Bokutachi wa Benkyou ga Dekinai é originalmente um mangá romcom super divertido lançado na Weekly Shonen Jump e que teve duas temporadas de anime em 2019, cada uma com treze episódios, muitos mal-entendidos, momentos fofos a rodo e uma predileção pelos estudos raramente vista nos animes. Sem mais delongas, é hora de Bokuben no Anime21!

Uma das coisas que mais gosto em Bokuben é que apesar de ser um harém, a forma como o protagonista, o Nariyuki, “conquista” as garotas faz bastante sentido. Além disso, tirando a amiga de infância que já gostava dele, a aproximação dos pares se dá por situações que em muitos casos reforçam a importância do tema dentro da trama.

Na história acompanhamos Fumino Furuhashi e Rizu Ogata, uma é superdotada na área de linguagens, a outra na área da matemática, as duas querem prestar vestibular para uma área diferente e com a qual não tem qualquer afinidade.

Fumino quer trabalhar no ramo da astronomia e Rizu quer ser psicóloga, mas para isso elas precisam fazer o ENEM (zoando, só aqui que precisariam fazer essa bagunça) e o Nariyuki Yuiga é chamado para ajudá-las. Conseguindo, tem passe VIP para a faculdade, uma oportunidade da vida para um estudante que é exemplo de esforço e responsabilidade, mas vem de família pobre.

Na onda vem a amiga de infância do protagonista, Uruka Takemoto (um prodígio das piscinas), para aprender inglês e um tempo depois a já formada no colegial e maid em meio-período, Asumi Kominami (candidata a medicina), acaba entrando para o grupo.

A sensei Mafuyu Kirisu já tem a vida resolvida, mas acaba sempre em várias situações cômicas e vergonhosas com o protagonista, ao mesmo tempo em que também o ajuda com seus problemas e é ajudada por ele, assim fechando o grupo principal. Um grupo bom, divertido e que praticamente só se reuniu no final, mas foi show o anime inteiro.

O harém do estudo.

Como são as primeiras a serem introduzidas, e é a dificuldade delas que serve de base para a trama, acho prudente começar os trabalhos pela Fumino e a Rizu. A primeira é uma matemática medíocre, mas sua evolução nesse aspecto não desempenha papel relevante na trama.

Isso já é bem diferente quanto a segunda, já que a compreensão das relações interpessoais e dos sentimentos é o grande obstáculo da Rizu, assim como o ponto central de todo o seu desenvolvimento. Nesse ponto é como se as duas fossem opostas e ao longo do anime essas são suas características a serem mais exploradas.

Fumino se presta a ser uma conselheira amorosa (na verdade, mais uma conselheira de bom senso) para o Nariyuki já que ele não tem experiência em lidar com garotas e a Rizu abre suas inseguranças para o garoto e ele a ajuda da melhor forma que consegue.

Aos poucos sendo capaz de despertar nela as mais diferentes expressões e a compreensão de situações as quais antes ela não notava. É com o apoio moral, o contato diário e a ajuda nos estudos que o Nariyuki vai aos poucos conquistando os corações das duas (com óbvios níveis de compreensão bem distintos sobre o assunto).

O que destaco na Fumino é que ela é uma personagem bem carismática, se envolve em algumas das melhores esquetes do anime (principalmente porque tem consciência dos sentimentos românticos desenvolvidos pelas demais) e o melhor arco da produção tem ela como personagem central.

Talvez o mais dramático, mas certamente o que mais aproximou uma heroína do protagonista. Aliás, o apoio que ele dá para aqueles incapazes de fazer algo serem capazes de fazê-lo é uma de suas qualidades. Nariyuki estende a mão aqueles com dificuldades, pois ele mesmo se vê como alguém incapaz, mas capaz de insistir e um dia conseguir o que quer.

Sobre a Rizu, talvez o arco de desenvolvimento dela seja o mais profundo e importante do anime, porque a narrativa pega a personagem pela mão e vai fazendo ela amadurecer com a variedade de situações as quais ela é exposta. Principalmente de teor romântico, verdade, mas também há situações que focam em seus laços de amizade e na insegurança gerada por suas limitações.

A garota muda visivelmente do começo para o fim do anime e essa também é uma forma, talvez a mais frequente e consistente, de ver como as ações do Nariyuki, e até das outras garotas, tiveram peso, influenciaram positivamente para o sucesso da trama.

Uma personagem que deixa o clima alto astral e alegra todo mundo é a Uruka, a amiga de infância que é apaixonada há muito pelo Nariyuki, não sabe falar “I love you” e é estabanada como poucas.

Suas tentativas de se aproximar do crush, ao mesmo tempo em que morre de medo de ele perceber seus sentimentos, proporcionam vários dos momentos cômicos na série, alguns mais significativos que outros, mas todos relevantes para ela e seus sentimentos.

Se você quer saber, ela é minha favorita, não só porque já gostava dele antes, mas porque é a amiga de infância (e elas quase nunca vencem) e tem a personalidade que mais curto das três, ou cinco.

O parágrafo seguinte contém spoilers mais cascudos, leia por sua conta e risco.

A Uruka acaba indo estudar e nadar no exterior no fim do anime e fica subentendido que ela foi a “escolhida” pelo Nariyuki no final original que causou descontentamento em muitos fãs, mas vou na contramão e escrevo que gostei dele.

Não gostei foi de não ter havido desenvolvimento de um ou outro ponto que ainda queria ver sendo explorado no anime (como um arco todo focado da sensei e uma percepção maior do Nariyuki sobre seus próprios sentimentos, a fim de justificar o final).

Mas, para ser sincero, não acho que o final foi completamente incompatível com o que o anime mostrou. Aliás, ele foi até bem bonito, além do romance.

A próxima é a Pixie Maid, Asumin, uma das personagens mais divertidas, despojadas e sinceras da obra. Foi um barato ver ela interagindo com o Nariyuki, as garotas e os funcionários do maid café, assim como divertiu o namoro que ela inventou para enganar o pai. Só mesmo no Japão para um pai achar ruim a filha querer medicina.

Enfim, a Asumin é muito legal e, apesar de não ter grande diferença de idade, acho que ela se contém quando poderia muito bem se deixar levar e acabar se apaixonando por seu kouhai, o qual, aliás, a ajuda das mais diversas maneiras e é uma vítima frequente de suas gozações. Maid melhor não há!

Não há muito o que comentar sobre o arco de personagem da garota, mas é certo que o incentivo e a mão amiga que o Nariyuki a oferece não só trabalha em favor de reforçar as qualidades do protagonista, como é uma boa forma de vender o discurso de que uma pessoa consegue se insistir, se esforçar.

Afinal de contas, ela já havia fracassado uma vez, mas o insucesso não a impediu de perseverar, ainda que a sociedade, o próprio pai, a dissesse que não conseguiria. Bokuben também pode ser encarada como uma história que passa a ideia de que pessoas, nesse caso principalmente mulheres, são capazes de contrariar positivamente o que se espera delas.

Escrever sobre a sensei é sempre um prazer porque ela é tão estabanada quanto a Uruka, se duvidar mais, mas de um jeito fofo já que a figura que tenta manter contrasta com o que é no íntimo. Ela é uma ex-patinadora no gelo que questiona o modo de viver do Nariyuki, apoiar aqueles que não conseguem fazer alguma coisa, porque fracassou em sua carreira.

É uma pena que esse plot seja infimamente explorado (há um arco dela que trata disso no mangá e que o anime não vai adaptar porque acabou) e só nos reste a parte deliciosamente divertida da sensei. Mas ela também ajuda de forma prática, até por criticar o modo de viver do jovem herói.

O lance é que por mais que a professora tenha papel relevante no processo de autoconhecimento do Nariyuki, ela mesma não é tão aprofundada, servindo mais como um alívio cômico para um anime já cômico demais.

Não acho que a personagem é exatamente mal-aproveitada, é só que o não aproveitamento das deixas dadas sobre seu arco dramático acabem por minar seu potencial como heroína. É uma pena.

Menos mal que a aproximação dela com o Nariyuki acaba mais na conta da comédia, ela e a Pixie Maid deixam o caminho livre para as outras três. Forçar algo além da amizade com uma professora não combinaria com a obra, cuja leveza e comédia ditam o ritmo dos trabalhos.

Aliás, cortaram a irmã dela do anime e essa talvez seja uma prova de como o fim já estava programado desde o princípio, mas se estava, por que a segunda temporada foi como foi?

A primeira temporada foi mais objetiva no sentido de apresentar os personagens, aprofundá-los e ligar suas tramas. A segunda deu lugar a muitas esquetes cômicas que pareciam pouco ligadas ao plot principal ou que mesmo quando interferiam nele não provocavam grandes avanços.

Menos mal que é nela que estão os melhores arcos, os arcos longos, mas eles são justamente os dois últimos. Antes disso o que se vê são situações divertidas, mas que não aproveitam tudo o que a história poderia oferecer, o que é um problema mais porque o anime acabou. Poderiam ter feito mais alterações a fim de adaptar arcos mais relevantes do mangá original.

Enfim, por último, mas não menos importante, o Nariyuki não foi um protagonista sem carisma algum, apesar de também não ter uma personalidade tão destacável. Sua gentileza e comprometimento com o dever a ele passado o tornam um personagem plano, mas nem por isso não suscetível a inquietações.

Ele reflete sobre as dificuldades que precisa enfrentar e o objetivo que tem, o de dar uma condição de vida melhor a família, já sem o falecido pai que tanto o inspirou a ser quem é. Nariyuki não é discurso de motivação vazio e seu trabalho duro e constante é recompensado com o apreço das garotas, a formação de seu harém e o sucesso no que almeja.

Aliás, um dos melhores momentos, talvez o melhor do anime, é quando ele percebe o que quer para sua vida, especificamente aquilo em que tem talento e no que investirá seus esforços.

Sua preocupação em priorizar o retorno financeiro a uma área de formação que o satisfizesse o prende e é o entendimento de que é possível conciliar os dois o momento em que todo seu desenvolvimento ao longo do anime é posto a prova.

E ele passa, mais uma vez, e com excelência, do jeitinho que eu esperava que ele passasse por essa provação. O Nariyuki é um cara tão legal que não consigo não amar de paixão o anime pelo final gratificante que ele teve.

Final do anime, afinal, no momento em que escrevo este artigo o mangá ainda não acabou, mas duvido que o destino do protagonista seja objetivamente diferente. A única coisa que pode mudar é com quem ele acaba…

Como estou super atrasado com o mangá não tenho como opinar, apenas pego um pouco de spoilers aqui e acolá, mas se há algo em que acredito é que o romance é o menos importante em Bokuben.

Não me importo tanto com quem ele vai namorar, ao menos não mais do que me importo em ver cada um desses personagens que aprendi a amar alcançando seus objetivos.

Vi isso com o final original do anime e com ele fiquei satisfeito (bastante nesse aspecto), apesar de não ter gostado tanto de como isso aconteceu. Antes do último episódio alguém cravava final fechado para o anime? Se disser que sim eu aposto que está mentindo, hein…

Por fim, se você gosta de romcom clichê com muita comédia, slice of life e um foco menos voltado para o romance (há um tema principal forte, ainda que nem sempre ele seja bem explorado, e objetivos que não dizem respeito ao romance) garanto que Bokuben tem tudo para agradá-lo(a).

São 26 episódios bem prazerosos de se assistir, com seus altos e baixos, mas mais altos que baixos e ainda com esses baixos o anime se faz valer a pena. É claro, se você não se importar com um pouco de besteirol muitàs vezes, que não faz mal a ninguém, assim como Bokuben.

Até a próxima!

Não queria ter que me formar em Bokuben, mas também sei que nunca, nunca é um adeus! ❤️

  1. Bokuben (e outras romcoms como Gotoubun e Takagi-san) não possui uma história tão elaborada como muitos animes por aí, nem é tão inovadora como Kaguya-sama e RikeKoi. Mas nem precisou. O anime possui muitos clichês presentes em muitas romcoms que eu já assisti, como Love Hina, Ichigo 100% e Net-juu no Susume, só para citar alguns exemplos. Podem dizer que era mais do mesmo, mas era isso que o povo (me incluo nisso) queria. Era aquele mais do mesmo que a gente adora e paga para ter. Provando que nem sempre é bom apostar no novo.

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