Onanie Master Kurosawa: After the Juvenile é uma história curta de dois capítulos que funciona como epílogo para o mangá publicado de forma amadora, mas que ganhou certa notoriedade na internet e uma edição em quatro volumes lançada posteriormente.

Fiz um pequeno texto de indicação do mangá que você pode conferir aqui e agora comentarei essas poucas, mas preciosas, páginas em que personagens que aprendi a gostar tanto compartilham os problemas entre si, escondendo um pouco também, e apreciam memórias de suas juventudes; que podem não durar, mas é justamente por isso que são tão importantes.

Katsura Ise continua a cargo da história e Takuma Yokota do traço (que consiste nessa imagem de capa do artigo). Na história é época de Golden Week e o protagonista, Kakeru Kurosawa, o ex-mestre da masturbação, sai em uma viagem com seus amigos do ginásio, os mesmos que ele magoou ou ajudou, mas, sendo um caso ou outro, inegavelmente se tornaram pessoas importantes para ele.

Tudo para reviver os momentos divertidos da viagem escolar de outrora, mas também para criar novas memórias e manter vivo o laço de amizade construído entre eles. O otaku Pizza-ta que sonha em ser animador, a antissocial Kitahara, o alegre Nagaoka e sua simpática namorada, Takigawa. Além, é claro, do protagonista “regenerado”.

After the Juvenile trabalha o melhor, e um tanto do pior, das relações na juventude, tem um certo tom de nostalgia por se tratar de uma situação revisitada do mangá original, mas é satisfatório em demonstrar que os personagens envelheceram, não necessariamente amadurecendo muito, e estão em constante mudança. Como é normal se estar na vida.

Para isso elementos novos são necessários e estes são muito bem abordados pela escrita de Ise, pois tem um toque realista que se aproxima mais intimamente do público alvo. Acredito que as pessoas se conectem mais facilmente com histórias mais “pé no chão” e é até por isso que o mangá fez tanto sucesso na internet, onde foi lançado primeiro.

Na breve trama há aqueles que trazem elementos novos, estes tendo a função de estremecer a relação do grupo de amigos, e há aqueles que reagem a essas possibilidades. No meio de tudo isso há Kakeru, que tem que lidar com a possibilidade de afastamento de Pizza-ta e Takigawa enquanto ele mesmo tem seus problemas com a namorada para ocupar a mente.

Se você faz parte de um ou já teve um grupo de amigos sabe que isso é muito comum, essa situação de pessoas seguirem suas vidas por caminhos que mais se afastam do que se aproximam, o que não é necessariamente um problema sem solução, mas certamente representa uma mudança significativa.

Uma ou outra pessoa do grupo vai sentir mais esse afastamento, seja o namorado de uma ou a própria pessoa que vai para longe e nutre sentimentos por quem fica, e isso é normal, todo grupo de amigos costuma ser um emaranhado de relações complexas e até mesmo tênues, já que a separação de um casal ou o desligamento de alguém pode bagunçar tudo.

É isso o que Kakeru teme e, ainda que de maneira bem desajeitada, ele tenta ajudar um pouco a sanar esses pontos de conflito, mas percebendo que há um limite para o que pode fazer, de resto só pode confiar que seus amigos farão escolhas acertadas.

Isso não significa que o grupo se manterá imutável por mais muito tempo, nem o contrário, mas a tendência é que tudo vá mudando gradativamente e naturalmente, algo que não se pode impedir, nem mudar depois de acontecido.

O importante é valorizar as memórias feitas, os laços construídos, os sentimentos que não precisam ser ditos em voz alta para serem reconhecidos como preciosos; e o protagonista percebe isso da maneira desajeitada dele, mas que é uma maneira honesta.

É um curto recorte da vida desses personagens em uma época um pouco à frente da retratada no mangá, mas que considero o suficiente para retratar suas vidas e seus amadurecimentos.

Por exemplo, a nada sutil Kitahara passa a considerar um pouco mais os sentimentos dos outros, Pizza-ta toma coragem para se abrir com quem ele gosta (ainda que não tenha feito uma declaração de amor) e o casalzinho que não briga brigou. Aliás, como em todo grupo de amigos que se preze, isso estremeceu a atmosfera entre eles.

E não só isso, o nosso herói aprendeu a lidar melhor com a relação com a namorada, Sugawa (uma personagem que adoro desde o final do mangá) em uma clara demonstração de amadurecimento.

Esse amadurecimento não precisa ser de uma vez, não tem como ser. Ocorre de forma inesperada, lenta, mas visível quando a pessoa é posta em uma situação adversa para a qual agiria de forma ruim, ou nem sequer saberia agir, antes. E é assim que a juventude transgride a meninice e dá boas-vindas a vida adulta.

Com sua dose de amargura e doçura, com sorte tendo os dois achando um equilíbrio.

É por isso que acho essa história tão bacana, porque ela tem muito o que dizer em pouco tempo, além de se tratarem de personagens dos quais já gosto, dos quais o leitor deve gostar, porque para se ler After the Juvenile é imprescindível que se tenha lido o mangá antes.

O único detalhe que estranhei foi a relação do Kakeru e da Sugawa não ter evoluído nada no sentido “carnal” da coisa em cinco meses, pelo menos considerando o quão pervertido o personagem era em grande parte do mangá.

Sei que no Japão a cultura do namoro é diferente do que é no Brasil e não necessariamente está ligada ao contato físico excessivo como ocorre aqui, mas poxa, cinco meses me parece muito tempo para dar as mãos. Será que ela tinha uma “barreira” com ele devido aos acontecimentos do passado?

Não sei e acho que nunca saberemos, mas tirando toda essa inocência do casal e um número de páginas pequeno demais, a escrita é muito boa, certamente se destaca pela habilidade que o autor tem de nos fazer reconhecer beleza, com sua dose proporcional de “feiura”, no que poderia muito bem ser a vida de quem lê.

Por fim, Onanie Master Kurosawa se prova uma leitura muito prazerosa e indicável apenas para quem leu o mangá, quem não leu vai ficar boiando. E você lê rapidinho, tem só pouco mais de vinte páginas.

Então, o que você está esperando (claro, caso ainda não tenha lido)?

Tenha essa boa memória você também!

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