Dr. Stone é o tipo de história que desperta o que a maioria das pessoas têm – ainda que esteja inerte – em si: o instinto de manutenção da civilização, que foi construída a duras penas por muitos séculos.

É fascinante a civilização começar a ser reconstruída praticamente do zero após uma petrificação em massa, mas não exatamente do zero, afinal, Senku, o protagonista genial, traz consigo conhecimento científico vasto, e vai usá-lo para pôr a raça humana de novo no topo do planeta. Você acompanhará essa jornada? A nova idade da pedra está para ser desbravada em frente aos nossos olhos. Vamos lá!

No início do episódio, somos apresentados a três personagens cruciais para essa história: Senku, Taiju e Yuzuriha. Três colegiais aparentemente normais, ou quase isso, já que a primeira aparição de Senku deixa claro que ele é um cientista.

Apesar de ser um estatístico muito exagerado, uma coisa que esse trecho inicial demonstra é a confiança que um tem no outro. Eles são melhores amigos, e serão Adão e Eva na nova civilização. É uma forma bem estranha de colocar as coisas, mas faz sentido. Não acha?

e a graciosidade em pessoa.

O que vem a seguir, no mesmo instante em que Taiju se declararia para Yuzuriha, é a petrificação em massa do planeta Terra, um evento envolto em mistério, mas, como bem exposto por Senku ao longo do episódio, nem por isso alheio a uma explicação científica.

Descobrir por que e como a petrificação, se foi um evento natural ou se alguém a causou, ocorreu é um dos objetivos de Senku após milênios, mas para isso ele sabe que precisará de companheiros e aparatos. E essa nova civilização, que nem é exatamente nova, deve responder esses questionamentos por meio da ciência.

Para tanto, a segunda metade do episódio se encarrega de mostrar os primeiros passos dos dois para alcançar os objetivos, com uns toques de exagero, é verdade, mas o desafio da ciência frente a fantasia quebra clichês, né?

Nem preciso citar a referência, né?

Pensa aqui comigo, eles estavam próximos no colégio quando Taiju foi fazer a declaração, então eles acabarem na mesma caverna 3.700 anos depois faz sentido, pelo menos se você desconsiderar tudo, exatamente tudo, de irregular que poderia levar os dois a se afastarem.

A suspensão de descrença ser necessária não é um problema, não quando a história tem seus pequenos detalhes um tanto quanto exagerados, mas, principalmente, porque os dois terem despertado tem a explicação científica que é de se esperar desse anime. Não é fantasia, um pouco, ou muito, de sorte sim, mas, é um preço baixo a se pagar para ter tudo de bom que a obra oferta, e tem muita coisa bacana.

Por exemplo, Senku se vale constantemente de frases que enaltecem ao mesmo tempo em que expõem a verdade do que é a ciência, um processo lento e trabalhoso, mas que não se acomoda perante ao desconhecido, traz à razão aquilo que não parece se prender a nenhuma e assim facilita a vida do homem e do mundo em que ele vive; ao menos em teoria.

Ciência não é milagre, está longe disso, não à toa se passa cerca de um ano até que Senku – com Taiju ajudando braçalmente nos últimos seis meses – consiga desfazer a petrificação em um ser vivo de maneira artificial. E todos os detalhes do processo não estarem claros é algo que cai justamente no que Senku falou. É contraditório, mas não invalida a ciência de maneira alguma.

A ciência é a busca das regras que determinam o desconhecido e, ainda que nem tudo possa ser explicado, categorizado, faça sentido de acordo com o conhecimento adquirido até o momento, é algo extremamente necessário, útil e até mesmo libertador.

Ignorância até pode ser a felicidade para alguns, mas não para um cientista e é por isso que Senku usará todo o seu conhecimento para fazer a humanidade se reerguer.

A ciência é a maior arma que a raça humana tem em suas mãos. Esse artigo e esse anime só chegaram até você por conta dela e não foi do dia para a noite, mas um processo tão lento e trabalhoso, que careceu de diversos avanços distintos em diversas épocas, que a torna tudo o que você a quiser atribuir, menos milagrosa.

Dr. Stone se aproveita justamente disso: do fascínio que a ciência desperta nas pessoas. E se trará originalmente de um mangá da demografia shonen, que sai nas páginas da Weekly Shonen Jump, então visa o público infantojuvenil, atiçando nele um interesse inusitado. Ao invés de histórias de lutas e romances bobos, o interesse nas múltiplas possibilidades a serem desbravadas pela ciência.

Seria esse o kabedon mais estranho da história dos animes?

Não é algo que está assim tão distante do toque, não mesmo. Como Hataraku Saibou fez ao aproximar o público da biologia por meio do corpo humano, Dr. Stone possui, como leitor do mangá creio que a obra seja satisfatória nesse sentido, o papel de levar conhecimento a pessoas que normalmente passariam suas vidas alheias a ele.

É uma tarefa árdua que pede mais do autor – no caso autores, já que o criativo Inagaki Riichiro escreve a história e o talentoso Boichi cuida da arte – que a mera exposição de conceitos científicos, mas a inteligência para colocá-los em prática de modo interessante. Nada melhor do que fazer isso quando a vida dos personagens depende disso, não é mesmo?

O anime vai pedir muito da emoção do público e, se mantiver o ritmo e a desenvoltura dessa estreia, acredito que se sairá bem-sucedido demais.

Tecnicamente foi uma ótima estreia e nem preciso dizer o quanto curti a história, né? O primeiro objetivo – obter o elixir da despetrificação – foi alcançado, e com 10 bilhões por cento de certeza novas conquistas ocorrerão a cada novo episódio. E digo é mais, também curti bastante os personagens.

Foi uma tremenda forçação de barra o Senku ter mantido a consciência contando os segundos, independentemente do quão genial ele possa ser, mas é justamente esse absurdo que dá forma a sua genialidade e obstinação. Só falta que ele seja falho, a ciência é uma constante tentativa e erro até se chegar ao sucesso, afinal, apesar de tão completo, né.

O Taiju é resistência e gentileza pura, um grandalhão bondoso capaz de não se entregar à insanidade devido ao amor que sente por uma garota. Falta a ele inteligência e duvido que ele mude ao longo da jornada, não é necessário, basta que ele se esforce junto do amigo em que confia e daquela que ama com todas as forças.

Por fim, temos a Yuzuriha. Não deu para conhecer muito dela, mas curti muito a interpretação da seiyuu, assim como seu jeitinho fofo, mas nem por isso chato. Quero vê-la ajudando os dois no que ela for capaz de fazer – duvida que ela também será impressionante de algum jeito? – e sendo uma Eva para a outra Eva; o Senku só pode ser o Adão, né; em algum momento da história.

E é só por hoje, mas não se preocupe, cobrirei Dr. Stone aqui no Anime21. A nova Idade da Pedra vai te cativar com todo o fascínio possibilitado pela ciência. Disso eu tenho 10 bilhões por cento de certeza!

E nós vamos acompanhar essa promissora aventura científica!

P.S.: Só eu que adorei a abertura? Espero que o encerramento seja bom também e que você curta os outros personagens que darão as caras nesse primeiro cour. Vou me calar para não soltar um spoiler. Até mais!

  1. Este primeiro episódio de Dr Stone já me convenceu a ver o anime até ao final.

    O episódio teve muitos momentos bons, mas tenho que destacar a referência à produção de bebidas destiladas na Mesopotâmia, até o alambique da época mostraram (ainda tem gente que diz que anime não educa). Isso e a forma como mostraram a produção de vinho, na antiguidade era comum deixar o vinho repousar em recipientes de barro, mais tarde e até aos dias de hoje o vinho descansa em barris de madeira (de carvalho de preferência). O vinho que o Senkuu e o Taiju produziram não ficou bom, porque as uvas que eles usaram não eram doces (quanto maior teor de açúcar da uva, melhor o resultado final). A parte do extracto de ácido úrico das fezes dos morcegos (guano) foi muito interessante.

    Passando à parte técnica e personagens, a parte técnica está bem melhor que o esperado, ainda assim para se manter o char design tão característico, alguma coisa vai ter que sofrer um downgrade. Os personagens são bem interessantes, em especial o Senkuu e o seu génio especial. O Taiju esse é um homem determinado, o esforço e determinação dele para se confessar para a sua amada são de louvar (se nem milhares de anos de petrificação o pararam, já nada o impede). A cena do kabedon foi um pouco estranha, mas nada demasiado fora do lugar.
    A última imagem tem a frase que consolidou o meu interesse no anime, ansioso pelos próximos episódios e respectivos artigos.

    Excelente artigo de primeiras impressões de Dr Stone Kakeru17.

  2. Fico feliz que tenha gostado. Achei a estreia bem divertida, mas também muito interessante. Espero ter melhores condições quando for escrever os próximos artigos (escrevi essas primeiras impressões praticamente sem internet), porque aí sim vou dar uma pesquisada sobre as curiosidades explorada pelo anime, acredite, serão muitas. O trabalho de pesquisa do autor é louvável, mas a produção do estúdio TMS não ficou atrás, então podemos sim esperar leite de pedra, ou quase isso, de Dr. Stone!

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