The Girl From the Other Side, cujo título original em japonês é Totsukuni no Shoujo, o qual pode ser traduzido como A Garota do Outro Lado, é um OVA de nove minutos, apenas um suspiro e chamariz para o mangá em andamento de mesmo nome. Até o momento a obra conta com, pelo menos, cinco volumes, e quem tiver curiosidade pode comprá-lo aqui mesmo no Brasil, pois a editora Darkside está publicando a obra!

Falarei apenas do OVA, essa singela compilação introdutória dos protagonistas da obra.

 

 

O nome da jovem garota, de pouco mais de quatro anos, não é mencionado na animação, à qual, aliás, não possui fala verbal alguma, mas para melhor orientar a resenha, apresento a nossa carismática Shiva.

Com um lindo nome, ela passeia por uma delicada película que utiliza cores opacas em um tom pastel, com ênfase no maior contraste entre o branco e o preto, a inocência e a corrupção. A natureza abraça o espaço descampado como uma fortaleza e uma muralha, isolando, através das sombras e da ameaça, todas as criaturas frágeis que ali habitam ou vierem a cruzar à fronteira. Sobre que fronteira me refiro? Explico. O cenário é cindido em dois opostos. De um lado somos apresentados a vida, a organicidade que se transforma e a pungência da existência em seu fluxo, e em contraste a isso, temos a morte, a obscura maldição que infecta a vida e a suga, convertendo àqueles que pertencem ao mundo dos vivos, em seres sombrios e enigmáticos.

 

 

Shiva vive junto a um guardião, e por mais surreal e contraditório que isso possa parecer, esse ser com o qual compartilha o lar, é um dos habitantes do mundo sombrio. Não somos apresentados ao seu nome, mas percebemos que, por mais que ambos pertençam a mundos completamente opostos, eles possuem exatamente as mesmas coisas em comum. A humanidade, a gentileza, o amor e o afeto transbordam ante a interação de ambos, assim como um pai junto à sua filha.

 

 

Não conheço a história do mangá, por isso não sei quais as circunstâncias que levaram a essa situação ímpar onde ambos se encontram, mas ao que tudo indica, eles vivem muito próximos à fronteira desses dois mundos, ao mesmo tempo que isolados em um mundo outro, próprio e particular, que pertence a ambos. Os dois podem interagir sem receio com o mundo ao redor, mas não podem interagir diretamente um com o outro.

Por mais que estejam próximos e vivam juntos, eles não podem se tocar, sob a ameaça, ao que tudo indica, de que Shiva seria consumida pela escuridão, amaldiçoada e envenenada pela existência de seu guardião.

 

 

A menina explora os limites do território e fica face a face com outro habitante da fronteira, no caso, um habitante do lado sombrio, o qual, ao interagir com uma ave pertencente ao mundo dos vivos, a transmuta em um ser outro, como que sugando toda a essência e natureza que ela possuía, pra substituí-la por uma outra, desconhecida.

 

 

Essa muralha que separa um mundo do outro, quando cruzada, aparentemente tem por consequência a não reversão e a impossibilidade de se voltar ao que se era antes, e o pior, embora os seres que habitam o mundo dos vivos possam ser corrompidos, o mesmo não parece ser o caso para os seres do mundo sombrio, ou seja, se um habitante do mundo sombrio cruzar a fronteira e interagir com um que pertença ao mundo dos vivos, ele não será convertido em um habitante desse mundo. Entretanto, não sei ao certo se qualquer ser que habita o mundo sombrio tem por efeito amaldiçoar os habitantes do mundo dos vivos, ou se apenas figuras chaves, como a criatura que Shiva encontra junto à fronteira, possui esse poder.

 

 

É um OVA tocante, mesmo que seja tão breve e efêmero, ele nos conta um pouco da história e nos convida a acompanhar e o dia a dia de nossos protagonistas, que não poderiam ser mais cativantes. Temos um guardião zeloso, cuidadoso e diligente, que somente pode ser descrito como um pai, um pai no sentido pleno e positivo do termo, que ama incondicionalmente a sua filha, mesmo que ela não seja de fato a sua filha.

 

 

Aos seus cuidados temos Shiva, uma jovem curiosa, meiga e cheia de energia que atravessa suas ações pela descoberta entre os seus próprios sentimentos e sentidos perante as belezas do mundo. Os sabores e dessabores da grama, dos sonhos e dos livros. Educada e encantada pelo céu e pelas estrelas, aparenta estar em busca de algo, de alguém, mas não sabemos ao certo quem. Para desvendar esse mistério é necessário cruzar a fronteira de seu mundo, e no nosso caso, a fronteira das páginas desse belo mangá.

 

 

Como ponto final dessa jornada que aqui descrevo, convido todos a apreciar as belas cores e contornos da animação, seguindo os passos e os obstáculos superados por Shiva, ao som de uma harmoniosa trilha sonora que acompanha o reluzente céu que recobre os dois mundos, a tudo unindo em um único e reconfortante sentimento de melancolia e esperança.

Hyperlink que direciona ao vídeo onde desenvolvo mais algumas reflexões que esse incrível anime me inspirou.

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