão em choque que foi incapaz de se mexer para escapar do golpe.

Ela dilacera o seu corpo e tenta despedaçar também a sua alma.

Claro, foi um golpe bastante similar ao que todo vilão vem desferindo em um dos heróis desde a parte três. O Araki adora certos padrões, e alguns ainda mais bizarros, como matar cachorros e fazer com que os Jojos das últimas partes pareçam coadjuvantes perto do trabalho de personagens feito com os Brojos deles.

Enfim, agora só nos resta aguardar pelo desfecho dessa situação inesperada e desesperadora e parabenizar o Araki, assim como a equipe de produção do anime, por ter entregue um momento que coroou a jornada até aqui e só aumentou ainda mais as expectativas para o que ainda está por vir. Eu espero por momentos ainda mais antológicos nessa parte cinco. Espero que seja o mesmo para você!

Haverá escapatória para a salvação dada a quem é tocado pelas palavras do Rei Carmesim?

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